Depois que, em 1879,
Nora bateu a porta da casa de bonecas dando adeus à burguesa vida familiar,
Ibsen abriu uma fase de ouro em sua produção dramatúrgica criando quase
anualmente obras primas como Espectros (1881), Um Inimigo do Povo
(1882), O Pato Selvagem (1883), Rosmersholm (1886), A Dama do
Mar (1888) e finalmente Hedda Gabler (1890).
Esta última foi a
escolhida pelo Círculo de Atores para sua próxima realização.
Hedda
Gabler é uma peça difícil por retratar Hedda, uma personagem contraditória com
a qual as outras personagens, com exceção do Juiz Brack, não sabem como lidar.
Esse jogo complexo é um desafio para a direção da peça. Mais uma vez a premiada
Clara Carvalho se sai muito bem desse tipo de desafio.
Não
encontro termo melhor para definir este trabalho, trata-se de uma direção
cristalina: limpa, transparente e original como a água de uma fonte.
A
direção do ótimo elenco é exemplar na uniformidade do todo, sem deixar de
destacar cada um, a começar pela
presença luminosa de Chris Couto em pequena, mas marcante participação.
Com
sua bela e potente voz, Nábia Villela se destaca tanto na interpretação da
parte cantada da trilha, especialmente criada por Gregory Slivar, como a
empregada da casa.
Mariana
Leme se impõe no difícil papel de companheira rejeitada. Bela e imponente
presença em cena que em certos momentos me lembrou a dignidade e a classe da
saudosa Cleyde Yáconis.
Carlos
de Niggro responde com talento pelo personagem de Lovborg.
A
virilidade de Jorge Tesman se contrapõe à sua insegurança e timidez e Guilherme
Gorski sabe jogar com essa contradição na composição de seu personagem.
Sergio
Mastropasqua empresta seu talento e sua classe para compor o frio e perverso
Juiz Brack.
Karen
Coelho foi uma escolha perfeita para o papel de Hedda, mesclando sua aparente
fragilidade física com as ações onde defende com unhas e dentes os seus pontos
de vista. Com este trabalho Karen se impõe como um dos grandes talentos jovens
do nosso teatro.
Dispondo
desse texto e desse elenco de ouro, Clara conta ainda com a significativa
cenografia de Chris Aizner que coloca até uma linda varanda no exíguo palco do
auditório do Masp, a iluminação assinada por Nicolas Caratori , os figurinos de
autoria de Marichilene Artisevskis e a incrível trilha sonora de Gregory Slivar
executada ao vivo que comenta e complementa cada ação da peça.
A
preparação vocal realizada por Babaya Morais, aliada ao talento dos atores,
permite que o público entenda o texto, apesar das péssimas condições acústicas
do auditório do MASP
Desse
dilúvio de talentos só podia resultar um espetáculo com o quilate de Hedda
Gabler.
NÃO
DEIXE DE VER.
HEDDA
GABLER está em cartaz no Auditório do MASP até 25/08 às sextas e aos sábados às
20h e aos domingos às18h
02/07/2024
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