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sexta-feira, 22 de abril de 2022

FREEDOM CITY

 

A julgar por dadesordemquenãoandasó (2016), Scavengers (2017) e a presente Freedom City, trilogia montada pela Cia. Artera de Teatro, parte da trama narrada pelo elenco é uma característica do teatro do dramaturgo escocês Davey Anderson.

Aqui, mais uma vez, o recurso é muito bem utilizado para narrar a saga do protagonista Samuel, um rapazote meio perdido, sem noção de nada, que sobrevive trabalhando em um hotel de segunda categoria, isca perfeita para ser tragado por esses sites que disseminam o fanatismo conservador, pregando o machismo, os preconceitos raciais e de gênero e o ódio como forma de sobrevivência. A comunidade virtual intitula-se Freedom City.

Para tema tão contemporâneo envolvendo comunicação virtual e fake news que disseminam preconceito e ódio, Davi Reis e Ricardo Corrêa criaram concepção cênica que dialoga com a proposta do texto. Luminosos, máscaras que projetam imagens e frases por meio de controle do celular e poucos elementos que definem a sala da casa de Samuel, o porão onde Samuel tem seu notebook, o hotel e uma mercearia onde uma das personagens trabalha.  Esse cenário, suficientemente limpo é assinado pela dupla e por Cesar Resende de Santana (Basquiat). A iluminação de Fran Barros completa com muita beleza esse local por onde vão transitar as personagens da peça.

Ricardo Corrêa defende com seu costumeiro talento a figura de Samuel. Pedro Guilherme que já atuou com a Artera em dadesordemquenãoandasó representa com energia o ridículo líder da comunidade. Lucca Garcia completa o elenco masculino atuando principalmente na narração.

Julyana Belmonte representa vários papeis e Letícia Tomazeli é Wendy, irmã de Samuel, única personagem que provoca empatia com o público.

Além de representar as personagens, todo o elenco também se incumbe das partes narradas.

A homogeneidade interpretativa é outro ponto forte deste ótimo espetáculo.

A maioria das peças a que tenho assistido procura inserir em algum momento fatos relativos a esse indecente governo a que estamos submetidos. Gesto mais que louvável porque MAIS DO QUE NUNCA é preciso denunciar o que está ocorrendo; no entanto em certos casos a denúncia soa artificial ou fora do contexto. Em Freedom City essa denúncia escancarada do gabinete do ódio e das fake news promovidas pelo presidente e seus cupinchas entra de forma harmoniosa como se tivesse sido escrita por Davey Anderson depois de um contato com nossa realidade.

Extremamente necessária para o momento que estamos vivendo, esta peça precisaria ser assistida por jovens fora da bolha; aqueles jovens que, por inocência ou oportunismo, acabam se envolvendo e defendendo essas verdadeiras máfias do ódio.

FREEDOM CITY está em cartaz no Centro Cultural São Paulo até 1º de maio com sessões de quinta a sábado às 21h e aos domingos às 20h. Ingressos gratuitos.

 

22/04/2022

 

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