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quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

A DRAMATURGIA BRASILEIRA NOS PALCOS PAULISTANOS EM 2018


Palco e plateia/Ator e espectador: As únicas coisas de que o teatro não pode abrir mão - Foto de Letícia Godoy: Cia. Mungunzá no Teatro de Contêiner

                Conforme obtido nos guias de teatro no ano de 2018 estiveram em cartaz nos palcos paulistanos 550 títulos de autores brasileiros, número que pode ser conferido no banco de dados que alimento mensalmente desde 1990. O gráfico abaixo mostra a evolução do número de peças brasileiras apresentadas em São Paulo de 1990 a 2018.


        Pode-se notar no gráfico como a tendência de crescimento aumentou após 2002, ano em que entrou em vigor a Lei do Fomento (o primeiro edital é de junho de 2002). Nota-se também que apesar de se manter em nível elevado em relação à média de anos anteriores, o número de peças em 2018 teve significativa queda de 13% em relação a 2017 (de 633 para 550), o que pode ter sido ocasionado pelas incertezas que rondam as políticas para o teatro e para a cultura de maneira geral.

        Segundo amostras coletadas nos guias de teatro, porcentagens aproximadas indicam que a cena paulistana está assim dividida:
                Dramaturgia brasileira: 45%
                Dramaturgia estrangeira: 20%
                Stand Up: 15%
                Teatro Infantil: 20%
        Considerando o número preciso de 550 para dramaturgia brasileira e usando as porcentagens acima, podemos inferir que a cena paulistana teve cerca de 1220 espetáculos em cartaz no ano de 2018, sem levar em conta os trabalhos realizados nas ruas e na periferia da cidade que não constam dos guias consultados.

        Voltando à dramaturgia brasileira que é o objeto desta matéria, segue abaixo uma análise do que ocorreu em 2018.
        Os 550 títulos podem ser tanto estreias como reestreias de espetáculos vindos do ano anterior.

        Nelson Rodrigues continua sendo o autor mais montado, comparecendo em dez montagens, seguido por Plínio Marcos e Ronaldo Ciambroni cada um deles com sete espetáculos montados. É curioso notar que das sete montagens de peças de Plínio Marcos, quatro foram da clássica Navalha na Carne.
        O único autor que teve quatro títulos montados foi Rodolfo García Vázquez, sendo que dois deles tiveram Ivam Cabral como coautor.
        14 dramaturgos tiveram três montagens de seus trabalhos. São eles: Alamo Facó, Alexandre Dal Farra, Aziz Bajur, Carol Rainatto, Hugo Possolo, Julia Spadaccini, Marcelino Freire, Márcio Azevedo, Mário Bortolotto, Paula Giannini, Pedro Fabrini, Regiana Antonini, Sérgio Roveri e Viviane Dias.
        51 dramaturgos compareceram com duas montagens.
        37 espetáculos aparecem como criação coletiva (33) ou processo colaborativo (4). Estas classificações são passíveis de crítica porque nunca aparecem de maneira explícita na ficha técnica.
        345 autores tiveram um espetáculo montado. Muitos nomes desconhecidos aparecem nesta lista e lamentavelmente é muito difícil que eles voltem a comparecer no futuro.
        É sempre estimulante ver a presença de Gianfrancesco Guarnieri (Eles Não Usam Black Tie), Jorge Andrade (A Escada), Raimundo Magalhães Júnior ( A Canção Dentro do Pão), Martins Pena (O Diletante e O Usurário), e até Machado de Assis (Memórias Póstumas de Brás Cubas e O Espelho) e Guimarães Rosa (O Espelho).
        Louve-se a realização da IV Mostra de Dramaturgia em Pequenos Formatos do CCSP que entre outros tantos méritos este ano revelou o autor Jhonny Salaberg (Buraquinhos ou O Vento É Inimigo do Picumã).
        A qualidade da dramaturgia brasileira marcou presença com o já citado Buraquinhos e O Desmonte (Amarildo Felix), Pequena Ladainha 1 e 2 (Chico Carvalho), Michel III – Uma Farsa à Brasileira (Fabio Brandi Torres), Pousada Refúgio (Leonardo Cortez), Homem ao Vento (Marcos Damaceno) e Aproximando-se de A Fera na Selva (Marina Corazza).

        A maioria dos textos foi criada isoladamente pelo(s) autor(es) (495) ou foram adaptações assinadas pelo adaptador (18). Houve 33 criações coletivas e 4 processos colaborativos. Em 78 casos a obra contou com coautor.

        Em 278 trabalhos o autor exerceu outras funções como ator e/ou diretor.

        Foram 321 dramas, 116 comédias, 40 musicais e 73 que se classificam como comédia dramática, tragicomédia, comédia romântica e outras invencionices como “teatro coreográfico”, “happening gay”, “humor sombrio”, “transcendental”.

        Quanto ao número de atores houve 103 monólogos, 89 espetáculos com dois atores e 358 com três ou mais atores.

        Apenas 73 espetáculos explicitaram a ligação com um grupo/companhia.

        A cena paulistana apresentou em 2018 a média de 46 novos títulos de autores brasileiros por mês, mas o total em cartaz se manteve constante, assim se pode concluir que em média 46 títulos deixaram o cartaz a cada mês, o que significa alta rotatividade e pouco tempo de permanência em cartaz, inibindo a possibilidade de haver um dos mais eficientes meios de divulgação de um espetáculo que é o “boca a boca”.

        2019 começa com perspectivas tenebrosas para a cultura e para a liberdade de expressão, mas tenho certeza que o nosso teatro sobreviverá. As estreias de vários espetáculos já estão sendo anunciadas e pelo menos já estão confirmadas a MITsp e a Mostra de Dramaturgia em Pequenos Formatos do CCSP.

        Muita água vai passar debaixo do rio e nós estaremos na plateia de algum templo da utopia e da esperança aplaudindo o trabalho dos corajosos homens e mulheres que fazem do teatro sua bandeira de resistência e de luta.

        VIVA O TEATRO!

        02/01/2019




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