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sábado, 1 de maio de 2021

OUTROS ABRIL(S) VIRÃO... (sem covid e sem o Bozo)

 

 

Abril foi um mês pródigo para minhas andanças virtuais pelo teatro. Assisti a 35 espetáculos, dos quais gostei muito de 20, além disso assisti ao documentário sobre Ziembinski, à entrevista de Ruy Castro a Marco Antônio Braz sobre Nelson Rodrigues, ao Persona especial sobre Cacilda Becker e o mês fechou brilhantemente com o bate papo com Alvaro Machado sobre Ruth Escobar.

Os grandes destaques do mês foram o Primeiro Festival da Tragédia Brasileira da Cia. Repertório Rodriguiana que visitou, por meio de criativas leituras dramáticas, cinco peças de Nelson Rodrigues e o projeto Abismos de Dostoiévski, idealizado por Marlene Salgado e Elena Vássina, trazendo seis adaptações de obras do escritor russo para a linguagem cênica.

As sempre bem vindas boas surpresas (a arte tem que me surpreender!) vieram de Claudio Mendes com sua criativa Lições Dramáticas de João Caetano, do excepcional texto A Genealogia Celeste de Uma Dança de autoria de Juliana Leite, da original ideia de Ex-NE – O Sumiço que pode render um excelente espetáculo no futuro, e das, não menos que excepcionais, interpretações de duas atrizes que eu não conhecia: Marina Nogaeva Tenório (A Dócil) e Liane Venturella (Palácio do Fim).

As/os sempre excelentes Carolina Virgüez (Vozes do Silêncio), Luciano Chirolli (A Genealogia Celeste de Uma Dança), Isabella Lemos (Viva Cacilda! Felicidade Guerreira), Antoniela Canto (Toda Nudez Será Castigada), Mariana Muniz (Sônia, Um Ato Por Tolstói), Celso Frateschi (O Sonho de Raskólnikov), Matheus Nachtergaele (Sonho de Um Homem Ridículo), Luah Guimarães (Stavrôgin, Eu Mesmo) e Fernanda Azevedo (Os Grandes Vulcões) completam a lista das grandes interpretações do mês.

Encenações muito bem realizadas, muitas delas se utilizando da linguagem cinematográfica que resultaram nos batizados teatro-filme, peça híbrida e outros nomes: Vozes do Silêncio, Viva Cacilda! Felicidade Guerreira, Sertão Sem Fim, Não Se Mate, A Genealogia Celeste de Uma Dança, John e Eu, Quando as Máquinas Param, Sonia, Um Ato Por Tolstói, Sede, O Híbrido, Ex-Ne - O Sumiço, Os Grandes Vulcões e Palácio do Fim.

Convenhamos que não é pouco. Mas não podia ser diferente pois neste mês se comemorou o centenário de nascimento de Cacilda Becker e Dionísio me deu de presente toda essa fartura, afinal eu também fiz aniversário!

E de lambuja eu vi minha peça Que Fim Levou Carlotinha? subir ao palco por obra de meu parceiro na dramaturgia Arnaldo D’Ávila. 

Bertrand Russel encerra seu famoso escrito Aquilo Porque Vivi da seguinte maneira: “Amor e conhecimento, até ao ponto em que são possíveis, conduzem para o alto, rumo ao céu. Mas a piedade sempre me traz de volta à terra. Ecos de gritos de dor ecoam em meu coração. Crianças famintas, vítimas torturadas por opressores, velhos desvalidos que constituem um fardo para seus filhos e todo o mundo de solidão, pobreza e sofrimento convertem numa zombaria o que deveria ser a vida humana. Anseio por aliviar o mal, mas não posso, e também sofro”

E é assim que eu hoje me sinto: louvando a vida e o teatro que amo tanto, mas carregando nos ombros 400.000 vítimas da covid 19 e esse maldito presidente e sua curriola tão maldita quanto ele, sem poder fazer nada. 

01/05/2021

 

Um comentário:

  1. Os anos de chumbo 1964-85 (sejamos mais justos: 1968-1979!) foram difíceis para o Teatro e para a arte em geral. Não temos a conta de quantos espetáculos censurados, quantas peças interrompidas em cena no palco e atores detidos...

    2018: eleição de Jair Bolsonaro e fim da oligarquia tucano-estrela de 33 anos. Se o monstro Bozo pretendeu algum dia censurar uma peça teatral, todo diretor, ator, cenógrafo, iluminador, figurinista, maquiador deve ajoelhar-se e agradecer a Dionísio, ao Olimpo todo, pela pandemia do Covid-19 e pelas 400 mil mortes, número dado por este blogue. Os teatros estão fechados e os governos não se ocupam de outra coisa que não seja a pandemia do vírus chinês, para acabar com ela propondo tratamentos precoces (o federal), ou para perpetuá-la com internações, lockdowns, cardápios de vacinas, multas, punições (os estaduais e o judiciário).

    No Brasil, há décadas a sublime arte do teatro está sequestrada pela ideologia de esquerda. Imagino comigo se Franco Zampari daria um TBC ao Brasil vendo a classe degenerada que está hoje sobre os palcos. E Nelson Rodrigues, anticomunista ferrenho, entusiasta dos generais e maior dramaturgo brasileiro? Suas surras de óbvio ululante não serviram de nada aos mimizeiros da ribalta?

    A ditadura militar censurava as artes e a imprensa. "Bozo e sua curriola maldita" fizeram o oposto: mandaram as "artes" e a imprensa irem plantar batata pra ver se brota mandioca. Haverá alegria entre os deuses no excelso Olimpo o dia que dona Fernanda Montenegro e todos vocês descobrirem que censura e CORTE DE VERBAS PÚBLICAS são coisas bem diferentes.

    Todo artista anti-Bolsonaro tem um sonho inatingível: ser censurado, preso, torturado por este governo que não se incomoda com ele. Cai o pano!

    Pedro Maipe

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