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segunda-feira, 30 de março de 2020

HAIR – 1969


 

MEMÓRIAS DO TEATRO PAULISTANO
 
 

       Em 1968 o musical Hair estourou na Broadway e no mundo. Chegou por aqui em 1969 trazido por Altair Lima (1936-2002). Estreou no belo Teatro Bela Vista (em cujo terreno hoje está o Teatro Sérgio Cardoso). Dirigida pelo saudoso Ademar Guerra (1933-1993) e com elenco que na estreia contava com, entre outros, Aracy Balabanian (1940), Altair Lima, Armando Bógus (1930-1993), Helena Ignez (1942) (jamais vou esquecer a sua composição como Jeannie, a doce hippie grávida), Ricardo Petraglia (1950), Sonia Braga (1950) (uma quase iniciante), Antonio Pitanga (1939), Neusa Borges (1941). Ao longo de muitas temporadas, outros futuros famosos como Antonio Fagundes (1949) e Ney Latorraca (1944) fizeram parte do elenco. Como se pode  notar todos muito jovens com idades variando entre 35 e 20 anos.
 
Ricardo Petraglia e Helena Ignez
 
        O sucesso foi tamanho que o ator e também produtor Altair Lima adquiriu um teatro na esquina da Rua Ruy Barbosa com a Rua Conselheiro Carrão para o qual a peça posteriormente se mudou. Batizado de Teatro Aquarius, ali Hair brilhou por muito tempo sempre com muito sucesso. Era um teatro bonito e espaçoso em estilo art deco localizado no coração do Bixiga.

        Em 1972 Altair Lima produziu e dirigiu Jesus Cristo Superstar, outro musical de muito sucesso no mundo todo, mas que aqui não fez o sucesso esperado e Altair acabou perdendo o teatro. Em outras mãos o espaço mudou o nome para Teatro Olympia, depois Teatro Záccaro e hoje está fechado e abandonado. Coisas do descaso com que a nossa pobre cultura é tratada.
 
O antigo Teatro Aquarius hoje

            Sem contar nosso passado glorioso com o teatro de revistas, os primórdios do teatro musical tal como ele se apresenta hoje é em grande parte mérito de Altair Lima, que soube avaliar o grande potencial comercial e, porque não, artístico desse tipo de espetáculo. 52 anos nos separam daquela estreia no Teatro Bela Vista e hoje sabemos como o teatro musical evoluiu no país, tanto nas produções em si, como no preparo dos elencos, que hoje interpretam, cantam e dançam com muito talento e desenvoltura.


       30/03/2020

domingo, 29 de março de 2020

A ERA DE AQUÁRIO


 
 

When the moon is in the Seventh House
And Jupiter aligns with Mars
Then peace will guide the planets
And love will steer the stars

This is the dawning of the Age of Aquarius
The Age of Aquarius
Aquarius! Aquarius!

Harmony and understanding
Sympathy and trust abounding
No more falsehoods or derisions
Golden living dreams of visions
Mystic crystal revelation
And the mind's true liberation
Aquarius!
Aquarius! 

        Em 1968 Gerome Ragni, James Rado e Galt MacDermot estreavam Hair na Broadway. A peça foi o fenômeno que todos conhecem e chegou ao Brasil em 1969 pelas mãos de Altair Lima; mas aqui quero chamar a atenção para a letra de uma das canções do musical. Trata-se de Aquarius, reproduzida acima, que procurava antever como seria a era que iria acontecer no novo milênio, uma era onde a paz iria guiar os planetas e o amor comandaria as estrelas. Para alguns astrólogos essa era realmente começou em 2001 e as previsões eram realmente de muita união no mundo, muito amor, solidariedade e paz.

       Já em 2001 fomos bombardeados com a destruição das Torres Gêmeas em Nova York e seguiram-se as terríveis notícias com as guerras no Oriente Médio, a situação dos imigrantes fugindo de terras devastadas e a ampliação dos movimentos conservadores em todo o planeta. No Brasil fomos “contemplados” com a eleição desse ser abjeto que está no poder desde janeiro de 2019. Para coroar os infortúnios o mundo está sendo vítima desse inimigo invisível que está ceifando vidas por toda a parte, da mesma maneira que a gripe espanhola ocorrida há exatos cem anos.

       Há uma corrente que advoga que ainda estamos na Era de Peixes e que a Era de Aquário ainda não começou. Pode ser. E talvez quando isso ocorrer os que virão depois de nós vão dar razão para a letra da música e para as previsões otimistas dos astrólogos.

       Enquanto isso só nos resta ter esperanças de que com ou sem Era de Aquário nós nos safemos tão logo quanto possível do vírus que está no ar e do verme que está na presidência e que nos tornemos melhores como seres humanos depois dessas nefastas experiências.

       29/03/2020

 

 

segunda-feira, 16 de março de 2020

MITsp 2020 – BALANÇO


 

        A MITsp acabou ontem, dia 15 de março de 2020, truncada em parte pela pandemia do corona vírus, O eixo MOSTRA DE ESPETÁCULOS teve um espetáculo cancelado (SOPRO) devido ao fechamento do teatro do SESI e foram poucos os cancelamentos nos outros eixos. A Mostra terminou na hora certa, pois a partir de 16 de março praticamente todos os teatros da cidade estão fechados. Tristes tempos!
        Dos 13 espetáculos internacionais programados na MOSTRA DE ESPETÁCULOS foram realizados 12, dos quais assisti a dez. Não tive condições de acompanhar a MITbr, nem as ações pedagógicas, assim como os espetáculos da simpática Faroffa (muitos deles eu já havia visto). Segue abaixo na ordem de minha preferência um balanço do que vi, seguido em itálico do que escrevi quando assisti aos espetáculos: 

1.   CASA MÃE - Insuperável primeiro lugar, talvez o maior impacto teatral do ano. Poderosa metáfora da ascensão e queda de nossa civilização ocidental.
 

        Não se irrite, nem queira abandonar a sala nos primeiros quarenta minutos de Casa Mãe. VOCÊ NÃO PERDE POR ESPERAR. Todo o preparativo tem razão de ser na performance da poderosa artista francesa Phia Ménard. O terço final é uma das coisas mais impactantes (pelo conteúdo) e arrebatadoras (pela forma) a que eu assisti em toda minha longa vida de espectador tanto de teatro como de cinema. Não escrevo sobre ele, nem coloco fotos para não estragar o seu impacto e o seu arrebatamento.

2.   JERK (BABACA) – Desagradável, sim! Não poderia ser diferente devido ao tema tratado, mas que concepção e que interpretação de Jonathan Capdeviellle.

        No melhor dos sentidos, trata-se de um espetáculo “doente” onde por meio de fantoches (figuras normalmente ligadas ao inocente mundo infantil) conta-se história escabrosa sobre violações, torturas e execuções de garotos executadas por um serial killer (Dean Corll), auxiliado por dois adolescentes, um deles sendo a personagem que nos narra os fatos. O mais terrível é que muitas das vítimas vão para o cadafalso sabendo o que os espera com um misto de curiosidade e de “tesão”.
        O ator/ventríloquo Jonathan Capdevielle encarrega-se da difícil função de dar vida a essas personagens asquerosas e o faz com imenso talento. Espetáculo barra pesada do qual saímos com um gosto amargo na boca. Texto de Dennis Cooper baseado em história real com direção de Gisèle Vienne que também assina a encenação que abriu o evento (Multidão

3.   FARM FATALE – Bela fábula sobre o fim dos tempos.

        Os espantalhos foram criados pelos homens para espantar corvos e outros pássaros das plantações. Mas não há mais homens, nem pássaros. Restou para eles ouvir com melancolia as gravações dos cantos (ou falas?) das aves e sentir saudades de um mundo que acabou. Tudo ali é inóspito como um fardo de feno.
        Tudo? Não. Parece que há uma única abelha que é brindada com uma performance de Stand By Me e muitos ovos luminosos. Sinais de vida que parecem sofrer ameaças que vêm da vizinhança.
        Farm Fatale é uma potente fábula apocalíptica que encerra de forma espero que não profética esta MITsp, manchada pela presença dessa pandemia do corona vírus.
        Resta dizer que o espetáculo da Müncher Kammerspiel concebido e dirigido por Philippe Quesne é primoroso no que diz respeito ao figurino, máscara e vocalização dos atores, além é claro do importante tema tratado.

4.   BY HEART – Simpático e poético trabalho capitaneado pelo carismático encenador português Tiago Rodrigues.

        Aprendemos desde crianças que decorar é uma coisa chata: decorar um ponto de história, a tabela periódica dos elementos, as leis da Física, a demonstração de um teorema ou ainda um texto teatral. Tiago Rodrigues, ator, diretor e dramaturgo português, artista em foco da 7ª MITsp, resgata o significado do verbo decorar no que ele tem de mais belo e poético: guardar na memória “de coração”, com toda emoção e poesia que esse órgão representa. Como em nossa língua “saber de cor”, virou sinônimo de coisa obrigatória e chata, o autor optou por colocar o título em inglês.
        Tiago Rodrigues usa o recurso de convidar dez pessoas do público para decorar trechos de um soneto de Shakespeare e durante a apresentação cita vários autores e sua relação com a avó Cãndida que era uma leitora contumaz. A tese da peça é que o que guardamos na memória ninguém poderá tirar: “Esses filhos da puta não vão arrancar o que trago dentro de mim!”, essa é, aproximadamente, a frase que Tiago repete em certo momento da peça. E para que a memória se perpetue é necessário compartilhá-la com o maior número de pessoas.
        Extremamente simpático e carismático Tiago Rodrigues conquista seus dez convidados e todo o público presente oferecendo um trabalho cheio de poesia e de humanidade, verdadeiro antídoto para o primeiro espetáculo da noite (Jerk).

5.   MULTIDÃO – O mais surpreendente deste espetáculo foi a coreografia quase toda concebida para gestos muito lentos, congelamento de gestos, tudo perfeitamente sincronizado.

        O espetáculo da abertura foi MULTIDÃO da artista franco-austríaca Gisèle Vienne. Hipnótico, apesar de um pouco longo, inicia com uma figura adentrando o palco, lembrando o homem pisando na lua. Os outros elementos entram em seguida com gestos lentíssimos como se fosse um filme em câmara lenta. Ao som de ritmos de dance music o grupo representa “o sagrado e o profano” de uma festa techno. Louve-se a difícil coreografia quase toda baseada nesses gestos lentos que o elenco realiza de maneira precisa e sincronizada. O chão coberto de terra e certos movimentos coletivos me remeteram também a A Sagração da Primavera na versão de Pina Bausch.

6.   SÁBADO DESCONTRAÍDO – Espetáculo bastante simples na forma com forte conteúdo social e trilha sonora inusitada executada ao vivo.

        Título que soa irônico pelo tema triste e grave tratado pela atriz Dorothée Munyaneza, nascida em Ruanda e sobrevivente do massacre ocorrido em seu país durante a guerra civil em 1994. O título remete a um programa de rádio onde ela ouvia belas canções francesas e norte americanas, uma das últimas lembranças boas que ela traz daqueles tempos tenebrosos. Dorothée é uma atriz potente e é bem acompanhada por Nadia Beugré que em expressivas evoluções corporais ilustra o relato e por Kamal Hamadache que cria a inusitada trilha sonora em cena. Ao final, em tom desafiador é perguntado ao público “Onde você estava no dia 09 de abril de 1994?” e todos saem do teatro refletindo porque quem é que já não teve o seu “dia 09 de abril de 1994”? 

7.   TENHA CUIDADO – Simpática intervenção da artista indiana, talvez o espetáculo mais feminista desta MITsp.

        Foi muito significativo assistir a este espetáculo no Dia Internacional da Mulher . Com muita graça e uma simpática interação com a plateia a atriz indiana Mallika Taneja  fala sobre assédio, preconceito e violência contra a mulher. Rebate com vigor e ironia a tese machista muito presente também por aqui de que “a culpa é dela, quem mandou sair com essa roupa provocadora?”. Iniciando o espetáculo completamente nua, a atriz vai se cobrindo de dezenas de roupas, até terminar com o rosto coberto  e um capacete na cabeça: “Agora eu não corro mais perigo”, são suas últimas palavras. Recado curto e grosso para os machões de plantão!

8.   TU AMARÁS. Tema interessante tratado com dramaturgia, no meu modo de ver, equivocada.
 
        O prólogo desta peça é interessante, mas perigoso, pois fala diretamente do preconceito e perseguição aos índios do Chile embora aquele representante dos índios pratique algo condenável como a zoofilia. Nas cenas seguintes, um grupo de médicos que prepara uma conferência sobre o preconceito revela-se bastante preconceituoso em relação aos Amenitas, extraterrestres que agora habitam nosso planeta. Por que esse recurso dramatúrgico usando alienígenas como metáfora? Os “outros” podem ser quaisquer grupos perseguidos em nossa sociedade: mulheres, negros, índios, homossexuais, travestis. Para que “amenitas”? A imagem não me convenceu e isso prejudicou uma maior fruição da obra. Transitando em cenário pouco adequado para o palco italiano, o elenco cumpre seus papeis adequadamente.

9.   ORLANDO – Só uma bela instalação.

        Trata-se de uma instalação, por sinal, uma bela instalação com meia dúzia de personagens projetadas em telões; elas se movimentam de forma muito lenta e de tempos em tempos mudam de paisagem e de telão. Como numa exposição é algo para ser contemplado no tempo de cada receptor, que se retira após o seu tempo de fruição da obra.
        Mas aqui, somos de alguma maneira, “obrigados” a acompanhar a instalação por longos e intermináveis 50 minutos. A meu modo de ver é pretensioso e errado chamar o espetáculo de ópera-instalação, além disso, não vi vestígios da obra de Virginia Woolf nem da questão de gênero e identidade, conforme descrito na divulgação do trabalho.

10.       O QUE FAZER DAQUI PARA TRÁS – O espetáculo da Mostra que menos me tocou.

        Talvez eu não esteja preparado, mas pelo que eu entendi na saída, muitos de nós talvez não estejam preparados. Houve quem riu muito e aplaudiu de pé, houve até quem gritasse “Uuuuuhhh!!”. Pessoalmente achei pura perda de tempo ficar sentado por uma hora vendo aquele pessoal entrar correndo, dizer uma ou outra coisa ao microfone e sair correndo. As presenças no palco devem ter durado menos de meia hora e o resto do tempo foi o palco vazio nos intervalos entre a saída de um e a entrada de outro. Para quê? Para andar para trás?
        Essa frustrante experiência me fez lembrar outra ocorrida no ano passado no mesmo Teatro Cacilda Becker dentro da MITsp 2019, quando perdi mais de quatro horas debaixo de chuva entre idas e vindas para assistir a A BOBA. Pelo menos hoje não choveu e o céu está lindo com a super lua.
        Sua proposta, tão clara na sinopse, no palco absolutamente não me atingiu, João Fiadeiro.

        Esperemos que esses tempos sombrios logo nos abandonem e que estejamos belos, formosos e saudáveis por ocasião da 8ª MITsp de 2021. Obrigado por tudo Tó e Guilherme! VALEU!


O TEATRO NOS UNE,
O TEATRO NOS TORNA FORTE,
VIVA O TEATRO!!
 
         16/03/2020

 

 

 

 

 

 

       

 

 

quinta-feira, 12 de março de 2020

MITsp 2020 – TERCEIRO PROGRAMA DUPLO


       


        JERK (BABACA): No melhor dos sentidos, trata-se de um espetáculo “doente” onde por meio de fantoches (figuras normalmente ligadas ao inocente mundo infantil) conta-se história escabrosa sobre violações, torturas e execuções de garotos executadas por um serial killer (Dean Corll), auxiliado por dois adolescentes, um deles sendo a personagem que nos narra os fatos. O mais terrível é que muitas das vítimas vão para o cadafalso sabendo o que os espera com um misto de curiosidade e de “tesão”.
        O ator/ventríloquo Jonathan Capdevielle encarrega-se da difícil função de dar vida a essas personagens asquerosas e o faz com imenso talento. Espetáculo barra pesada do qual saímos com um gosto amargo na boca. Texto de Dennis Cooper baseado em história real com direção de Gisèle Vienne que também assina a encenação que abriu o evento (Multidão).

        Do Teatro Sérgio Cardoso segui para a FAAP para o segundo espetáculo do dia esperando que para compensar ele me desse um pouco de alegria e esperança. E foi o que aconteceu!
 

        BY HEART: Aprendemos desde crianças que decorar é uma coisa chata: decorar um ponto de história, a tabela periódica dos elementos, as leis da Física, a demonstração de um teorema ou ainda um texto teatral. Tiago Rodrigues, ator, diretor e dramaturgo português, artista em foco da 7ª MITsp, resgata o significado do verbo decorar no que ele tem de mais belo e poético: guardar na memória “de coração”, com toda emoção e poesia que esse órgão representa. Como em nossa língua “saber de cor”, virou sinônimo de coisa obrigatória e chata, o autor optou por colocar o título em inglês.
        Tiago Rodrigues usa o recurso de convidar dez pessoas do público para decorar trechos de um soneto de Shakespeare e durante a apresentação cita vários autores e sua relação com a avó Cândida que era uma leitora contumaz. A tese da peça é que o que guardamos na memória ninguém poderá tirar: “Esses filhos da puta não vão arrancar o que trago dentro de mim!”, essa é, aproximadamente, a frase que Tiago repete em certo momento da peça. E para que a memória se perpetue é necessário compartilhá-la com o maior número de pessoas.
        Extremamente simpático e carismático Tiago Rodrigues conquista seus dez convidados e todo o público presente oferecendo um trabalho cheio de poesia e de humanidade, verdadeiro antídoto para o primeiro espetáculo da noite.

        12/03/2020

quarta-feira, 11 de março de 2020

PRÊMIO SHELL


 
 
        Em bela festa realizada na Vila Vérico na noite de 10/03/2020 foi entregue o Prêmio Shell para aqueles que segundo o júri foram os melhores do teatro em São Paulo no ano de 2019.
 
 
        A cerimônia foi apresentada de forma simpática e informal por Leopoldo Pacheco e Vilma Melo e foi prestada uma justa homenagem à dramaturga Maria Adelaide Amaral, única entre os presentes que em seu agradecimento colocou a mão na ferida que tanto tem nos incomodado: o atual governo brasileiro e sua atitude em relação à cultura.
 
 
        Dentre os premiados gostaria de destacar a categoria “Inovação”. Eu “torcia” pelos quatro indicados, pois todos eles realizam trabalho intenso e militante no cenário teatral paulistano. O merecidíssimo vencedor foi o Coletivo Estopô Balaio!
 
 

        Os outros premiados foram:

        - Iluminação: Beto Bruel (Lazarus).
        - Figurino: Simone Mina (Insônia-Titus Macbeth).
        - Música: Dani Nêga, Eugênio Lima e Roberta Estrela Dalva (Terror e Miséria no Terceiro Milênio).
        - Cenário: Carlos Calvo (Cais Oeste)
        - Dramaturgia: Janaína Leite (Stabat Mater)
        - Direção: Daniela Thomas (Mãe Coragem)
        - Ator: Luís Miranda (O Mistério de  Irma Vap)
        - Atriz: Tania Bondezan (A Golondrina)

        Parabéns aos premiados, aos indicados, à classe teatral paulista e a todos aqueles que lutam bravamente contra a corrente para manter acesa a chama da cultura e do teatro em nosso país.
        E parabéns também à Shell por manter esse prêmio tão importante para o nosso teatro.

        O TEATRO NOS UNE,
        O TEATRO NOS TORNA FORTE,
        VIVA O TEATRO!

        11/03/2020

segunda-feira, 2 de março de 2020

UMA LEI CHAMADA MULHER


 

        Sob os mais variados aspectos a condição da mulher tem sido assunto bastante presente nos espetáculos de São Paulo: preconceitos, violências e assédios a que estão sujeitas e dos quais são vítimas. Esses fatos foram muito bem mostrados em relação à mulher negra em Bertoleza e em relação à mulher empregada doméstica em DOCMalcriadas, só para ficar nos últimos trabalhos a que tive a oportunidade de assistir.

        Eis que surge Uma Lei Chamada Mulher contundente texto de Consuelo de Castro (1946-2016) escrito em 2013 a partir do livro Sobrevivi...Posso Contar de 1994 escrito pela cearense Maria da Penha onde ela relata a violência doméstica sofrida por ação de seu companheiro que a torturou física e psicologicamente chegando ao limite de tentar assassiná-la por duas vezes, sendo que uma dessas tentativas a deixou paralítica. O seu caso inspirou e deu nome à Lei Maria da Penha, lei federal que entrou em vigor em 2006 cujo objetivo principal é estipular punição adequada e coibir atos de violência doméstica contra a mulher.
        Consuelo relata em detalhes desde o momento romântico em que o casal se conheceu dançando ao som de Can’t Take My Eyes Off You, passando pelo longo período em que viveram juntos e no qual foi aumentando a violência do companheiro com submissão da mulher, provocada muito provavelmente por razões que envolvem os filhos, por desejo sexual e até pelo preconceito machista da sociedade (se ele bateu é porque você fez alguma coisa para merecer) . Impulsionada por uma empregada e amiga ela denuncia o homem que é tratado com a devida preguiça da justiça brasileira, entrando e saindo da prisão várias vezes. A lei só foi decretada mais de dez anos depois.


        Faço esse longo preâmbulo apenas para ressaltar quão oportuna, urgente e necessária é esta montagem dirigida com mãos firmes pela nossa querida fotógrafa Lenise Pinheiro com co direção de iris Cavalcanti.
        Texto calcado na palavra e na agilidade dos diálogos exige atrizes e ator com predicados especiais para interpretá-lo e Lenise encontrou elenco perfeito para a empreitada.
        Natália Moço tem participação menor, mas não menos importante, como a amante de Marco, o marido de Penha e como uma interrogadora da polícia. Lúcia Bronstein interpreta com muita graça a empregada e amiga, figura fundamental na vida real e na trama.
        Iuri Saraiva é o companheiro violento e mau caráter com enorme poder de sedução e de manipulação. Excelente composição com sotaque em castelhano do qual ele não esquece em nenhum momento. Com vários trabalhos bem sucedidos, incluindo um prêmio da APCA por Jardim de Inverno, Iuri vai se consolidando como um dos bons atores de sua geração.
        Isabella Lemos entrega-se com paixão à personagem de Maria da Penha, realizando a meu modo de ver, seu melhor trabalho desde o memorável Mão na Luva (2009), onde, por coincidência, ela também estava com cabelos pretos.
        O texto de Consuelo de Castro é bastante detalhista e às vezes repetitivo. Um corte nas gorduras seria extremamente benéfico para uma melhor comunicação com o público.
        A iluminação da peça me pareceu indefinida com luzes de cores diversas acendendo e/ou apagando sem uma sincronia com a ação, deixando uma dúvida no espectador no sentido de por que mudou o foco se a ação não mudou. Dúvida de um espectador chato, claro.

        Seja mulher ou seja homem, VOCÊ precisa assistir a este importantíssimo espetáculo.

        UMA LEI CHAMADA MULHER está em cartaz no SESC Ipiranga só até 22/03 com sessões de quinta a sábado às 21h e aos domingos às 18h.


        02/03/2020

 

 

 

domingo, 1 de março de 2020

DOC.MALCRIADAS


 

        Lee Taylor, na época ainda Thalor e com apenas 23 anos, despontou como grande ator em 2006, pelas mãos do Mestre Antunes Filho que vendo o seu potencial lhe deu o papel principal de A Pedra do Reino. A partir daí foram mais quatro espetáculos todos dirigidos pelo Mestre que culminou em 2010 com Policarpo Quaresma onde ele interpretava o personagem título e criava uma cena que se tornou antológica sapateando ao som do Hino Nacional. A foto abaixo mostra momento do ensaio dessa cena onde o Mestre observa o pupilo.
 
 

        Ao sair do CPT (Centro de Pesquisa Teatral) continuou sua carreira vitoriosa como ator (televisão, cinema, teatro), como diretor, como educador e como criador do NAC (Núcleo de Artes Cênicas) do qual DOC.malcriadas é a última criação.
 
 
        Durante o bate papo após o espetáculo Lee comentou que algumas referências para essa encenação vieram de Pina Bausch e de Tadeusz Kantor, mas não há a menor dúvida que a maior referência é aquela do seu grande Mestre Antunes Filho (que também teve muitas influências, além de seus próprios méritos), presente principalmente nas cenas de conjunto onde as atrizes circulam pelo palco apenas com a presença opressora da estátua clássica. Além de todos os outros méritos o espetáculo é visualmente muito bonito colaborando para isso a iluminação de Fran Barros e a direção de arte assinada a quatro mãos por Lee e por outro talentoso remanescente do CPT, Eric Lenate.
        O espetáculo aborda o mundo das empregadas domésticas a partir de relatos colhidos pelo elenco de nove atrizes e mostra vários ângulos de vidas semi vividas sob o jugo de patroas e patrões que se sentem os donos de suas serviçais. É curioso notar em muitos casos o conformismo gerado pela necessidade do emprego e por certa herança cultural (a maioria teve antepassados escravos).
        Empregados espertos tratados comicamente como heróis que passam a perna nos patrões são personagens comuns na história do teatro haja vista o Arlequim de Goldoni e na cena brasileira a Olímpia de Trair e Coçar É Só Começar de Marcos Caruso. Outro enfoque é o deboche escancarado de Eduardo Dusek na canção Doméstica. O tom aqui é outro e se aproxima bastante do bem sucedido Domésticas (1998) de Renata Melo também criado a partir de entrevistas com empregadas domésticas (esta peça virou filme em 2001, dirigido por Fernando Meirelles e Nando Olival): o cômico tem sabor amargo e forte conteúdo social.
        A cena final da revolta das criadas com as roupas jogadas no público é muito bem bolada e me fez lembrar o final de Marat Sade na encenação de Ademar Guerra (1967), a partir do original de Peter Brook. Como se pode notar a apropriação quando realizada de maneira criativa adquire feição nova, original e muito bem vinda.

        DOC.MALCRIADAS está em cartaz no Teatro João Caetano apenas até este domingo (01/03) às 19h, mas cumpre nova temporada no Centro Cultural Olido de 27/03 a 19/04 às sextas e sábados (20h) e aos domingos (19h). NÃO DEIXE DE VER!
 
        01/03/2020