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segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

HOLLYWOOD


        A mais paulista das companhias teatrais cariocas está de volta na cidade para apresentar Hollywood, a última peça da Trilogia Mamet realizada por ela. Trata-se da Cia. Teatro Epigenia que já nos trouxe os memoráveis Olleana em 2015 e Race em 2017. Hollywood tem o mesmo grau de excelência dos espetáculos anteriores, todos eles dirigidos por Gustavo Paso.
        Ùltima a ser encenada pela companhia, Speed the Plow, título original (algo como “dê mais velocidade ao arado”) de Hollywood, foi a primeira escrita (1988) das três peças que compõem o projeto. O jogo de palavras, a qualidade dos diálogos e a dualidade das personagens características do dramaturgo americano aqui também estão presentes. Tony Miller e Daniel Fox são dois amigos/colegas que trabalham na indústria de entretenimento, ambos com ideias muito claras sobre o que produzir (no caso, filmes) com o objetivo de ser comercialmente bem sucedido (muito público e muitos dólares de retorno). Surge uma secretaria temporária, segundo eles, sem a menor importância, que com suas ideias abala as convicções comerciais de um deles convencendo-o a produzir um filme de arte com mensagens humanistas. Nessa reviravolta surge o embate entre os amigos. Contar mais seria estragar o prazer do final da peça. Só posso adiantar que, ao contrário de Olleana e Race, aqui, ao menos um personagem, não tem segundas por trás das más e oportunistas intenções.
        A encenação de Paso, adaptada ao palco do auditório do Sesc Pinheiros, consegue superar o pequeno tamanho do espaço. O cenário coberto de papel bolha, de autoria do diretor, nos leva a um escritório em obras com a ajuda da iluminação de Paulo Cesar Medeiros, que tem belo momento na cena do apartamento de Tony Miller. Paso sabe manter a qualidade e o fluxo dos diálogos do autor, conduzindo os atores para o melhor resultado dessas características.
        Rubens Caribé atende às características de Tony Miller, o produtor recém-promovido que é influenciado pela opinião da secretaria. Com seu habitual carisma o ator marca mais um gol  na sua bem sucedida carreira.
        Luciana Fávero empresta seu talento para compor Karen, a secretaria. Participação relativamente pequena, mas fundamental para o desenvolvimento da trama.
        Iuri Saraiva, um jovem de 33 anos, com a difícil tarefa de interpretar o estressado Daniel Fox, substituindo o excelente Gustavo Falcão (que o fez na temporada carioca) é uma verdadeira revelação fazendo a cena pulsar (e até desmoronar!!) com seus ataques histéricos, quando vê sua chance de ficar rico correr o risco de não se realizar.
        E viva o poder do dinheiro! Mamet ironiza e critica o mundo machista e material. Grande texto, solidamente traduzido cenicamente com elenco muito preparado, só pode resultar em bom teatro, daquele a que não se assiste todos os dias. Relembrando as palavras de Ferreira Gullar: “A arte tem de ter algo que me tira do chão e me deslumbra”.
       
        Hollywood fica em cartaz de 11/01 a 10/02 no de quinta a sábado às 20h30 no Sesc Pinheiros. Para quem não viu (ou quer rever) haverá três sessões de Olleana em 15, 16 e 17/02 e outras três de Race em 22, 23 e 24/02 nos mesmos horários.

O casal Luciana Fávero e Gustavo Paso, idealizadores da Cia. Teatro Epigenia

        Em tempo: A companhia tem intenções de se estabelecer em São Paulo. Será um grande ganho para os palcos paulistanos. Torcendo!


        13/01/2018

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