“Vinicius Calderoni tem facilidade enorme
para falar das coisas corriqueiras de maneira original e criativa”, essa é
uma frase que abre um dos parágrafos do texto que escrevi por ocasião da
estreia de Os Arqueólogos em 2016 e
ela é válida para esse instigante Sísifo
que ele escreveu em parceria com Gregório Duvivier. Cerca de sessenta pequenos
textos preenchem a hora e meia da encenação onde um incansável ator sobe e
desce uma rampa à maneira repetitiva do mitológico Sísifo que, segundo a lenda,
carrega pedras montanha acima por toda a
eternidade. Gregório Duvivier consegue dar nuances interpretativas (voz e
gestos) para ações que se repetem inúmeras vezes não caindo em momento algum na
monotonia e mantendo o espectador atento o tempo todo.
Contribuem
para a dinâmica do espetáculo a rampa criada pelo cenógrafo André Cortez, a
iluminação de Wagner Antonio e a excelente direção de movimento de Fabrício
Licursi. Como figurino, Fause Haten criou um confortável agasalho para que o
ator possa correr a vontade no espaço e dê seus inúmeros saltos no “vazio”.
Fundamental também a participação do contrarregra que movimenta a rampa, cujo
nome não consegui identificar no programa.
Como
são pequenas histórias, umas podem ser mais interessantes do que as outras sendo
que isso também depende do espírito do espectador no momento. A metáfora para o
Brasil de hoje representada por um tombo bem tumultuado é brilhante e a
conversa entre o ator e a sacola de lixo é uma pequena obra prima mostrando de
forma contundente a efemeridade do homem diante da eternidade da sacola. Esses
tristes tempos do triunfo da tecnologia sobre o homem são bem demonstrados pelo
acúmulo de sacolas de lixo em cena e podem ser resumidos parafraseando Bertolt Brecht:
“desta humanidade nada restará, a não ser o lixo que por ela gerada”.
Sísifo é uma peça muito sutil e inteligente,
diverte e faz pensar, atinge várias camadas de público, além de comprovar o
imenso talento de seus realizadores.
Um
pequeno senão: Nos quinze minutos finais, por várias vezes, parece que a peça
chegou ao fim... Mas ela continua, criando uma perda de expectativa para o
final verdadeiro.
SÍSIFO
está em cartaz no SESC Santana até 20/10 às sextas e sábados às 21h e aos
domingos ás 18h. Haverá uma sessão extra no dia 10/10 (quinta feira). NÃO DEIXE
DE VER
07/10/2019
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