Uma montagem bela e
dinâmica de um texto clássico que prende a atenção mesmo daqueles mais novos
acostumados às invenções da cena contemporânea e que torcem o nariz para o
pejorativamente chamado “teatrão”. Esse é um dos grandes méritos desta visão de
Regina Galdino para o texto do dramaturgo sueco August Strindberg (1849-1912).
A peça trata de um
embate entre o patriarca Adolf e sua esposa Laura em torno da educação da filha
Bertha. A partir dessa situação, o autor cria trama complexa onde a mulher, a
princípio submissa, vai tomando conta da situação por meio de falcatruas e
mentiras, criando dúvidas sobre a paternidade de Bertha e o estado mental do marido.
Com fama de machista e misógino, este texto parece mostrar o contrário, apesar
das armas usadas pela mulher para vencer não serem nem um pouco éticas. Digna
de nota é a tradução/adaptação do texto realizada por Gerson Steves.
Regina Galdino além
de dirigir o espetáculo, o ilumina lindamente em um palco vazio com apenas três
cadeiras que são arrastadas pelo elenco para criar os vários ambientes da casa
e um imenso painel ao fundo mostrando uma natureza inóspita e muito fria. Este
painel muda de cor, conforme mudam as intenções de cada cena. A concepção
cenográfica também é de sua autoria. Figurinos bastante adequados à situação
criados por Marichilene Artisevskis.
Em elenco bastante
homogêneo, Beatriz Negri faz a filha Bertha; Sérgio Passareli é o soldado,
espécie de criado da casa; Gerson Steves representa o Doutor e Daniel Costa é o
Pastor, responsável pelo “Amém” final que sacramenta toda a situação criada
pela irmã Laura.
Tatiana Montagnolli,
mentora do projeto, cria com muita dignidade a personagem de Laura, tímida no
início, vai tomando conta da situação ao longo da trama com bastante cinismo e
perversidade. Atriz pouco conhecida em nossos palcos, tem aqui uma grande
atuação, que a coloca entre nossas boas intérpretes.
Com o talento de
sempre e com uma barba imensa para disfarçar a diferença de sua idade com a da
personagem, Marcos Damigo encara com vigor a difícil figura de Adolf. Autoritário
e senhor de si no início, perplexo e corroído pela dúvida durante e fora de si
no final, são fases da personagem que o ator nos mostra com brilhantismo e
muito talento.
E por último, mas não menos importante, a presença luminosa de Gabriela Rabelo (em participação especial) como a criada Margret. A cena em que, pesarosa, coloca a camisa de força em Adolf, relembrando momentos da sua (dele) infância é belíssima e emocionante, podendo desde já ser considerada como um dos momentos mágicos e memoráveis do nosso teatro.
O PAI está em cartaz no Teatro João Caetano até 24/04 com sessões às sextas e sábados às 21h e aos domingos à 19h. Ingressos gratuitos.
É sempre bom lembrar: um programa impresso com dados sobre o autor, impressões sobre a obra escritas pelos envolvidos na montagem, ficha técnica e algumas fotos é distribuído gratuitamente. A MEMÓRIA DO TEATRO PAULISTANO AGRADECE!
09/04/2022
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