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quarta-feira, 29 de junho de 2022

7º FEST KAOS 2022

 

Realiza-se de 01 a 10 de julho no Centro Cultural do Teatro do Kaos em Cubatão, o Festival Teatro do Kaos, iniciativa do guerreiro Lourimar Vieira.

O Festival terá na abertura o delicioso espetáculo Ledores do Breu da Cia. do Tijolo com interpretação iluminada de Dinho Lima Flor.

As oito noites seguintes (sempre às 20h) serão dedicadas à mostra competitiva com espetáculos vindos de São Paulo, São José dos Campos, Santos e Santa Bárbara do Oeste. (vide programação no quadro acima)

A comissão julgadora, da qual tenho o prazer de fazer parte junto com Alexandre Mate e Fernando Neves, fará a escolha, daqueles que segundo ela, foram os melhores nas categorias: ator / ator coadjuvante / atriz / atriz coadjuvante / direção / figurino / cenografia / iluminação / trilha sonora / texto / maquiagem / espetáculo. Tarefa árdua, pois se por um lado há o prazer de assistir a muita coisa boa, há a difícil responsabilidade de escolha dos premiados.

No dia 09 de julho haverá o lançamento do livro sobre a trajetória do Teatro do Kaos, escrito por Alexandre Mate.

O Festival termina em grande estilo no domingo, dia 10 de julho com a apresentação de Até Que Tu Te Tornes Verde pelo Teatro do Kaos, seguida da premiação dos melhores da mostra competitiva.

Todas as atividades são gratuitas e as reservas de ingressos devem ser feitas pelo Sympla.

Abaixo, uma foto da bonita frente da sede do Teatro do Kaos, onde são realizadas múltiplas atividades teatrais que agitam a cidade de Cubatão.

O TEATRO NOS UNE

O TEATRO NOS TORNA FORTES

VIVA O TEATRO!

 

29/06/2022

 

 

 

quarta-feira, 22 de junho de 2022

BOY

 

Foto de Lee Kyung Kim

Tomei contato com a dramaturgia de Rogério Corrêa em 2021 com os excelentes espetáculos virtuais Entre Homens e De Bar Em Bar, ambos compostos de peças curtas que, de uma maneira ou de outra, tratavam de assuntos gays. Esta temática estava presente em De Bar Em Bar na cena do garoto de programa que frequenta e acaba sendo proprietário de saunas gays e discorre sobre a época do impeachment de Fernando Collor em 1992 e do surgimento da AIDS. Corrêa estendeu este monólogo que durava cerca de 15 minutos, dando origem ao atual Boy com pouco mais de 45 minutos.

Boy estreou presencialmente em São Paulo em 20/06/2022 na Casa Fluida na Rua Bela Cintra, 569.

Gil Hernandez, que representa o papel título, percorre as mesas de casa antes do início da peça, perguntando aos espectadores se se recordam onde estavam no dia do impeachment de Collor.

O monólogo é representado em um espaço onde os poucos espectadores (capacidade de 30 lugares) são acomodados em cadeiras e o ator representa bastante próximo ao público, circulando por um corredor formado pelas cadeiras.

Gil Hernandez está muito à vontade e representa com muita espontaneidade o gay que iniciou sua vida homossexual possuindo um vizinho, segundo ele, “bem bichinha”; teve relacionamentos com um soldado; com um deputado; presenciou a calamidade da AIDS e a destruição física de muita gente ocasionada pela síndrome e passou pela Era Collor culminando com o impeachment do dito presidente. Trinta anos após a queda de Collor, Boy se estabeleceu como dono de uma sauna gay e é no bar desse estabelecimento que ele relata os acontecimentos que presenciou em sua vida.

O texto de Rogério Corrêa é muito ágil e não tem pontos mortos, fato enriquecido pela sóbria direção de Isaac Bernat e a excelente interpretação de Gil Hernandez.

Na apresentação do dia 21 houve um ótimo debate após o espetáculo com Bárbara Iara Hugo e o Dr. Emmanuel Nasser.

A temporada relâmpago de Boy termina na próxima semana, no dia 28/06.

Não perca a oportunidade de assistir a esse ótimo espetáculo e de conhecer a simpática e aconchegante Casa Fluida na qual você é recebido com muita gentileza pelos anfitriões Fernando e Mateus.

22/06/2022

domingo, 19 de junho de 2022

anonimATO

 

Uma tarde outonal esplendorosa de muito sol, céu azul sem nuvens e uma temperatura bastante agradável no Parque da Luz foi o cenário ideal para celebrar o teatro e a utopia junto com a Cia. Mungunzá de Teatro no espetáculo anonimATO, dirigido por Rogério Tarifa, com dramaturgia de Verônica Gentilin.

Essa feliz união da Mungunzá com Tarifa resultou nessa beleza que é o primeiro espetáculo de rua e também o primeiro musical do grupo. 

Testemunhar Rogério Tarifa acompanhando a apresentação é um espetáculo à parte. Ele observa atentamente o desenvolvimento da ação, ajuda na contrarregragem e participa de muitas cenas.


Aos velhos de guerra da Mungunzá - Sandra Modesto, Virginia Iglesias, Lucas Bêda, Léo Akio, Marcos Felipe e Pedro das Oliveiras - juntam-se Fabia Mirassos, Paloma Dantas e os músicos Daniel Doc ou João Sampaio, Flávio Rubens e Nath Calan ou Luana Oliveira para contar a história dessas personagens, cada uma com seus sonhos e seus ideais utópicos, que vão se juntando em um cortejo que oferece momentos da mais bela contemplação para o público presente.

Tem música, tem pipoca, tem perna de pau, tem bonecos e muitas histórias que vão agradar tanto aos adultos como aos pequenos. 

Mais do que palavras, publico aqui algumas fotos que confirmam a beleza e a magia desse lindo espetáculo que merece uma visita ao Parque da Luz, principalmente se o dia for de sol! As apresentações acontecem até 10/07 ás sextas e aos sábados às 15h e aos domingos às 11h e às 15h.













APLAUSOS!!! 

18/06/2022

sábado, 18 de junho de 2022

TEBAS

 

É curioso notar que Sófocles (497 a.C. – 406 a.C.) iniciou o sua TRILOGIA TEBANA com ANTÍGONA, a última parte da trama. Mais de dois mil e quinhentos anos depois, parece que estou vendo o velho dramaturgo terminar a sua ANTÍGONA em 441 a.C. e pensando “Acho que vai valer a pena eu contar o que aconteceu antes disso.” e a partir daí surgiram ÉDIPO REI em 430 a.C. e ÉDIPO EM COLONO em 406 a.C., pouco antes de sua morte aos 96 anos.

Marcelo Lazzaratto resolveu contar a trilogia tebana misturando os tempos e colocando criativamente Édipo velho como testemunha da tragédia de Édipo jovem quando este descobre que matou o próprio pai e teve relações incestuosas com sua mãe Jocasta. Se por um lado, a narrativa se torna um pouco difícil de acompanhar (principalmente no primeiro ato), ela faz com que o espectador se torne quase um coautor ao colocar em suas mãos a costura da trama.

Trata-se de espetáculo de fôlego e, em minha opinião, o mais bem sucedido da longa carreira de Marcelo Lazzaratto e de sua Cia. Elevador de Teatro Panorâmico.

A tragédia de Édipo e sua família na versão da Cia. Elevador se desenvolve em cenário de Julio Dojscar que reforça a atemporalidade, ou melhor, a atualidade da mesma, uma vez que é formado por contêineres modernos dispostos no cais de um porto. Essa triste atualidade torna-se mais patente com a presença de uma funcionária do porto (personagem criada pelo encenador) e com o figurino e a postura do Coro, testemunha dos acontecimentos, representado por Eduardo Okamoto.

Como de hábito, a iluminação assinada por Lazzaratto é precisa e elaboradíssima. A poderosa trilha sonora de Dan Maia remete aos sons ouvidos em outras tragédias gregas e acentua a pungência da história.

O elenco movimenta-se em cena com marcações e gestual bastante rígidos. Todos têm desempenhos dignos e excelentes, mas é preciso destacar a versatilidade de Eduardo Okamoto e Marina Vieira em diversos papeis e a presença marcante de Marcelo Lazzaratto em antológica interpretação como Édipo velho.

Lazzaratto concentra assim as funções de adaptação das três tragédias (dramaturgia cênica), direção, iluminação e interpretação da personagem mais presente na encenação. E cumpre todas essas funções brilhantemente.

Trata-se de ótimo momento não só de Lazzaratto, como também da Cia. Elevador que neste ano completa 22 anos de presença em nossos palcos e que, além desse espetáculo, está em cartaz com o também muito bem sucedido infanto juvenil Caro Kafka.

Parabéns e VIVA O TEATRO!

O bem-vindo programa impresso, além de muito bonito, contém informações preciosas sobre o espetáculo.

 

TEBAS está em cartaz no SESC Bom Retiro às quintas, sextas e sábados às 20h até 25/06.

 

18/06/2022

 

 

 

terça-feira, 14 de junho de 2022

PAPA HIGHIRTE

Oduvaldo Vianna Filho, o nosso Vianinha (1936-1974), escreveu Papa Highirte em 1968, um dos anos mais terríveis da ditadura militar brasileira que culminou com a promulgação do famigerado AI5, ato que escancarou os porões do regime para perseguir, torturar, desaparecer e matar todos aqueles que clamavam por liberdade e se insurgiam contra os seus desmandos. 

A peça, através de pessoas e locais fictícios, retrata muito bem os acontecimentos da época e a participação norte americana na instalação e manutenção do golpe civil militar que deu origem à longa ditadura brasileira.

Premiada com o primeiro prêmio do concurso do Serviço Nacional de Teatro e proibida no mesmo ano em que foi escrita, a peça só foi liberada em 1979, quando foi encenada no Rio de Janeiro pelo Teatro dos 4, com direção de Nelson Xavier e tendo Sergio Britto no papel título.

Considerada ultrapassada durante os breves tempos em que se pôde respirar ares de liberdade no país, a peça, infelizmente, volta a ser atualíssima e muito oportuna em função da ascensão de uma ultra direita liderada por esse ser abjeto que está no poder. Torçamos para que ela volte a ser ultrapassada a partir de 2023. 

Papa Highirte é um ditador populista que foi deposto de seu país Alhambra e vive exilado em Montalva. Ali, enquanto relembra os fatos que aconteceram antes e durante o golpe que o depôs, arquiteta planos para voltar ao poder em sua terra natal, percebendo tarde demais que sempre foi manipulado pelos militares a serviço de uma potência estrangeira. Em Montalva, ele também está sob a mira do revolucionário Mariz, que pretende matá-lo.

A encenação direta e potente de Eduardo Tolentino está sendo encenada no grande salão existente no simpático Galpão do Grupo TAPA. Com apenas recursos de iluminação (Wagner Pinto) a trama navega entre o presente da personagem em Montalva e o passado em Alhambra, sem a utilização de cenários nem adereços. E a magia do teatro bem realizado põe a imaginação do espectador para funcionar, permitindo que ele visualize tudo o que está implícito.

O elenco, muitíssimo bem preparado pelo encenador, segue o padrão TAPA de qualidade. Elenco bastante homogêneo nos desempenhos, mas não há como não destacar as interpretações de Eduardo Semerjian (o militar Perez y Mejia), Bruno Barchesi (o revolucionário Mariz), Camila Czerkes (uma linda e voluptuosa Graziela) e Caetano O’Maihlan(Manito e Hermano Arrabal).

Que Zécarlos Machado é um grande ator, não há quem o negue, mas desta vez ele se supera em papel extremamente complexo, onde a personagem de Papa, apesar de seu temperamento grotesco e tirânico, revela humanidade e até provoca simpatia e pena no espectador. Mais uma das grandes interpretações masculinas do ano. 

PAPA HIGHIRTE está em cartaz no Galpão do Grupo TAPA situado na Rua Lopes Chaves, 86 na Barra Funda. Temporada até 17 de julho ás sextas e sábados às 20h e aos domingos às 18h.

segunda-feira, 13 de junho de 2022

BRENDA LEE E O PALÁCIO DAS PRINCESAS - PRESENCIAL

 

 

Eu tenho muito pouco a acrescentar à matéria que escrevi a respeito desse emocionante musical quando o assisti virtualmente em outubro de 2021. June Weimar foi substituída pela bela Leona Jhovs e houve também algumas mudanças na composição da banda. A apresentação presencial ganha em emoção ao ser apresentada no belo espaço cênico concebido na forma de cabaré e que se presta também à encenação de Cabaret dos Bichos, também em cartaz no Núcleo Experimental, que assim tem atividades teatrais TODOS os dias da semana, como nos bons tempos.

Segue abaixo uma reprodução da matéria citada acima: 

“Toda homenagem que se faça à militante da causa LGBT - e eu acrescentaria, verdadeira heroína - Brenda Lee é pouco.

Nascida no interior pernambucano em 10 de janeiro de 1948 foi batizada com um nome para macho nenhum botar defeito: Cícero Caetano Leonardo, mas seu lado feminino logo floresceu e ela adotou o nome de Caetana. Ao mudar para São Paulo com apenas quatorze anos passou a usar Brenda Lee, talvez em homenagem à cantora norte-americana que na época abalava os corações juvenis com Jambalaya e Emotions. Foi barbaramente assassinada com dois tiros em 28 de maio de 1996 com apenas 48 anos.

Brenda Lee foi capaz de gestos humanitários incomuns abrigando em sua casa homossexuais perseguidos e mais tarde pessoas contaminadas pelo vírus da AIDS. A casa, a princípio conhecida como Palácio das Princesas, tornou-se depois referência no combate a AIDS com o nome de Casa de Apoio Brenda Lee. Sua trajetória é digna de todos os louvores e merecedora de estudos, de homenagens, de biografias e por que não? De um lindo musical!

Fernanda Maia (dramaturgia, letras e direção musical), Rafa Miranda (música original e preparação vocal) e Zé Henrique de Paula (direção e figurinos) são os principais responsáveis por recriar musicalmente em um palco momentos da vida de Brenda Lee, contando com uma preciosa equipe na coreografia (Gabriel Malo), na preparação de atores (Inês Aranha), na iluminação (Fran Barros), na cenografia (Bruno Anselmo), no visagismo (Diego D’urso) e na direção audiovisual (Laerte Késsimos) e com elenco brilhante e talentoso de seis travestis.

Mesclando as biografias de Brenda Lee e de algumas de suas hóspedes com borbulhantes números musicais inspirados naqueles que aconteciam na icônica boate Medieval, o espetáculo flui como gole de champagne durante seus 100 minutos de duração. Para tanto são essenciais as bonitas melodias de Rafa Miranda, enriquecidas pelas letras precisas de Fernanda Maia.

Verônica Valenttino é presença poderosa interpretando Brenda Lee. Olivia Lopes, Marina Mathey, Tyller Antunes, Ambrosia e June Weimar interpretam algumas das meninas que foram hóspedes do Palácio; elas cantam, dançam e são excelentes atrizes quando o drama assim exige. Fábio Redkowicz faz uma participação como o médico que se propôs a atender pacientes na Casa de Apoio.

Brenda Lee e o Palácio das Princesas vem se somar a Cabaret dos Bichos, dois experimentos musicais muito bem sucedidos apresentados virtualmente pelo Núcleo Experimental. Enquanto o segundo faz uma crítica feroz aos regimes totalitários, o primeiro esbanja humanidade e solidariedade ao contar a saga da memorável Brenda Lee. O Brasil precisaria de mais gente com esse espírito. VIVA BRENDA LEE!!” 

                E mais uma vez: VIVA BRENDA LEE e todas/todos aqueles que lutam no combate aos preconceitos, sejam eles quais forem!


        Cartazes do Teatro do Núcleo Experimental:

        - CABARET DOS BICHOS – Segundas, terças e quartas às 21h – Até 22/06.

- BRENDA LEE E O PALÁCIO DAS PRINCESAS - De quinta a sábado às 21h e aos domingos às 20h – Até 03/07. 

13/06/2022

 

domingo, 12 de junho de 2022

O ANJO DE CRISTAL

 

É surpreendente observar o currículo de Luccas Papp, um jovem com menos de 30 anos, e constatar a quantidade de títulos que ele acumula nas mais diversas funções teatrais seja como autor, ator, diretor, produtor, ou ainda, como professor de teatro. Desconheço a formação acadêmica de Papp, mas tenho certeza que a prática muito lhe ensinou, haja vista a consistência da estrutura dramatúrgica como também a fluidez e a agilidade dos diálogos daqueles textos de sua autoria a que pude assistir; em alguns casos há certa imaturidade e falta de profundidade no tratamento dos temas, algo perfeitamente compreensível para autor tão jovem. Não há dúvida que Luccas Papp é um dos mais promissores dramaturgos brasileiros, com importante carreira pela frente. Nosso teatro está necessitando disso.

A última incursão de Papp como ator e autor (segundo ele, a peça foi escrita em quatro horas!) é O Anjo de Cristal, ora em cartaz no Teatro União Cultural.

A trama desta peça envolve um homem muito tímido que compra uma hora com prostituta de luxo vinda do interior que “faz a vida” para pagar a faculdade na FAAP. O texto faz referências simpáticas a coisas e lugares de São Paulo e, como já citado acima, tem diálogos ágeis e um grande mérito ao louvar o empoderamento e a liberdade de escolha da mulher.

Como em outras peças do autor a que assisti, há uma reviravolta no final, que não vou relatar qual é para não ser um desmancha prazer para as/os futuras/os espectadoras/es (melhor assim do que “es futures espectadores”, não é?).

Luccas Papp se sai bem como o visitador, exagerando às vezes nas caras e bocas (principalmente da projeção do queixo para a frente) para demonstrar a timidez e as surpresas com as investidas da jovem.

 Carolina Amaral é uma belíssima mulher e demonstra talento e coragem para enfrentar a personagem de Isadora, a prostituta, cabendo um senão à pouca projeção de sua voz. Irritante e artificial é o mascar de chiclete nas cenas iniciais, mostrando antipatia e pedantismo que a personagem não tem.

Se no cinema já é difícil, no teatro é muito mais complexo resolver as cenas de sexo; na maioria das vezes a situação é resolvida com um indesejado black out entre o antes e o depois. Neste caso, o encenador Kiko Rieser optou por realizar a cena na penumbra, havendo certas inverossimilhanças que aqueles que irão assistir ao espetáculo irão notar, mas o importante é que a cena resulta bonita. Rieser conduz o espetáculo sem arroubos criativos (algo extremamente correto para esse tipo de texto) concentrando sua atenção na interpretação e na movimentação cênica do elenco,

A ação da peça se passa no flat onde a jovem atende os seus clientes e o cenário que procura mostrar esse ambiente leva, para minha surpresa, a assinatura de Kleber Montanheiro, cenógrafo colorido e um tanto “barroco”. No meu modo de ver, fez falta ali uma silhueta dos prédios da cidade através da janela, uma reprodução de um quadro da Beatriz Milhazes ou do Romero Britto na parede e uma cortina de tecido um pouco mais nobre.

A iluminação de Lui Seixas procura refletir a intenção de cada cena e a trilha sonora de Mau Machado a partir de clássicos de jazz está mais para Nova York do que para São Paulo, mas funciona: afinal ela é uma garota de programa culta e refinada.

Muito importante: um bem-vindo programa impresso simples, mas contendo sinopse, ficha técnica, impressões dos envolvidos e fotos é distribuído aos espectadores e a um pesquisador como eu, que necessita dessas informações para desenvolver seu trabalho em prol da memória de nosso teatro. 

O ANJO DE CRISTAL está em cartaz no Teatro União Cultural apenas às quintas feiras às 20h até 28/07.

PRESTIGIE O AUTOR BRASILEIRO! 

12/06/2022

 

 

sábado, 11 de junho de 2022

CHUVA DE ANJOS - PRESENCIAL

 

Foto de Aline Baracho

Em outubro de 2021 assisti à versão virtual desta peça e acho interessante reproduzir trechos da matéria que escrevi a respeito:

“................

O cenário, uma praça e bancos de jardim, é o mesmo de ‘Dinossauros’ (peça do mesmo autor assistida em 2006), mas as personagens e a situação são bem diferentes. Duas mulheres estão ali sentadas. Enquanto a de cinza, pragmática e calculista, faz pesquisa e até se entusiasma com os suicidas que se atiram das janelas dos prédios ao redor, a outra (de negro) se surpreende com a conduta fria da primeira e se choca com a queda dos anjos.

Com diálogos ágeis e bem estruturados, Serrano faz uma sensível radiografia da solidão e do isolamento a que o ser humano está submetido em uma grande cidade e traz à tona a questão do suicídio, ato cada vez mais presente em nossa sociedade.

Reginaldo Nascimento dirige a cena concentrando toda a sua atenção no trabalho das ótimas atrizes que interpretam com muita verdade as duas mulheres: Amália Pereira (de cinza) e Vera Monteiro (de negro).

Infelizmente a encenação virtual deixa muito a desejar no que se refere à parte visual: o cenário, um tipo de telão que retrata a praça, é feio e tem cores muito carregadas, além disso, fica muito claro que cada uma das atrizes está em locais diferentes, haja vista que não há continuidade, por exemplo, na cena em que uma oferece flores à outra.

Sem levar em conta essas observações de um espectador ranheta, ‘Chuva de Anjos’ é espetáculo dotado de grande humanidade que merece ser visto, servindo de reflexão e de alento nesses tempos sombrios que estamos vivendo.

Tenho certeza que a peça ganhará muito e perderá certo tom artificial presente na versão virtual no momento em que puder ser apresentada ao vivo. E esse momento vai chegar!

Parabéns Kaus!” 

E esse momento chegou  para provar mais uma vez que teatro de verdade só acontece ao vivo quando atores e espectadores respiram o mesmo ar.

O cenário/telão da versão on line que procurava ilustrar a praça onde se passa a ação foi trocado por um fundo vazio neutro com a presença de um pequeno arbusto colocado atrás do banco onde as personagens se sentam. E a magia do teatro se faz presente: aquilo que era explícito ficou implícito e a visualização da praça ficou muito mais potente na imaginação do espectador. Emocionante!

Versão on line
Versão presencial

Amália Pereira está ótima como a mulher pragmática que aos poucos, nas conversas com a senhora movida pela emoção, vai percebendo que nem tudo é tão prático assim. Vera Monteiro tem um grande momento com a interpretação da tal senhora, sendo responsável por alguns sorrisos que surgem nos semblantes dos espectadores, apesar do tema sério tratado na peça.

A notar também, na versão presencial, os significativos figurinos desenhados por Telumi Hellen.

Reginaldo Nascimento realiza trabalho de direção discreto (como convém ao texto) e muito digno.

Infelizmente assisti ao espetáculo apresentado na Giostri Livraria Teatro no último dia da temporada, não podendo recomendá-lo vivamente para já, mas outras temporadas hão de surgir! 

11/06/2022

 

quinta-feira, 2 de junho de 2022

PRÊT–À–PORTER NOVOS EXPERIMENTOS

Foto de Bob Sousa 

O importante é que a nossa emoção sobreviva

(Mordaça – Eduardo Gudin/Paulo César Pinheiro) 

1.    INTRODUÇÃO

Apertar o botão 7 do elevador do SESC Consolação já mexeu comigo. Ao adentrar o espaço do CPT senti um misto de tristeza, de saudade (principalmente ao olhar para a porta fechada da sala onde Antunes Filho ficava), mas também de alegria e, principalmente, de expectativa em relação às novidades que estavam por vir. Emoções são sempre bem vindas.

         Mais sensações ao passar pelo corredor onde ainda brilham fotos e cartazes de espetáculos dirigidos por Antunes até chegar ao espaço da apresentação; ao olhar para atrás da arquibancada procurei o Deus Shiva que ficava sobre uma mesa, mas Ele não estava mais lá. Finalmente me sentei diante do espaço cênico, onde me vieram à lembrança os inúmeros trabalhos a que assisti no CPT.

         Ah, Antunes! Depois de A Megera Domada em 1965, assisti a todas as montagens dirigidas por ele até a derradeira em 2018 (Eu Estava Em Minha Casa e Esperava Que a Chuva Chegasse), passando pela obra prima absoluta Paraíso Zona Norte (1989), a qual assisti seis vezes e, é claro, pelos dez Prêt-á–Porter, definidos no programa da época como “cenas de naturalismo criadas e desenvolvidas pelos atores e coordenadas por Antunes Filho”.

CAPA DO PROGRAMA/CATÁLOGO DE 1998

       A ligação com o CPT deve-se também à minha participação na oficina de designer sonoro coordenada por Raul Teixeira em 1997 e a uma rápida passagem pelo primeiro Circulo de Dramaturgia em 1998, coordenado pelo Luiz Paetow.

         Creio que tudo isso mais o encontro com gente querida que eu não via há muito tempo, justifique a emoção que senti na noite de ontem (01/06/2022).

2.   A APRESENTAÇÂO

Emerson Danesi, que participa do Prêt-à Porter desde a primeira edição em 1998 e é o atual supervisor das cenas, fez uma rápida e emocionada abertura dedicando o espetáculo de estreia ao saudoso Antunes, que chegou a presenciar os primeiros ensaios das duas primeiras cenas incluídas no programa. Emerson relembrou da frase de Antunes que impulsionou o projeto “O Homem está com saudades do Homem”.

A apresentação seguiu o mesmo esquema das edições anteriores: três cenas com cerca de 20 minutos cada, com dois participantes e mínimos recursos cênicos de cenários, adereços, figurinos, iluminação e trilha sonora: tudo concentrado no trabalho dos intérpretes.

O elenco composto por participantes do último CPTzinho antes da pandemia (2019) apresentou as cenas Borra de Café (Laércio Motta e Rafaella Candido), Missouri River (Guilherme Moilaqua e João Monteiro) e Canção de Ninar (Osmar Pereira e Rafaella Candido).

BORRA DE CAFÉ (Foto Bob Sousa)

MISSOURI RIVER (Foto Bob Sousa)

CANÇÃO DE NINAR (Foto Bob Sousa)

A atriz e os quatro atores mostram notório talento tanto para a escrita como para a atuação e emocionaram o público com suas performances. Uma entonação de voz empostada não caberia jamais nesse tipo de proposta, mas a meu ver, haveria melhor rendimento se o elenco falasse um pouco mais alto. 

3.   O BRINDE

O SESC ofereceu um brinde ao final do espetáculo, onde o público, em grande parte composto por atrizes e atores que participaram do CPT, se congraçou com o guerreiro Emerson Danesi que, como discípulo de Antunes segue o Mestre, mas dá forma a seu modo ao futuro do CPT e com o talentoso elenco desta primeira edição da nova fase do Prêt-à-Porter.

Foto de Alexandre Babadobulos

Muita gente querida presente que não vou nomear aqui, mas senti falta do Geraldo Mário (o querido Geraldinho, figura muito importante tanto do CPT como do projeto Prêt–à–Porter), do Eric Lenate, da Gilda Nomacce, da Silvia Lourenço, da Sabrina Greve e da Nara Chaib Mendes (eu nunca vou perdoar o Antunes por não a ter feito representar a Emily em Nossa Cidade!!!).

Noite memorável e longa vida ao CPT! 

02/06/2022