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sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

A DRAMATURGIA BRASILEIRA NOS PALCOS PAULISTANOS EM 2019


 
        Em levantamento mensal realizado com dados do Guia de Teatro, cheguei à seguinte distribuição (média) para os espetáculos realizados nos palcos da cidade em 2019:
        - Dramaturgia brasileira: 49%
        - Dramaturgia estrangeira: 16%
        - Stand up: 8%
        - Teatro infantil: 27%

        Considerando apenas o teatro adulto, a distribuição seria:
        - Dramaturgia nacional: 75%
        - Dramaturgia estrangeira: 25%

        O levantamento nos guias de teatro de São Paulo (Guia OFF, Guia de Teatro, Boca a Boca, Guia de A Folha de S. Paulo e Guia de O Estado de S. Paulo) revelou a presença de 511 títulos de autores brasileiros, donde podemos concluir que a cidade abrigou cerca de 1040 espetáculos teatrais, assim distribuídos:
        - Dramaturgia brasileira: 511
        - Dramaturgia estrangeira: ~170
        - Stand up: ~ 80
        - Teatro infantil: ~ 280

        Apesar do cerceamento feito à cultura por meio de censura, cortes de patrocínio e cancelamento de editais, o teatro resistiu bravamente colocando de pé mais de mil produções. Apesar de você, Seu Rêgo, nós estamos aí e vamos resistir!  

        Voltando à dramaturgia brasileira que é o objeto desta matéria, segue abaixo uma análise do que ocorreu em 2019. Os 511 títulos podem ser tanto estreias como reestreias de espetáculos vindos de 2018.
 
        A distribuição se mostrou bastante diversa de anos anteriores. Plínio Marcos liderou a lista com sete espetáculos de sua autoria.

 
        Nelson Rodrigues perdeu o primeiro posto comparecendo “apenas” com quatro montagens, empatado com Aimar Labaki, Ronaldo Ciambroni e Walcyr Carrasco.
        14 dramaturgos tiveram três montagens de seus trabalhos. São eles: Caio Fernando Abreu, Lucas Papp, Marcelo Marcus Fonseca, Márcio Marciano, Martins Pena, Muriel Vitória, Natan Bandeira, Newton Moreno, Paula Giannini, Pedro Brício, Pedro Cardoso, Rudinei Borges, Sérgio Roveri e Victor Nóvoa. Como se pode notar nomes bastante famosos misturam-se a outros pouco conhecidos.
        Com duas montagens temos a presença de 38 dramaturgos.
        24 espetáculos são definidos como criação coletiva/diversos autores e apenas três como processo colaborativo. Essas classificações são passíveis de crítica porque nunca aparecem de maneira explícita na ficha técnica.
        349 autores tiveram um espetáculo montado. Dramaturgos consolidados como Kiko Marques, Silvia Gomez e Alexandre Dal Farra aparecem junto com muitos nomes desconhecidos que lamentavelmente é bem provável que não voltem a comparecer em listas futuras.

        A V Mostra de Dramaturgia em Pequenos Formatos do CCSP continuou sendo importante veículo para a difusão da nossa dramaturgia.

        Numa seleção puramente pessoal, destaco aqueles títulos e autores que mais contribuíram para o enriquecimento da dramaturgia brasileira: Biagio Pecorelli (Res Pública 2023), Eloisa Elena (Entre), Kiko Marques (Casa Submersa), Newton Moreno (As Cangaceiras Guerreiras do Sertão), René Piazentin (A Neve), Silvia Gomez (Neste Mundo Louco, Nesta Noite Brilhante).

        A maioria dos textos foi criada isoladamente pelo(s) autor(es) (470) ou foram adaptações assinadas pelo adaptador (17). Houve 24 criações coletivas e três processos colaborativos. Em 64 casos a obra contou com co-autor.

        Em 284 espetáculos o autor exerceu outras funções como ator e/ou diretor.

        Mais uma vez os dramas (289) prevaleceram sobre as comédias (96). Houve considerável número de musicais brasileiros (59) e 67 títulos que se definem como religioso, teatro coreográfico, teatro imersivo e outras invencionices.
      
        Quanto ao tamanho do elenco houve 112 monólogos, 82 montagens com dois atores e 317 com três ou mais atores.

        Apenas 77 espetáculos explicitaram a ligação com um grupo/companhia.

        2020 começa com as mesmas perspectivas sombrias que rondaram o ano que está acabando e mesmo assim sobrevivemos! Nossos esteios continuarão sendo o SESC, o Itaú Cultural, o CCSP e a Secretaria Municipal de Cultura (enquanto perdurar a atual administração). Com o CCBB, a Caixa Cultural e a Funarte pouco se poderá contar e mesmo com o SESI que parece estar acenando para o Seu Rêgo.

        Já há vários espetáculos anunciados para o início do ano e estão confirmados pelo menos três importantes eventos: a MITsp, a Mostra de Dramaturgia em Pequenos Formatos do CCSP e o Mirada – Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas.

        Termino esta matéria repetindo a frase com a qual encerrei a matéria do ano passado:

        Muita água vai passar debaixo da ponte em 2020 e nós, espectadores, estaremos na plateia de algum templo da utopia e da esperança apreciando e aplaudindo o trabalho dos corajosos artistas que fazem do teatro a sua bandeira de resistência e de luta.

O TEATRO NOS UNE

O TEATRO NOS TORNA FORTE

VIVA O TEATRO! 

         29/12/2019

2 comentários:

  1. É uma pena que as comédias são sempre julgadas como uma "arte menor". Nem sequer São assistidas a não ser que tenha um ator muito famoso no elenco. Sei que existem comédias "caça niqueis" que são verdadeiras porcarias mas rejeitado totalmente esse estilo é muito cruel. Nem só de "peças cabeca" vive o mercado do entretenimento. Nossa comédia "Até que a Morte nos Separe", sequer foi vista pela crítica apesar de ficar quase um ano em cartaz. Enfim, o momento mercadológico só abraça obras com engajamento político. Chegamos a apresentar nossa peça para um Sesc que julgou nossa peça "muito leve". Pediram para pesar a mão na parte que falávamos de sexo na melhor idade para talvez sermos aprovados à uma possível captação. O que optamos por não fazer já que tratava-se de uma comédia romântica. Enfim, apenas uma constatação. Obrigada.

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  2. Cetra,navegando neste mar do Facebook,me deparei hoje com esta matéria. Ah.... feliz de estar ai e de seguir com o ENTRE. Obrigada pelo seu olhar devoto, atento, necessário ao teatro. E que venha 2022, com muitos outros textos ganhando palcos.

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