Ousadia talvez seja a palavra que mais se aplique ao espetáculo que encerra sua temporada neste domingo, 24 no SESC Pinheiros.
Ousadia do dramaturgo Samir Yazbek que saiu da zona de conforto de sua dramaturgia sempre bem recebida tanto pela crítica como pelo público para se arriscar por campos “nunca dantes navegados” por ele.
Ousadia do produtor Fernando Padilha e do diretor Ulysses Cruz de embarcarem no voo futurista de Samir produzindo/dirigindo um espetáculo complexo que talvez provocasse um descaso do público acostumado aos trabalhos anteriores de Samir.
A produção caprichada da peça inclui os nomes de Aline Santini, responsável pela magnífica e surpreendente iluminação, dos Irmão Lessa, responsáveis pela poderosa trilha sonora que envolve o público desde sua entrada na sala do teatro e de Bijari que assina o cenário. Pela complexidade da encenação um contingente de mais de trinta pessoas faz parte da ficha técnica da mesma.
Trata-se de uma trama futurista que remete à nossa contemporaneidade quando se realiza que os agregados da peça podem ser os imigrantes, ou migrantes ou ainda qualquer ser menos favorecido e que as cópias do grande ditador podem ser as milhares de pessoas que se hipnotizam com os discursos de fascistas de extrema direita como os ex-presidentes dos Estados Unidos e do Brasil e os seguem cegamente sendo até mais radicais do que sua matrizes. Esses seguidores podem não ser cópia física do original, mas suas cabeças e ações o são. Isso é muito assustador e é nessa ferida que Samir põe a mão e Ulysses traduz cenicamente de forma poderosa.
Louve-se também o elenco formado por Luma Litaiff em pequena, mas perfeita composição, Sol Menezes como a esposa do ditador, ela também uma agregada, Gustavo Machado como o Cientista que produz as tais cópias fieis e a presença surpreendente de Sergio Guizé que compõe o ditador/comandante e suas cópias com muito talento.
O final da peça deixa muito claro que esses movimentos de extrema direita conduzem a um trágico desfecho com líder hitlerista se dirigindo à manada que é sua cópia, por isso, citando Caetano Veloso, “é preciso estar atento e forte” e com olhos bem abertos para evitar o pior.
A meu ver é isso que corajosamente Samir Yazbek denuncia e alerta neste trabalho, que com certeza terá repercussão em suas futuras escritas. È o Samir Yazbek, necessariamente político, dos novos tempos.
É pena que Perfeita! saia de cartaz no dia em que escrevo esta matéria, mas aqui uso uma frase que aparecia na última cena do filme A Hora Final (On the beach) de 1958: “Ainda há tempo, irmãos!”.
AINDA HÀ TEMPO de assistir a este importante espetáculo hoje.
AINDA HÁ TEMPO de evitar que se chegue à situação que o espetáculo mostra.
PERFEITA! faz sua última apresentação no Teatro Paulo Autran do SESC Pinheiro hoje às 18h. Que venham novas temporadas!
24/11/2024