Um pouquinho de história não faz mal a ninguém.
Em 2010 estreou em
Paris a peça Le Prénom de autoria de Matthieu Delaporte e Alexandre de
la Patellière.
Em 2012 foi realizado o filme dirigido pelos próprios autores, com o mesmo nome e com praticamente o mesmo elenco (só se trocou o ator que interpretava o papel de Pierre)
Com o título
brasileiro de Qual o Nome do Bebê? o filme estreou em São Paulo em 2013.
Fiquei absolutamente entusiasmado com a trama que mostra uma reunião familiar
que começa suavemente e alguns fatos surgidos fazem com que se inicie uma
ferrenha discussão onde se lava muita roupa suja e muitas verdades vêm à tona. O
fato gerador no caso, era o nome (Adolf) que um dos parentes iria dar ao bebê que
vai nascer. Algo no estilo de Deus da Carnificina de Yasmina Reza e da
matriz absoluta para esse tipo de trama que é Quem Tem Medo de Virginia Woolf?
de Edward Albee, mas tratado de forma bastante original e divertida...se não
fosse trágica!
No
mesmo ano adquiri o DVD e revi o filme várias vezes pensando seriamente em
trazer a peça para os palcos paulistanos.
Encomendei
o texto na livraria Aliança Francesa e quando ele chegou ousei usar o
meu parco francês para fazer a versão brasileira, mas traduzir uma peça teatral
não é coisa para amadores! Após desistir, pensei em conversar com a Clara
Carvalho para ver a possibilidade de ela fazer a tradução.
O
tempo passou e acabei esquecendo do assunto.
No
início de 2023 assisti ao filme italiano de 2015 intitulado O Nome do Filho
(Il Nome del Figlio) dirigido por Francesca Archibugi, também baseado na
peça, com o nome do bebê trocado de Adolf para Benito e a chama de montar a
peça voltou a se acender.
Pensei:
se na França o nome do bebê seria Adolf e na Itália, Benito; qual poderia ser o
nome do bebê na versão brasileira que geraria tanta confusão? Getúlio,
Humberto, Artur, Emílio, Ernesto, João, Jair Messias??
Um
mês depois encontrei a querida Clara Carvalho nas Oficinas Culturais Oswald
de Andrade e perguntei a ela se poderia fazer a versão brasileira da peça.
-
Mas eu já fiz! respondeu Clara surpresa e completou E a produção
do Cesar Baccan já está em andamento.
E assim terminou meu sonho de um dia produzir uma peça de teatro e chegou o dia de assistir à montagem dirigida por Elias Andreato. Qual será o nome do bebê brasileiro?
A
montagem paulista
Em primeiro lugar, creio que foi bem acertada
a decisão de não abrasileirar o nome do bebê, pois além de provocar polêmicas
desnecessárias a peça perderia em sutileza; afinal a revolução familiar e a
intolerância entre as pessoas provocada pelo nome do bebê achariam outra razão
para explodir, pois ela estava latente em cada uma das pessoas daquela família.
Diga-se
que a versão brasileira de Clara Carvalho é muito fiel ao texto francês.
De
posse dessa dramaturgia exemplar cheia de reviravoltas surpreendentes, Elias
Andreato realiza talvez sua direção mais bem sucedida conduzindo a trama com
mão firme e de maneira bastante ágil, sem nenhum ponto morto; para tanto
necessitava de elenco talentoso e com boa química... e talento e química é que
não falta a Bianca Bin, Cesar Baccan, Eduardo Pelizzari, Lilian Regina e
Marcelo Ullmann, todos ótimos e extremamente à vontade em cena, com bom tempo
tanto de tensão como de comédia.
Atrás
de seu rótulo de comédia (e ri-se muito durante a apresentação) a peça revela
como o ser humano é intolerante, preconceituoso e individualista,
características nem um pouco engraçadas.
O
cenário realista de Rebeca Oliveira reproduz a sala de estar de uma família de
intelectuais de classe média; desenho de luz de Wagner Pinto e figurinos
discretos e adequados de Anne Cerutti.
O
Nome do Bebê junto com Escombros, Mutações e Dias Felizes,
insere-se entre os grandes espetáculos deste segundo semestre e com certeza
estará na lista dos melhores do ano.
Teatro
da mais alta qualidade, O Nome do Bebê é IMPERDÍVEL!
Em
cartaz no SESC Ipiranga até 20 de agosto às sextas e aos sábados às 20h e aos
domingos às 18h.
07/08/2023
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