Confesso que tinha certa resistência e receio em ir
assistir ao novo musical sobre Elis Regina. Acompanhei a carreira e, de alguma
maneira, a vida de Elis desde quando ela surgiu em 1964 interpretando Arrastão no Festival da TV Excelsior.
Fui a muitos O Fino da Bossa tanto no
Teatro Record (na Rua da Consolação, hoje Lustres Yamamura) como no Teatro
Paramount (hoje Teatro Renault) e assisti a todos os seus shows. No período em
que morei na Holanda e na França (1977/1978), Elis, “entendendo a minha ausência”,
terminou a longa temporada de Falso Brilhante e se afastou por um tempo para
dar a luz à Maria Rita. Logo depois que voltei, ela estreava Transversal do Tempo no Teatro Brigadeiro.
Depois vieram os shows/espetáculos Essa
Mulher, Saudade do Brasil, Trem Azul e naquele fatídico 19 de janeiro de
1982 ela se foi. Fui ao seu velório no Teatro Bandeirantes, onde ela brilhou
por quase dois anos com Falso Brilhante, e naquele dia comprei todos
os jornais da cidade noticiando a sua morte, creio que para me certificar que
aquilo era mesmo verdade.
Preocupada com o resultado do espetáculo
Faço esse preâmbulo para justificar o porquê de eu estar
receoso em assistir ao espetáculo. Some-se a isso o meu desagrado a certos
musicais cariocas retratando cantores famosos que viraram moda e seguem uma
receita quase padrão (vida, paixão e morte entremeadas com sucessos do
biografado).
Reação após o espetáculo
Finalmente: ELIS, A
MUSICAL! Muito bem produzido o espetáculo apresenta as canções que foram
sucessos de Elis não necessariamente na ordem cronológica, com coreografias
simples e eficientes e com interpretações marcantes de Laila Garin; ela é uma
ótima atriz (remete aos gestos e ao modo de falar de Elis) e excelente cantora
(com sua voz poderosa dá a entonação das interpretações, mas não busca imitar a
voz de Elis). Premio Shell merecidíssimo no Rio de Janeiro e provável candidata
a indicações aqui em São Paulo.
O texto de Nelson Motta e Patrícia Andrade é leve, bem
escrito e segue os pontos marcantes da vida de Elis, sem se ater a questões
polêmicas como seu gênio forte (exceção às cenas com Ronaldo Bôscoli que se
tornam até cômicas) e a morte sob o efeito de drogas. Direção precisa e equilibrada
de Dennis Carvalho.
O espetáculo tem várias cenas antológicas, algumas delas
reconstituindo momentos (também antológicos) da vida de Elis:
- A aula de expressão corporal com Lennie Dale.
- O famoso pot pourri com Jair Rodrigues em O Fino da Bossa.
- O encontro com Tom Jobim e a gravação de Águas de Março.
- A interpretação de Como
Nossos Pais
- O encontro com o Henfil cantando O Bêbado e o Equilibrista é de verter lágrimas!
- A entrevista na TV que culmina com falas sobre seus
três filhos e com a canção Aos Nossos
Filhos.
Todo o elenco é bastante homogêneo, mas o grande destaque
é Laila Garin para quem desejamos uma carreira teatral e musical de muito
sucesso.
Também era fã incondicional de Elis Regina e fiquei muito triste quando ela se foi. Pena os ingressos custarem tão caro. A Rose está arrasando nas fotos, heim, daqui a pouco vai expor em galeria.
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