No dia 26 de março assisti a dois bons espetáculos
provenientes do Rio de Janeiro, o primeiro dentro da Mostra Fringe e o segundo
pertencente à Mostra Oficial.
O QUE RESTOU DO SAGRADO (Fringe)
A companhia carioca Tartufaria
de Atores remonta este texto de Mário Bortolotto apresentado com direção do
autor em 2004 no Espaço dos Satyros em São Paulo. Aqui a direção é de Nirley
Lacerda (o catálogo indica o nome de Ricardo Blat como diretor). O texto cruel
de Bortolotto confina sete personagens numa igreja exigindo que confessem seus
crimes cujas gravidades são crescentes à
medida que cada um faz o seu solo e com o objetivo de uma redenção perante Deus.
O texto é áspero e realista como toda a dramaturgia do autor, mas aqui há uma
discussão do conceito de Deus, fato pouco presente em sua obra.
As personagens são bem interpretadas pelo jovem elenco
que compreendeu o universo de Bortolotto traduzindo com vigor e ritmo a sua proposta.
Os solos sobre as confissões dos crimes permitem o melhor momento de cada um. A
direção discreta de Nirley Lacerda foca-se acertadamente na interpretação dos
atores. A falta de uma ficha técnica com a relação ator/personagem não nos
permite destacar este ou aquele nome, mas cabe lembrar a atriz que desempenha a
prostituta e o ator que interpreta o riquinho mal vestido.
O espaço da Casa Hoffmann adequou-se perfeitamente para o
cenário da peça.
Esta foi a primeira grata surpresa de um espetáculo do
Fringe. Que venham outras!
2 X MATEI (Mostra Oficial)
Junto com Shakespeare, o romeno Matéi Visniec (1956) é
uma das estrelas entre os dramaturgos apresentados no Festival de Curitiba deste
ano; além de 2 X Matei, há outro
espetáculo do autor vindo da Bahia na programação (Espelho Para Cegos).
Foto de Leo Aversa
Esta montagem reúne dois textos curtos do autor
interpretados por Guida Vianna e Gilberto Gawronski que também assina a
direção: O Último Godot e O Rei, o Rato e o Bufão do Rei. A
primeira é uma pequena obra prima onde Godot cobra de Beckett o fato dele não
aparecer em cena na peça Esperando Godot,
nessa ocasião as duas personagens discutem uma eventual finitude do teatro.
Guida Vianna interpreta com muita verve um Godot cujas vestes remetem aos
clowns Vladimir e Estragon da peça de Beckett e Gawronski personifica o Beckett
circunspecto que todos nós imaginamos a partir de sua biografia e de suas fotos.
A peça tem o clima beckettiano, fato ressaltado pelo cenário frio e impessoal. Há
um breve interlúdio entre as duas peças que seria ilustrado por slides que, ao
que tudo indica, não funcionaram nesse dia de estreia. A segunda é mais
colorida e trata-se de uma fábula sobre um rei deposto que está na prisão com
seu bufão aguardando a execução; os ratos estão à espreita e desempenham função
bastante importante na trama. Aqui Guida Vianna dá vazão ao seu histrionismo e
tem mais um excelente desempenho, sendo muito bem acompanhada por aquele de
Gawroski como o hilário rei. Claro que há a participação especial de um rato
para fazer jus ao título da peça!
Espetáculo muito sério, mas com uma carga de humor
amargo, com direção segura de Gilberto Gawronski e supervisão de Amir Haddad.
O pequeno programa da peça é um ótimo exemplo de material
econômico, porém com dados precisos e essenciais sobre o espetáculo.
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