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sexta-feira, 30 de abril de 2021

PALÁCIO DO FIM

 

Em 2011/2012 José Wilker dirigiu uma montagem vigorosa desta peça da canadense Judith Thompson com Camila Morgado, Antonio Petrin e Vera Holtz. Eis que agora nos chega do Rio Grande do Sul, em formato remoto, uma nova versão da peça que nada fica a dever em vigor à outra e tem até certas vantagens, pois tratando-se de monólogos eles se beneficiam dos closes, impossíveis no teatro.

É muita bem vinda essa oportunidade de assistirmos a um espetáculo gaúcho e isso só está sendo possível pelo fato de se tratar de teatro virtual.

Palácio do Fim trata da guerra do Iraque que ocorreu em 2003 promovida pelos Estados Unidos em concordância com a Grã Bretanha e de suas terríveis consequências para o povo iraquiano. Curiosamente nesta semana tivemos a peça Os Grandes Vulcões tratando do mesmo tema.

A encenação da Cia. Incomode-te dirigida por Carlos Ramiro Fensterseifer e enriquecida pela direção de vídeo de Boca Migotto é precisa como uma cirurgia e vai direta ao ponto nas três cenas que compõem a peça.

A primeira cena é realizada como teatro documentário intercalando projeções estarrecedoras das torturas realizadas por soldados americanos nos presos iraquianos com a performance de duas atrizes (Fabiane Severo e Sandra Possani) que representam a militar americana Lynndie England que ficou “famosa” ao ser fotografada sorrindo ao lado de pirâmides de prisioneiros nus que haviam sido torturados e deformados. As palavras dessa mulher se justificando são, no mínimo, dignas de asco.

Segue-se o relato de David Kelly que revelou em entrevista à BBC que as armas de destruição em massa iraquianas (motivo dado por George W. Bush e Tony Blair para a invasão) absolutamente não existiam. A confissão desse homem e suas consequências formam a base do texto brilhantemente defendido por Nelson Diniz.

Liane Venturella

Mas o pior e o melhor estava por vir: a terceira cena mostra o outro lado da moeda! A iraquiana Nehrjas Al Saffarth inicia seu depoimento falando suave e docemente sobre o seu nome que significa narciso e aos poucos vai introduzindo dados sobre sua família, a vida terrível durante o regime de Saddam Hussein e mais terrível ainda após a invasão norte americana. Ela era esposa de um líder político iraquiano e em certo momento ela e os filhos são presos e enviados ao Palácio do Fim - local onde eram colhidos, à base de torturas, depoimentos de presos políticos durante a guerra – para revelar, sob tortura, o paradeiro do marido. Todos resistem e as torturas se intensificam. Essa descrição que toma cerca de quinze minutos da peça é terrível e tão cruel que beira o insuportável de se assistir. Liane Venturella, atriz pouco conhecida em São Paulo, tem uma das maiores atuações a que tenho presenciado nesta longa jornada como espectador. Praticamente toda a cena é realizada em um único plano, com close da atriz que se vale unicamente de suas expressões faciais e vocais para demonstrar toda a tragédia vivida não só por ela, mas por todo o povo iraquiano. É um verdadeiro privilégio tomar conhecimento de tamanho talento e que fosse apenas por ela, este espetáculo já se tornaria obrigatório. Um nome a ser lembrado: LIANE VENTURELLA.

 

QUANDO: De 05 a 16/05, de quarta-feira a domingo, às 20h

QUANTO: R$ 10,00 (toda renda será revertida para a Casa do Artista Riograndense)

INGRESSOS: www.entreatosdivulga.com.br/palaciodofim 

30/04/2021

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