O sinal fraco da Internet dificultou a
minha fruição do sensível Encontro no Bar apresentado virtualmente pelo
Grupo TAPA. A cena congelava, voltando em seguida. Em certo momento houve
interrupção do sinal e eu perdi cerca de quatro minutos da apresentação. Por
sorte, na tarde chuvosa de sábado eu havia lido o texto o que facilitou o
acompanhamento da ação quando o sinal voltou, mesmo com um sentimento de
indignação deste espectador.
Coisas do “web” teatro, ou teatro virtual, ou..., ou.... No teatro de verdade isso jamais aconteceria. Uma interrupção por conta de falta de luz ou outro incidente seria tão coletiva (público e artistas) como o ato de estar ali.
Mas vamos ao espetáculo.
De início a distribuição dos papeis já
nos surpreende e alegra! Seria cômodo para o diretor colocar Isadora e
Valentino nas mãos de Clara Carvalho e Brian Penido Ross - afinal eles já
formaram tantos casais no palco e já o foram até na vida real – no entanto
Valentino ficou com o incrível Guilherme Sant’Anna, uma das vozes mais belas do
nosso teatro (o personagem diz que tem aquela voz sensual por conta de um
enfisema!!).
O encontro entre Isadora e Valentino é
um embate entre o Eros e o Thanatos que cada um tem dentro de si e esse embate
é testemunhado pelo garçom que a tudo assiste com atenção e certa ternura. E
quem de nós não tem esse embate interno? Tratar disso é o maior mérito deste
curto e belo texto de Bráulio Pedroso (1931-1990) em boa hora resgatado pelo
TAPA ( a peça nunca foi montada em São Paulo, tendo sido apresentada no Rio de
Janeiro em 1973 com direção de Celso Nunes).
A direção de Eduardo Tolentino de
Araújo é elegantemente precisa, marca registrada desse encenador. Em um cenário
simples montado no palco do Teatro Aliança Francesa as personagens se deslocam
entre duas mesas, algumas cadeiras e o balcão do bar, reinado do garçom;
vestidos com interessantes figurinos e iluminados de maneira simples e precisa.
(Não foi divulgada a ficha técnica do trabalho). A câmera que direciona o olhar
do espectador limita-se a observar a ação.
Brian Penido Ross empresta todo seu
talento a uma personagem que poderia ser secundária, fazendo com que não
deixemos de prestar atenção nele, mesmo quando a ação está concentrada nas
personagens principais.
Escrever sobre o talento de Clara
Carvalho é redundância pois já se viu e se escreveu sobre muitos trabalhos
exemplares dessa excelente atriz, mas vale a pena mencionar, principalmente, o
gestual de sua Isadora; para citar apenas um, a sua tirada de luva é um dos
atos sexuais mais eróticos a que já assisti e sua morte em seguida mostra o
vencimento de Thanatos sobre o Eros, que tinha acabado de explodir.
Guilherme Sant’Anna, elegantemente
vestido, interpreta Valentino com sobriedade, revelando uma ansiedade que
cresce durante a ação e chega ao ápice quando se revela a mão de Isadora.
Parece que Eros venceu a luta. Só parece.
Tolentino não utilizou as canções
compostas por Egberto Gismonti na montagem de 1973, preferindo que o elenco
falasse as letras sem cantar.
Com todos os inconvenientes dessas transmissões via Internet, foi um grande prazer assistir a mais esse belo e profissional trabalho do Grupo TAPA. Quem sabe um dia ainda o veremos “de verdade”!
01/11/2020
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