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terça-feira, 2 de julho de 2024

HEDDA GABLER

 


Depois que, em 1879, Nora bateu a porta da casa de bonecas dando adeus à burguesa vida familiar, Ibsen abriu uma fase de ouro em sua produção dramatúrgica criando quase anualmente obras primas como Espectros (1881), Um Inimigo do Povo (1882), O Pato Selvagem (1883), Rosmersholm (1886), A Dama do Mar (1888) e finalmente Hedda Gabler (1890).

Esta última foi a escolhida pelo Círculo de Atores para sua próxima realização.

        Hedda Gabler é uma peça difícil por retratar Hedda, uma personagem contraditória com a qual as outras personagens, com exceção do Juiz Brack, não sabem como lidar. Esse jogo complexo é um desafio para a direção da peça. Mais uma vez a premiada Clara Carvalho se sai muito bem desse tipo de desafio.

        Não encontro termo melhor para definir este trabalho, trata-se de uma direção cristalina: limpa, transparente e original como a água de uma fonte.

        A direção do ótimo elenco é exemplar na uniformidade do todo, sem deixar de destacar cada um,  a começar pela presença luminosa de Chris Couto em pequena, mas marcante participação.

        Com sua bela e potente voz, Nábia Villela se destaca tanto na interpretação da parte cantada da trilha, especialmente criada por Gregory Slivar, como a empregada da casa.

        Mariana Leme se impõe no difícil papel de companheira rejeitada. Bela e imponente presença em cena que em certos momentos me lembrou a dignidade e a classe da saudosa Cleyde Yáconis.

        Carlos de Niggro responde com talento pelo personagem de Lovborg.

        A virilidade de Jorge Tesman se contrapõe à sua insegurança e timidez e Guilherme Gorski sabe jogar com essa contradição na composição de seu personagem.

        Sergio Mastropasqua empresta seu talento e sua classe para compor o frio e perverso Juiz Brack.

        Karen Coelho foi uma escolha perfeita para o papel de Hedda, mesclando sua aparente fragilidade física com as ações onde defende com unhas e dentes os seus pontos de vista. Com este trabalho Karen se impõe como um dos grandes talentos jovens do nosso teatro.

        Dispondo desse texto e desse elenco de ouro, Clara conta ainda com a significativa cenografia de Chris Aizner que coloca até uma linda varanda no exíguo palco do auditório do Masp, a iluminação assinada por Nicolas Caratori , os figurinos de autoria de Marichilene Artisevskis e a incrível trilha sonora de Gregory Slivar executada ao vivo que comenta e complementa cada ação da peça.

        A preparação vocal realizada por Babaya Morais, aliada ao talento dos atores, permite que o público entenda o texto, apesar das péssimas condições acústicas do auditório do MASP

        Desse dilúvio de talentos só podia resultar um espetáculo com o quilate de Hedda Gabler.

        NÃO DEIXE DE VER.

 

        HEDDA GABLER está em cartaz no Auditório do MASP até 25/08 às sextas e aos sábados às 20h e aos domingos às18h

 

        02/07/2024

 

 

       

       

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