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terça-feira, 1 de agosto de 2023

DIAS FELIZES

 

 

“Ah, que dia feliz, este terá sido mais um dia feliz!”

(Winnie)

O requinte áudio visual (trilha sonora, cenografia, iluminação, figurinos e visagismo) já é uma marca registrada do encenador Cesar Ribeiro desde Esperando Godot montado em 2017 na pequena Sala Piscina do extinto Viga Espaço Cênico, passando por O Arquiteto e o Imperador da Assíria (2021) e culminando com Dias Felizes em 2023.

Como nas montagens anteriores o encenador assina a potente trilha sonora que vai desde Caetano Veloso (Cucurrucucu Paloma) até The Beatles (Tomorrow Never Knows); volta a trabalhar com Telumi Hellen (figurinos), J.C. Serroni (a caótica cenografia com a famosa montanha que abriga a personagem Winnie e cabeças espalhadas pelo chão). A significativa e bela iluminação que comenta toda a ação da peça desta vez é de Domingos Quintiliano e o impactante visagismo é de Louise Helene.

De nada adiantaria tanto apuro visual se não houvesse elenco à altura do insólito texto de Samuel Beckett, traduzido por Fábio de Souza Andrade (Ribeiro também usou a tradução de Souza Andrade em sua encenação de Esperando Godot).

Helio Cícero encarrega-se do papel de Willie, o companheiro de Winnie, com pequenas, mas significativas, literalmente, “saídas do buraco” onde parece viver.

Todas as honras para Lavínia Pannunzio, atriz de tantos méritos em outras encenações que aqui atinge sua plenitude como intérprete. Sua composição de Winnie quase que exclusivamente focada nas expressões faciais é de incrível precisão fazendo o público sentir sua extrema solidão e as tentativas para sair desse isolamento.

A Winnie de Lavínia se soma e, a meu modo de ver, supera em sutileza aquelas que já vi anteriormente: Fernanda Montenegro (1996), Norma Bengell (2010) e a excelente atriz gaúcha Sandra Dani (2014).

Enterrada até a cintura no primeiro ato e depois até o pescoço no segundo ato, a Winnie de Lavínia Pannunzio incomoda, emociona e até nos faz sorrir de suas misérias humanas, que também são nossas.

O espetáculo de Cesar Ribeiro e a interpretação de Lavínia Pannunzio ficarão para sempre na memória dos poucos privilegiados espectadores que tiveram a possibilidade de assistir a mais esse grande momento do nosso teatro que cumpriu curta temporada no Teatro Cacilda Becker.

Que venham novas temporadas!

 

01/08/2023

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