quinta-feira, 7 de março de 2013

A URGÊNCIA DE "MORRO COMO UM PAÍS"



                Lembrar É Resistir foi o título de uma encenação realizada no Prédio do antigo Departamento de Ordem Política e Social (Dops) em 1999 (a peça era apresentada nas celas onde pessoas foram torturadas e mortas durante a ditadura militar brasileira) e esse também poderia ser o título do pungente espetáculo criado pelos Fernandos (ela, Azevedo ; ele, Kinas) da Kiwi Companhia de Teatro, em cartaz às sextas e sábados às 20h e aos domingos às 19h no Teatro Grande Otelo Sótão até 28 de abril.
                Literamente vestindo a camisa dos presos torturados e mortos nas ditaduras latino americanas, Fernanda desfila uma série de situações indicando que o monstro ainda está vivo e resistir é preciso. Por meio de metáforas e situações lúdicas são mostrados os tipos de tortura executadas pelos poderosos (afogamento, asfixia) e até um inocente joguinho de terra e mar é usado para mostrar como funcionavam os terríveis voos da morte, muito aplicados na Argentina e no Brasil (supõe-se que Rubens Paiva tenha sido executado dessa maneira).
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                A alienação da população e o colaboracionismo (ativo ou passivo) são mostrados por meio de uma sessão musical onde Fernanda mostra seus dons de percursionista e de uma cena onde travestida de Carmen Miranda ela entoa Disseram Que Eu Voltei Americanizada.
                Deste modo, tratando de assunto tão grave, o espetáculo, da melhor forma épico-brechtiana, é leve, porém, bastante didático, levando o público a refletir sobre os fatos mostrados.  Outro eficiente recurso de distanciamento é aquele que situa a idade da atriz na ocasião do fato narrado. (“Eu, Fernanda, tinha três anos, quando foi instalada a ditadura militar na Argentina, em 1976”).
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                Boa parte do texto apresentado provém do texto homônimo do escritor grego Dimitris Dimitriadis sendo que o mesmo já serviu de base para uma encenação portuguesa do Colectivo 84 em 2010, dirigida por John Romão, provando o quanto é contundente e revelador.
                Conforme informação do diretor Fernando Kinas, o espaço cênico da montagem é muito parecido com algumas salas da Escuela de Mecánica de La Armada (ESMA), local em Buenos Aires, onde eram concentrados, torturados e desaparecidos aqueles considerados inimigos da ditadura militar.
                Morro Como Um País é um espetáculo muito sério, oportuno e urgente para ser assistido, digerido e refletido por jovens que não viveram aqueles dias de triste memória, talvez desconheçam os fatos ocorridos e de quem depende o futuro do mundo. É preciso lembrar sempre que “Eu sou os que foram”.
               

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