Roberto Barbosa
Este é um espetáculo característico da Fraternal Companhia
de Artes e Malas-Artes (grupo formado em 1993) seguindo o modelo
épico/narrativo das peças de Luís Alberto de Abreu escritas para o grupo. O
texto assinado por Alex Moletta tem bons momentos, mas não atinge a “fluidez”
dramatúrgica daqueles de Abreu.
Cinco atores se revezam em interpretar várias personagens
como também em narrar a saga de Mané –Leão de herói do povo a vilão da história
quando passa a ter o poder em suas mãos.
A manipulação da opinião pública, os impostos excessivos (a
cena do povo carregando a carga tributária é emblemática), o abuso do poder são
assuntos vividos por nós nos dias atuais e aparecem no espetáculo de forma
direta e didática, mas também lúdica e divertida com forte apelo popular e
apropriada para apresentação em espetáculos de rua que é um dos objetivos do
grupo (eles têm apresentado os trabalhos em um caminhão). Resta sempre a grande
dúvida de como o público de rua absorve essas denúncias...
A carga tributária
Há uma cena muito forte e bonita onde se reproduz o quadro
do pintor italiano Giuseppe Pellizza de Volpedo (1868-1907) Il Quarto Stato com os rostos originais
sendo substituídos por aqueles dos atores. Assim como no quadro, a cena é uma
alegoria social do povo que avança em direção a um futuro promissor, deixando
para trás a época da opressão.
Il Quarto Stato
É bonito, mas utópico esse final feliz, pois o que vemos nos dias
de hoje está bem longe desse ideal.
No melhor estilo brechtiano o espetáculo é dividido em cenas
que são anunciadas pelos atores/narradores e entremeado por canções
interpretadas pelo elenco bastante homogêneo (Pela experiência com a Fraternal,
estão mais à vontade Aiman Hammoud e Mirthes Nogueira).
A direção, limpa e eficiente, é de Ednaldo Freire.
QUEM PODE, PODE
está em cartaz no Centro Internacional de Teatro Ecum às sextas feiras às 21h e
sábados às 19h até 22/02. Em outros horários o grupo também está apresentando Borandá e Sacra Folia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário