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domingo, 11 de junho de 2023

LEMBRAR É RESISTIR

 

Não só a queda das torres gêmeas em Nova York faz do dia 11 de setembro uma data de triste lembrança, 28 antes nesse mesmo dia uma junta militar liderada pelo truculento Augusto Pinochet enterrava o governo socialista de Salvador Allende no Chile, dando início a uma das ditaduras mais violentas e assassinas ocorridas na América Latina naquele período. O Brasil já havia inaugurado a temporada das ditaduras latino americanas em 1964, seguido pela Bolívia, Argentina, Peru, Equador e Uruguai, sem contar o “hors concours” Paraguai que já vinha com esse abominável regime desde 1954 liderado por Alfredo Stroessner.

        Eu era recém casado no ano de 1973 e lutava contra a terrível ditadura brasileira da maneira que me era possível denunciando a mesma por meio de espetáculos de teatro universitário.

        Paradoxalmente, trabalhava em uma multinacional durante o dia (Philips) e fazia teatro militante à noite e nos fins de semana. Era bem aquilo: “minha voz não pode muito, mas gritar eu bem gritei”.

        Nesse cenário desolador se via com muita esperança a experiência chilena com as ações do governo de Salvador Allende.

        Eu trabalhava em uma unidade da Philips em Santo Amaro, mas naquele 11 de setembro havia uma reunião em uma fábrica em Capuava e estava me dirigindo para lá quando comecei a ouvir no rádio do carro as notícias do golpe militar chileno: a senha “Chove em Santiago”, as ações em Valparaiso, o ataque ao Palácio La Moneda e o suicídio de Allende. Tudo muito triste. O sonho terminava ali e o pesadelo que se seguiu foi muito maior do que se podia imaginar: a perseguição de tanta gente, a dura repressão, o confinamento e as torturas no Estádio Nacional (comenta-se que o cantor Victor Jara teve as mãos amputadas pelos sanguinolentos soldados), a morte e o enterro de Pablo Neruda.

        Cheguei arrasado à reunião e tive que me fantasiar de bom moço para discutir aqueles assuntos burocráticos que para mim não tinham a menor importância face à dimensão da tragédia que naquele momento estava ocorrendo no Chile e que se estendeu por 17 anos até 1990. O que é mais triste é que neste 2023 os chilenos voltem a escolher governos conservadores de direita. A história não nos ensina nada??

        Todas essas lembranças vieram à tona por conta da importantíssima exposição EVANDRO TEIXEIRA CHILE 1973 ora em cartaz no Instituto Moreira Salles até 31/07.

        A primeira sala da exposição mostra fotos realizadas pelo fotógrafo no Brasil no turbulento período de 1964 a 1973.

      Todo o resto do espaço é dedicado às fotos realizadas no Chile em 1973, incluindo uma sala toda dedicada ao velório e ao enterro do poeta Pablo Neruda. Ao visitar esta sala, segure uma lágrima se for capaz.



O povo vendo passar o enterro de Pablo Neruda

        A emoção e a indignação são sentimentos difíceis de conter perante o que se vê nesta oportuna e importantíssima exposição que deveria servir de alerta para aqueles que ainda pensam serem esses os melhores regimes, infelizmente essa gente não virá jamais visitar esse trabalho.

        11/06/2023

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Desaparecido - O Grande Mistério de Costa Gravas mostra este período trágico ...

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