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sábado, 23 de abril de 2022

A ESPERANÇA NA CAIXA DE CHICLETES PING PONG

 

 

A arte tem de ter algo que me tire do chão e deslumbra.

FERREIRA GULLAR 

As palavras tão bem articuladas por Clarice Niskier e a emoção provocada - misto de alegria, felicidade e revolta pelo momento do nosso país - é tão intensa, que me sinto pouco à vontade para escrever com minhas parcas palavras tudo o que senti na noite de ontem ao assistir a A Esperança na Caixa de Chicletes Ping Pong.

Isso sempre me ocorre quando a emoção provocada por um espetáculo é muito grande. Saí de tal maneira impactado e energizado que tive até certa dificuldade de adormecer horas depois.

Clarice Niskier é absolutamente sensacional tanto na brilhante atuação, como na excelente dramaturgia construída na forma de cordel a partir de suas memórias, de seu olhar sobre a realidade brasileira e das canções de Zeca Baleiro.

Não me tirou do chão como na famosa frase de Ferreira Gullar em epígrafe (que por sinal, é um dos inúmeros artistas brasileiros citados durante o espetáculo), mas fez com que eu afastasse as costas da poltrona e me debruçasse no encosto da poltrona da frente para fruir melhor este que desde já é um dos melhores espetáculos apresentados em nossos palcos nesta rica temporada teatral paulistana que com menos de quatro meses de vida já apresentou (e está apresentando) obras e encenações memoráveis.

A sinergia criada entre a artista e a plateia é tão grande que em certo momento me peguei cantando em altos brados junto com o público: “Mas tudo passa, tudo passará”, antigo sucesso de Nelson Ned.

Para espetáculo no todo tão brilhante fica difícil destacar este ou aquele momento, mas arrisco lembrar da cena em que a atriz pega um velho rádio no baú e deslizando o dial vai ouvindo e reagindo a antigas canções brasileiras.

No imenso palco do Teatro J. Safra estão dispostos um violão, figurinos a serem utilizados no espetáculo e um baú de onde a atriz vai retirando objetos. Só isso e tudo isso.

Um time de bambas colabora para que a magia do espetáculo aconteça: José Dias (cenário), Aurelio Di Simoni (iluminação) e Kika Lopes (figurinos). Elemento importante nos figurinos é o manto que Zeca Baleiro presenteou a atriz e que tem bastante importância no desenvolvimento da ação.

O lúdico e o lúcido caminham lado a lado na peça, pois poeticamente e com muita delicadeza Clarice Niskier põe a mão nas feridas que assolam o nosso país.

Sobre as letras das canções de Zeca Baleiro não é preciso falar! As músicas permeiam as falas e são apresentadas nos originais gravados pelo cantor/compositor, enquanto a atriz faz deliciosas coreografias.

A Esperança na Caixa de Chicletes Ping Pong é espetáculo mais que perfeito e merece - aliás, o público merece - que realize nova temporada em teatro mais central e mais intimista (o Teatro Eva Herz onde Clarice apresentou A Alma Imoral por anos a fio seria espaço ideal para abrigar essa maravilha).


Enquanto isso, não perca a oportunidade de se deslocar até o Teatro J. Safra onde o espetáculo acontece apenas até o próximo fim de semana (dia 1º de maio). Sessões às sextas e sábados às 21h e aos domingos às 18h.

NÃO DÁ PARA DEIXAR PASSAR!!! 

26/04/2022

2 comentários:

  1. É lindo, muito lindo. Não dá pra perder. Clarice em grande atuação em parceria com Zeca Baleiro. Um alivio pra nós, amantes do teatro. Pena ficar como fast food, 3 fins de semana só.. Isso é muito triste.

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