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quinta-feira, 7 de abril de 2022

ESPERANDO GODOT

 


 

Este é meu décimo Godot. O primeiro jamais vou esquecer, pois foi aquele dirigido por Flávio Rangel em 1969 com Cacilda Becker e Walmor Chagas nos papeis de Estragon (Gogo) e Vladimir (Didi).

 Seguiram-se a montagem clássica de Roger Blin (1978) na Comedie Française; uma de Cristiane Paoli Quito (2000) da qual tenho boas lembranças; de Paulo de Moraes (2002); de Gabriel Villela só com mulheres (2006); de Marcelo Lazzaratto (2006), na qual, se bem me lembro, Godot se fazia presente na última cena; de Leo Stefanini (2016); de Elias Andreato (2016) e a visceral montagem de Cesar Ribeiro (2017). Por não estar no Brasil na época não assisti à encenação de Antunes Filho (1977) também com elenco feminino.

Chegou a vez de assistir à visão de Zé Celso Martinez Corrêa sobre esta espera, em tempos tão conturbados, desses dois seres por alguém ou algo que nunca virá.

 Zé Celso já visitou a obra em cenas da poderosa série de peças sobre Cacilda e em uma montagem carioca, mas é a primeira vez que o faz integralmente nos palcos paulistanos.

Pelas circunstâncias da morte de Cacilda, esta peça está irremediavelmente ligada à sua pessoa, então foi um verdadeiro privilégio assistir ao espetáculo no dia (06 de abril) em que Cacilda completaria 101 anos.

E o espetáculo de Zé Celso está belíssimo e potente desde as imagens projetadas em um telão no início com cenas das barbáries ocorridas no Brasil e no mundo nos últimos tempos prenunciando o fim do mundo, seguido do belo cenário concebido por Marília Gallmeister e Marcelo X banhado linda e criativamente pela luz desenhada por Luana Della Crist que literalmente envolve o público na interminável espera por Godot.

Vista do espaço cênico e da plateia impar a partir da plateia par

Louve-se também os trabalhos de vídeo realizados por Ciça Lucchesi, Igor Marotti e Renato Pascoal, registrando no telão as cenas que se passam no palco, dando a possibilidade de o espectador ver a cena sob vários ângulos. Essa captação de imagens nos espetáculos do Oficina tornaram-se uma benéfica marca registrada do grupo já há alguns anos.

Acostumado a realizar espetáculos com dezenas de figurantes, desta vez Zé Celso se limita aos cinco personagens do original.

Marcelo Drummond (Estragon) e Alexandre Borges (Vladimir) encarregam-se dessas duas figuras icônicas do teatro mundial. Ricardo Bittencourt interpreta Pozzo, Roderick Himeros desincumbe-se do difícil papel de Lucky (Felizardo) e Tony Reis é o Mensageiro, personagem com a qual Zé Celso tomou mais liberdades nesta sua versão da peça.

A atuação do elenco é impecável, mas no meu modo de ver, o intérprete que melhor reproduz o universo beckettiano e a perspectiva do fim do mundo é Marcelo Drummond, maravilhoso como o patético Gogo.

Em certo momento da peça, um dos personagens nomina algumas figuras indesejáveis, entre eles, os bolsominions e os “críticos”. Mesmo assim vou fazer uma pequena crítica à montagem: apesar da excelência da interpretação de Ricardo Bittencourt, a cena de Pozzo no primeiro ato, estende-se além da conta, quebrando o clima criado pelas cenas anteriores e dificultando a retomada do mesmo após a sua saída.

Espetáculo mais que necessário para os tempos atuais que mostra a vitalidade do nosso Zé Celso, o encenador vivo mais importante do teatro brasileiro, cujas energia e criatividade estão mais jovens e transgressoras do que nunca. 

ESPERANDO GODOT fica em cartaz no SESC Pompeia até 17/04 com sessões de quarta a sábado às 19h e aos domingos às 17h, transferindo-se para o Teatro Oficina de 05/05 a 03/07 com sessões de quinta a domingo às 20h. Pelas características diferentes dos dois teatros o espaço cênico deverá ser modificado quando transferido para o Oficina. 

NÃO DEIXE DE VER! 

AH!!! Um belíssimo programa impresso de 72 páginas é distribuído para os espectadores. Esperemos que não seja uma exceção à terrível regra atual de disponibilizar o acesso aos programas por QR code e que volte a ser regra daqui por diante. Obrigado SESC!! 

07/04/2022

 

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