Não só a queda das
torres gêmeas em Nova York faz do dia 11 de setembro uma data de triste
lembrança, 28 antes nesse mesmo dia uma junta militar liderada pelo truculento
Augusto Pinochet enterrava o governo socialista de Salvador Allende no Chile,
dando início a uma das ditaduras mais violentas e assassinas ocorridas na
América Latina naquele período. O Brasil já havia inaugurado a temporada das
ditaduras latino americanas em 1964, seguido pela Bolívia, Argentina, Peru,
Equador e Uruguai, sem contar o “hors concours” Paraguai que já vinha com esse
abominável regime desde 1954 liderado por Alfredo Stroessner.
Eu
era recém casado no ano de 1973 e lutava contra a terrível ditadura brasileira
da maneira que me era possível denunciando a mesma por meio de espetáculos de
teatro universitário.
Paradoxalmente, trabalhava em uma
multinacional durante o dia (Philips) e fazia teatro militante à noite e nos
fins de semana. Era bem aquilo: “minha voz não pode muito, mas gritar eu bem
gritei”.
Nesse
cenário desolador se via com muita esperança a experiência chilena com as ações
do governo de Salvador Allende.
Eu
trabalhava em uma unidade da Philips em Santo Amaro, mas naquele 11 de setembro
havia uma reunião em uma fábrica em Capuava e estava me dirigindo para lá
quando comecei a ouvir no rádio do carro as notícias do golpe militar chileno:
a senha “Chove em Santiago”, as ações em Valparaiso, o ataque ao Palácio La
Moneda e o suicídio de Allende. Tudo muito triste. O sonho terminava ali e o
pesadelo que se seguiu foi muito maior do que se podia imaginar: a perseguição
de tanta gente, a dura repressão, o confinamento e as torturas no Estádio Nacional
(comenta-se que o cantor Victor Jara teve as mãos amputadas pelos
sanguinolentos soldados), a morte e o enterro de Pablo Neruda.
Cheguei
arrasado à reunião e tive que me fantasiar de bom moço para discutir aqueles
assuntos burocráticos que para mim não tinham a menor importância face à dimensão
da tragédia que naquele momento estava ocorrendo no Chile e que se estendeu por
17 anos até 1990. O que é mais triste é que neste 2023 os chilenos voltem a
escolher governos conservadores de direita. A história não nos ensina nada??
Todas
essas lembranças vieram à tona por conta da importantíssima exposição EVANDRO
TEIXEIRA CHILE 1973 ora em cartaz no Instituto Moreira Salles até 31/07.
A primeira sala da exposição mostra fotos realizadas pelo fotógrafo no Brasil no turbulento período de 1964 a 1973.
Todo o resto do espaço é dedicado às fotos
realizadas no Chile em 1973, incluindo uma sala toda dedicada ao velório e ao
enterro do poeta Pablo Neruda. Ao visitar esta sala, segure uma lágrima se for
capaz.
A
emoção e a indignação são sentimentos difíceis de conter perante o que se vê
nesta oportuna e importantíssima exposição que deveria servir de alerta para
aqueles que ainda pensam serem esses os melhores regimes, infelizmente essa
gente não virá jamais visitar esse trabalho.
11/06/2023
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirDesaparecido - O Grande Mistério de Costa Gravas mostra este período trágico ...
ResponderExcluir