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segunda-feira, 7 de outubro de 2019

SÍSIFO

 
 


        Vinicius Calderoni tem facilidade enorme para falar das coisas corriqueiras de maneira original e criativa”, essa é uma frase que abre um dos parágrafos do texto que escrevi por ocasião da estreia de Os Arqueólogos em 2016 e ela é válida para esse instigante Sísifo que ele escreveu em parceria com Gregório Duvivier. Cerca de sessenta pequenos textos preenchem a hora e meia da encenação onde um incansável ator sobe e desce uma rampa à maneira repetitiva do mitológico Sísifo que, segundo a lenda,  carrega pedras montanha acima por toda a eternidade. Gregório Duvivier consegue dar nuances interpretativas (voz e gestos) para ações que se repetem inúmeras vezes não caindo em momento algum na monotonia e mantendo o espectador atento o tempo todo.
        Contribuem para a dinâmica do espetáculo a rampa criada pelo cenógrafo André Cortez, a iluminação de Wagner Antonio e a excelente direção de movimento de Fabrício Licursi. Como figurino, Fause Haten criou um confortável agasalho para que o ator possa correr a vontade no espaço e dê seus inúmeros saltos no “vazio”. Fundamental também a participação do contrarregra que movimenta a rampa, cujo nome não consegui identificar no programa.    
        Como são pequenas histórias, umas podem ser mais interessantes do que as outras sendo que isso também depende do espírito do espectador no momento. A metáfora para o Brasil de hoje representada por um tombo bem tumultuado é brilhante e a conversa entre o ator e a sacola de lixo é uma pequena obra prima mostrando de forma contundente a efemeridade do homem diante da eternidade da sacola. Esses tristes tempos do triunfo da tecnologia sobre o homem são bem demonstrados pelo acúmulo de sacolas de lixo em cena e podem ser resumidos parafraseando Bertolt Brecht: “desta humanidade nada restará, a não ser o lixo que por ela gerada”.
        Sísifo é uma peça muito sutil e inteligente, diverte e faz pensar, atinge várias camadas de público, além de comprovar o imenso talento de seus realizadores.
        Um pequeno senão: Nos quinze minutos finais, por várias vezes, parece que a peça chegou ao fim... Mas ela continua, criando uma perda de expectativa para o final verdadeiro.

        SÍSIFO está em cartaz no SESC Santana até 20/10 às sextas e sábados às 21h e aos domingos ás 18h. Haverá uma sessão extra no dia 10/10 (quinta feira). NÃO DEIXE DE VER
 

        07/10/2019

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