O
filão de tramas que envolvem encontro de casais ou famílias e que depois de
alguns estímulos (etílicos ou não) tiram a máscara social e começam a destilar
verdades com requintes de crueldade, creio que foi inaugurado na década de 1960
com A Volta ao Lar de Harold Pinter
e, principalmente, Quem Tem Medo de
Virginia Woolf de Edward Albee. O sucesso dessas peças gerou várias outras
nas dramaturgias inglesa e norte americana das quais se pode citar algumas que
chegaram até os palcos brasileiros: Closer
(Patrick Marber), Jantar Entre Amigos
(Donald Margulies), Deus da Carnificina
(da francesa Yasmina Reza).
Dan
Rosseto retoma o filão em Nunca Fomos Tão
Felizes colocando dois casais em cena que após início de conversa cordial iniciam
combate verbal e até físico. A novidade é a presença do irmão do protagonista
que sofre de síndrome de Tourette (bela composição do ator Luccas Papp, que
emociona na última cena da peça).
A
direção de Rosseto conduz a narrativa pontuando-a com belíssima trilha sonora
que inclui Nina Simone, Billie Holiday e muitas canções de Cole Porter. Essa
trilha formidável por vezes atrapalha os diálogos uma vez que todo sonoplasta
sabe que não é bom mesclar músicas cantadas com a fala dos atores, sob o risco
do espectador ficar dividido em prestar atenção na fala ou na voz do cantor. Um
reparo à interessante cenografia de Luiza Curvo formada de malas que assumem
várias funções: em 1962, época em que se situa a ação, os gramofones já eram
peça de museu e nunca puderam reproduzir LPs que eram a mídia da época.
É
bom e oportuno o irônico título que Rosseto escolheu para sua peça. Ele já foi
usado por Murilo Salles em 1984 em triste e nada feliz filme sobre a relação de
filho e pai na época da ditadura brasileira. Aqui também essas cinco figuras
podem ser tudo, menos felizes.
Os
figurinos de Kleber Montanheiro reproduzem a contento a época em que se passa a
peça, haja vista o “modelito” usado pela personagem Simone.
Não
há como não destacar a forte interpretação de Nicole Cordery que leva a plateia
quase ao delírio. Ela personifica Simone, uma mulher de meia idade que se
mostra segura de si, cruel e individualista, mas que ao longo da trama vai
desmoronando e, literalmente, se desnudando dessa máscara. O melhor elogio para
este trabalho é que se Cacilda Becker fosse interpretá-lo, ela faria
exatamente como Nicole o faz.
Noite
de estreia é sempre complicada: não senti firmeza, nem um “à vontade” na interpretação
de Mateus Monteiro que sempre se revelou excelente ator em outros trabalhos,
mas creio que isso possa se resolver durante a temporada.
Completam
o elenco Larissa Ferrara e Eduardo Martini, este em papel bastante diverso
daqueles que tem interpretado em comédias.
NUNCA
FOMOS TÃO FELIZES está em cartaz no Teatro Itália até 17/03. Sextas e sábados
21h e domingos 18h.
19/01/2019
Acompanhei a divulgação da estreia pelo facebook do velho amigo Eduardo Martini e fiquei muito feliz com a sua crítica. Vida longa ao espetáculo!
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