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domingo, 16 de outubro de 2022

O CANTO DO CISNE

 

Foto de João Caldas

UMA NOITE DE CELEBRAÇÂO DA LIBERDADE

No final do ano de 1970 estreava no Areninha (andar superior do icônico Teatro de Arena) o espetáculo Teatro Jornal (Primeira Edição) idealizado por Augusto Boal para driblar a férrea censura imposta pela ditadura civil-militar. O elenco era composto por jovens egressos de um curso de teatro, entre eles Dulce Muniz, Denise Falotico (hoje, Del Vecchio) e Celso Frateschi. No mesmo ano estreava a última montagem do Arena (A Resistível Ascenção de Arturo Ui) e pouco depois o Arena deixava de existir. Naqueles anos de triste memória Boal e Guarnieri cantavam em Arena Conta Zumbi (1965):

“Triste tempo presente

Em que falar de amor e flor

É esquecer que tanta gente

Tá sofrendo tanta dor”

        50 anos depois vivemos outro “triste tempo presente” com um governo maldito que esperemos que comece a acabar em 30 de outubro.

        Na noite de 15 de outubro de 2022 Celso Frateschi estreou no Teatro Anchieta o espetáculo O Canto do Cisne em comemoração aos seus 52 anos de vida teatral.

        O Canto do Cisne é uma curta peça em um ato que o autor russo Anton Tchekhov (1860-1904) chamou de “estudo dramático” onde o velho ator Vassili rememora momentos de sua carreira com o ponto Nikita (antiga função que consistia em soprar as falas para os atores quando estes se esqueciam das mesmas). Dependendo das inserções que o intérprete faça de trechos das peças rememoradas, uma encenação desse texto pode durar uma ou três horas.

        Mantendo excelente equilíbrio cênico a montagem de Vivien Buckup dura cerca de uma hora onde Celso/Vassili rememora os trechos de peças de Shakespeare originalmente citados por Tchekhov, mas inclui uma linda homenagem a dois espetáculos brasileiros emblemáticos da resistência teatral nos anos de chumbo Liberdade, Liberdade (citando a fala de abertura, onde Paulo Autran clamava “Eu sou um homem de teatro...”) e Arena Conta Zumbi (“Minha voz não pode muito, mas gritar eu bem gritei...Por querer liberdade.”).

        O espetáculo oferece mais uma excelente atuação de Celso Frateschi, com certeza um dos melhores atores do teatro brasileiro, além de grande ativista pela liberdade e pelos direitos humanos. Celso está muito bem acompanhado em cena por Thais Ferrara, um/uma Nikita cômica e humana na medida certa.

        O espaço cênico criado por Sylvia Moreira, bastante poético, remete a um palco vazio com elementos como um pilar grego e estrelas ao fundo. Os figurinos também são assinados por Sylvia.

A luz de Wagner Freire, o importante visagismo de Leopoldo Pacheco (o velho Vassili esqueceu de tirar a maquiagem!) e a linda trilha de Dan Maia completam a ficha técnica desta cuidada e bela produção.

Não bastasse a emoção gerada pelo espetáculo, o professor/pesquisador Welington Andrade subiu ao palco ao final do espetáculo e, após aguardar os aplausos do público e as manifestações pró Lula, prestou uma emocionada homenagem a Frateschi, relembrando sua carreira e sua atuação como cidadão brasileiro.

E a emoção não parou por aí! Presente na plateia a mais que querida Luiza Erundina que foi alvo de uma salva de palmas tão intensa quanto aquela antes dirigida a Frateschi e ao espetáculo.

Noite memorável que só podia terminar com um coquetel oferecido no saguão do também icônico Teatro Anchieta. Muitos abraços e muitos votos de esperança em um Brasil melhor. 

O Canto do Cisne faz parte do projeto O Teatro de Onde Eu Venho que marca os 50 anos da carreira de Celso Frateschi. Realizado pelo SESC Consolação de outubro a dezembro. (vide detalhes na programação da unidade) 

16/10/2022

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