Tive uma emocionante
e gratificante experiência na tarde de ontem ao assistir ao
espetáculo/palestra/bate papo de e com Dulce Muniz, grande atriz nem sempre
lembrada pela crítica, dona de imenso talento e, principalmente, batalhadora
incansável pelos direitos humanos e pela liberdade de expressão. A lucidez e a
memória privilegiada de Dulce são dignas de respeito e admiração, além de serem
patrimônio não só da história do teatro paulistano, mas também da história do
nosso país.
A atriz inicia o
espetáculo comentando sobre a síndrome de fibromialgia que a abateu tempos
atrás e segue falando de sua trajetória desde a infância em São Joaquim da
Barra e as primeiras dores que sentiu, tanto físicas como morais (ao ter que
devolver uma boneca que haviam lhe dado de presente), passando pela
adolescência quando ocorre o golpe civil militar de 1964 e segue adiante até os
nossos dias.
Por ter quase a mesma
idade de Dulce me identifiquei com vários aspectos de sua trajetória: o grupo
escolar, as professoras do primário, as aulas de latim e canto orfeônico e a
descoberta do mundo por meio de alguns professores iluminados.
A emoção permeia toda
a apresentação e, em especial, em cenas como aquela sobre Billie Holiday e as
recriações de interpretações marcantes da vida da atriz.
Dulce Muniz é
acompanhada ao violino por Beto Kapta e a ambientação cênica que inclui
objetos, discos, figurinos e bandeiras caros à atriz é de autoria do Núcleo
184.
Eu assisti ao
primeiro trabalho de Dulce Muniz no teatro paulistano, trata-se do Teatro de
Jornal de 1970, concebido por Augusto Boal no Teatro de Arena onde
ela tinha por companheiros de cena Edson Santana, Celso Frateschi, Denise
Falotico (hoje, Del Vecchio), Elísio Brandão e Helio Muniz. Éramos todos jovens
e acreditávamos que íamos mudar o mundo!
Dulce Muniz se
apresenta em seu teatro que leva o nome de Teatro Studio Heleny Guariba,
em homenagem à sua professora e diretora teatral, barbaramente torturada, morta
e corporalmente desaparecida pelas mãos masmorrentas da ditadura civil militar.
Ao final do
espetáculo, a emoção só se intensificou com a conversa com o público que
revelou para mim a presença de Elza com quem tive grande contato em 1965
durante as apresentações de Morte e Vida Severina no TUCA
e também contou com um apaixonado relato do muito querido Rogerio Tarifa sobre
Dulce Muniz.
HAJA CORAÇÃO!
06/08/2023
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