Páginas

sábado, 15 de outubro de 2022

MUSEU NACIONAL (TODAS AS VOZES DO FOGO)

 

Nossa cultura e nossa história serem consumidas pelo fogo ao final do governo Temer e com a perspectiva de o povo eleger o ser mais ímpio que estas terras já conheceram seria uma poderosa metáfora caso não fosse uma triste realidade o incêndio que tomou conta do Museu Nacional no Rio de Janeiro em setembro de 2018.

A (tentativa da) destruição da nossa cultura usando como exemplo o incêndio ocorrido no Museu Nacional foi o tema escolhido por Vinicius Calderoni e o grupo Barca dos Corações Partidos para o espetáculo ora em cartaz no Teatro Antunes Filho do SESC Vila Mariana. Digo tentativa porque o fogo criado por “eles” jamais destruirá nossa luta em defesa da cultura e de um Brasil melhor.

Mesmo com essa premissa este desavisado espectador se dirigiu ao teatro com a expectativa de assistir a mais um trabalho solar da Barca, no esquema de Gonzagão, Auê, Suassuna e Jacksons do Pandeiro e, a princípio, se decepcionou, ao se deparar com um espetáculo que é muito mais Calderoni do que a Barca e que se aproxima mais do clima de Macunaíma (outro espetáculo da Barca) do que dos acima citados.

Mas os tempos não andam solares, pelo contrário, estão bastante sombrios e ao repensar o espetáculo com a corajosa escrita de Calderoni colocando a mão na ferida e pondo os pingos nos is só posso concordar com a opção de colocar o texto na frente da parte musical, mesmo que as letras das canções tenham tudo a ver com a narrativa proposta.

Problemas técnicos - facilmente solucionáveis durante a curta temporada - com a luz e o som prejudicaram a fluência do espetáculo na noite da estreia.

Acostumado com as fantásticas coreografias criadas por Duda Maia para a Barca, achei aquelas criadas por Fabrício Licursi para este trabalho muito esquemáticas e previsíveis. Também fugiu de minha compreensão o conceito por detrás dos figurinos assinados por Kika Lopes e Rocio Moure.

As presenças indígena e negra no elenco são extremamente bem-vindas e têm tudo a ver com a proposta do espetáculo.

Com a parte musical relativamente ofuscada os cinco componentes da Barca (Adrén Alves, Alfredo Del-Penho, Beto Lemos, Eduardo Rios e Ricca Barros) brilham cada vez mais como atores. Senti a falta de Fabio Enriquez (que já não participou do Jacksons presencial) e de Renato Luciano (presente na plateia, mas não no palco).

Cabe destacar a presença de excelentes artistas convidados como a indígena Rosa Peixoto, a poderosa Ana Carbatti dando vida à nossa ancestral Luzia, Adassa Martins, Aline Gonçalves (que além de atriz é exímia flautista), Felipe Frazão (responsável por excelentes momentos solos do espetáculo) e de Lucas dos Prazeres e Luiza Loroza que já admirávamos desde Jacksons do Pandeiro.

A temporada do espetáculo com certeza vai equilibrar o teatro de Vinicius Calderoni com aquele da Barca dos Corações Partidos e este espectador, admirador tanto de um como do outro, gostaria de revê-lo também com a expectativa equilibrada.

Museu Nacional fica em cartaz no SESC Vila Mariana com sessões de quinta a sábado às 21h e aos domingos às 18h até 29 de outubro, véspera do dia que eu espero que seja aquele em que o povo brasileiro (ou parte dele) comece a devolver os ratos para o esgoto.

 

VIVA VINICIUS CALDERONI!

VIVA A BARCA DOS CORAÇÕES PARTIDOS!

VIVA A PRESERVAÇÂO DA NOSSA MEMÓRIA E DA NOSSA CULTURA!

VIVA O NOSSO TEATRO!!

 

15/10/2022

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário