Ou Pra não dizer que não falei de Paulo Gustavo.
Na minha pré-adolescência
fui um grande fã das chanchadas da Atlântida que dominavam os cinemas na década
de 1950. Aguardava ansioso a chegada do Carnaval que era a época em que eram
lançados os filmes onde brilhavam as mocinhas Eliana e Adelaide Chiozzo, os
galãs Anselmo Duarte e Cyll Farney, os vilões José Lewgoy e Wilson Grey e,
principalmente, os cômicos Oscarito e Grande Otelo. As tramas eram sempre mais
ou menos as mesmas e eram intercaladas com as marchas de Carnaval do ano. Isso
sem falar nos filmes da inesquecível Dercy Gonçalves. Jamais vou esquecer
dessas matinês no imenso Cine Nacional situado na Rua Clélia no bairro da Lapa
paulistana.
Cresci. O cinema nacional
mudou e eu também. Vieram o cinema novo e os filmes políticos que eram objeto
de calorosas discussões estudantis. Esses filmes foram varridos das telas dos
cinemas por obra da truculenta censura reinante durante a ditadura civil
militar.
Surgiram as
pornochanchadas para as quais a crítica e certa intelectualidade torceram o
nariz.
Com a “retomada” nos
anos 1990 o cinema nacional voltou a ter um lugar no podium do chamado cinema
sério e “digno” de voltar a constar nas críticas publicadas na mídia.
Na época, os
comediantes do cinema tinham pouco espaço nos palcos dos teatros. Com o advento
da stand up comedy e do sucesso dos programas humorísticos televisivos
surge um tipo de comediante que passa a atuar também no teatro. Por não ter o
hábito de assistir televisão e também por - confesso - puro preconceito nunca prestei atenção em
Ingrid Guimarães, Leandro Hassum, Fábio Porchat, Mônica Martelli e também Paulo
Gustavo.
Paulo Gustavo! Como
não vejo televisão nunca assisti a seus programas televisivos e também não me
interessei em vê-lo no teatro ou no cinema onde eu lia que ele fazia o maior
sucesso. A mídia nunca se manifestou sobre as qualidades do seu trabalho como o
faz agora após a sua morte. Na verdade, o seu sucesso foi na base do “eu se
fiz por si próprio”, brincaria o comediante. Seus filmes nunca
frequentaram as salas do Reserva Cultural, do Belas Artes e do CineSESC,
nem as críticas cinematográficas dos jornais e nunca pensei em ir até a um
shopping para assistir a uma das Minha Mãe É Uma Peça.
Uma lúcida matéria de
Guilherme Genestreti publicada na Folha de S. Paulo em 06/05/2021 chamou
a minha atenção para o fato de que se eu, por um lado, não soube apreciar a
obra de Paulo Gustavo pelo preconceito a certo tipo de comédia, por outro lado,
a omissão da imprensa em relação às qualidades do seu trabalho como a defesa, por
meio do riso, da tolerância e da liberdade de viver também contribuiu para isso.
Uma pena.
Quando leio todos os
elogios que vêm sendo publicados sobre a pessoa e a obra e tomo conhecimento de
uma frase sua “RIR É UM ATO DE RESISTÊNCIA” fico pesaroso em reconhecer que não
tomei conhecimento de seu trabalho.
Tardiamente quero descobrir Paulo Gustavo.
07/05/2021
Antes tarde do que nunca (O reconhecimento , e o conhecimento, dos trabalhos dele...) : Ainda da tempo....
ResponderExcluirEu também, Zé. A gente aprende a ter preconceitos. E às vezes nem se dá conta... Isso também vale para as platéias de classe média paulistana intelectualizada. Viva podermos nos rever, e entender que aquilo de que passamos a (des)gostar passou por crivos que não dizem respeito apenas ao nosso gosto pessoal.
ResponderExcluirAbraço!
Ahhh o preconceito
ResponderExcluirMuito bom! Saudade... Abraço
ResponderExcluirCélia Vilarinho
Que linda reflexão. Serve justinho para mim tb.
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