Lembrar É Resistir foi o título de uma
encenação realizada no Prédio do antigo Departamento de Ordem Política e Social
(Dops) em 1999 (a peça era apresentada nas celas onde pessoas foram torturadas
e mortas durante a ditadura militar brasileira) e esse também poderia ser o
título do pungente espetáculo criado pelos Fernandos (ela, Azevedo ; ele, Kinas)
da Kiwi Companhia de Teatro, em cartaz às sextas e sábados às 20h e aos
domingos às 19h no Teatro Grande Otelo Sótão até 28 de abril.
Literamente
vestindo a camisa dos presos torturados e mortos nas ditaduras latino
americanas, Fernanda desfila uma série de situações indicando que o monstro
ainda está vivo e resistir é preciso. Por meio de metáforas e situações lúdicas
são mostrados os tipos de tortura executadas pelos poderosos (afogamento,
asfixia) e até um inocente joguinho de terra e mar é usado para mostrar como
funcionavam os terríveis voos da morte, muito aplicados na Argentina e no
Brasil (supõe-se que Rubens Paiva tenha sido executado dessa maneira).
Divulgação
A
alienação da população e o colaboracionismo (ativo ou passivo) são mostrados
por meio de uma sessão musical onde Fernanda mostra seus dons de percursionista
e de uma cena onde travestida de Carmen Miranda ela entoa Disseram Que Eu Voltei Americanizada.
Deste
modo, tratando de assunto tão grave, o espetáculo, da melhor forma
épico-brechtiana, é leve, porém, bastante didático, levando o público a
refletir sobre os fatos mostrados. Outro
eficiente recurso de distanciamento é aquele que situa a idade da atriz na
ocasião do fato narrado. (“Eu, Fernanda, tinha três anos, quando foi instalada
a ditadura militar na Argentina, em 1976”).
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Boa
parte do texto apresentado provém do texto homônimo do escritor grego Dimitris
Dimitriadis sendo que o mesmo já serviu de base para uma encenação portuguesa
do Colectivo 84 em 2010, dirigida por John Romão, provando o quanto é
contundente e revelador.
Conforme
informação do diretor Fernando Kinas, o espaço cênico da montagem é muito parecido
com algumas salas da Escuela de Mecánica
de La Armada (ESMA), local em Buenos Aires, onde eram concentrados,
torturados e desaparecidos aqueles considerados inimigos da ditadura militar.
Morro Como Um País é um espetáculo muito
sério, oportuno e urgente para ser assistido, digerido e refletido por jovens
que não viveram aqueles dias de triste memória, talvez desconheçam os fatos
ocorridos e de quem depende o futuro do mundo. É preciso lembrar sempre que “Eu
sou os que foram”.
Lendo suas observações me deu vontade de assistir.
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