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sábado, 31 de maio de 2014

MALDITO BENEFÍCIO


     Muitos grupos ditos pós-modernos conclamam que o teatro de texto tradicional (também chamado de dramaturgia de gabinete) não dá mais conta dos problemas contemporâneos, então um jovem dramaturgo indo na contramão cria um texto que obedece a todas as regras daquela dramaturgia ainda ensinada nas escolas de teatro e ludicamente, porque nos faz rir muito, também nos faz refletir sobre fatos tão presentes no mundo contemporâneo como a solidão da velhice, os jogos de interesse quando dinheiro é o assunto da conversa, as manipulações, as dificuldades em lidar com os serviços públicos brasileiros e até a solidariedade que surge em situações caóticas. É pouco? NÃO É! E aqui quero parafrasear o crítico de cinema Luiz Zanin Oricchio (que, por sua vez, parafraseou Vinicius de Moraes): “os formalistas que me perdoem, mas um bom roteiro é fundamental!”.
 
 
     Maldito Benefício é um texto muito bem construído de Leonardo Cortez que está em cartaz no Centro Cultural São Paulo com simples e segura direção de Marcelo Lazzaratto. Uma história bastante realista que lembra os primeiros textos de Gianfrancesco Guarnieri e onde o anti-herói chama-se Tião (coincidência ou homenagem, ele é homônimo da personagem de Guarnieri em Eles Não Usam Black Tie).  Tião é um homem bastante estressado em função de suas dificuldades financeiras, com a mulher com um filho na barriga, um pai que mora com eles e um cunhado que explora a sua força de trabalho (Tião dirige um taxi de propriedade do mesmo).  A possibilidade do recebimento de valores retroativos correspondentes a uma correção da aposentadoria do pai vai gerar o maldito benefício que dá título à peça, gerando conflitos, situações engraçadas e até um clima de suspense ao final da história. Engenhosamente a narrativa é pontuada por locuções que remetem àquelas de jogos de futebol e que ilustram o desenvolvimento da ação.
     A peça tem ação em três diferentes ambientes: o açougue de Nunes, o cunhado; o taxi de Tião e a casa do mesmo. Criativamente, o diretor e o cenógrafo Zé Valdir criaram um espaço único no meio do palco que contempla os três ambientes ao ser girado pelos próprios atores. A iluminação de Lazzaratto ajuda a criar a ambientação necessária para cada situação.
 
     Um espetáculo desse gênero tem que contar com um elenco talentoso que saiba trabalhar na linha realista e talento aqui não é o problema. Glaucia Libertini faz a esposa provinciana e aparentemente submissa que sabe a hora de colocar as mangas de fora, Daniel Dottori é um Nunes amoral e interesseiro, Ricardo Corte Real esbanja simpatia e graça com sua composição do velho Nelson que quase morre antes do tempo e que não é tão inocente como às vezes parece ser. O autor, Leonardo Cortez, reservou para si o papel de Tião e o defende com unhas e dentes, demonstrando muita energia em cena. Ao meu modo de ver, ele deveria começar o espetáculo um pouco mais moderado e fazer sua revolta e indignação crescer ao longo da montagem, evitando uma linearidade na agressividade de sua interpretação.
 
     Maldito Benefício é teatro tradicional dos bons e não deve ser tratado como peça de museu, pois se trata de uma obra tão contemporânea como as que assim se intitulam e que na maioria das vzes não dizem a que vieram.
 
     Como complemento, o texto da peça é distribuído gratuitamente para o público ao final da mesma. Grande serviço prestado pelo Centro Cultural São Paulo para a divulgação da dramaturgia brasileira.
 
     Maldito Benefício, está em cartaz de 16 de maio a 29 de junho no Centro Cultural São Paulo, às sextas e aos sábados às 21h e aos domingos às 20h.
 
     NÃO PERCA ESTA OPORTUNIDADE SE DIVERTIR E REFLETIR SOBRE MUITOS DOS PROBLEMAS DO NOSSO TEMPO.

domingo, 25 de maio de 2014

PALAVRAS, PALAVRAS, PALAVRAS - UM PROJETO BECKETT


Samuel Beckett (1906-1989)
 
     Tenho diante de mim os romances Primeiro Amor e Molloy de Samuel Beckett e fico pensando como foi imenso o mergulho de fazer as transposições cênicas dos mesmos, ora apresentadas por Ana Kfouri no CIT Ecum.
 
 
     Primeiro Amor, de 1945, é um texto escrito na primeira pessoa onde um homem sentado num banco discorre sobre vida, solidão e morte (temas tão caros a Beckett), envolvendo seu pai e uma mulher chamada Lulu. O texto não necessita de adaptação teatral já que se trata de um monólogo que pode ser encenado integralmente em cerca de uma hora. A encenação de Antonio Guedes concentra-se na  atuação de Ana Kfouri sentada numa cadeira, com a sombra de tronco, mãos e cabeça projetados nos vídeos de Helena Trindade, exibidos no chão do espaço cênico.
 
 
     Molloy, publicado em 1951, não deixa de ser um imenso monólogo, mesclado com intervenções de um narrador, que rende 214 páginas da edição que tenho em mãos (contra as 35 de Primeiro Amor), inviabilizando a encenação integral do texto. Isabel Cavalcanti adaptou o romance para uma encenação intitulada Moi Lui (algo como Eu Ele na tradução, mas que só faz sentido em francês para se relacionar com a palavra Molloy) com uma hora de duração. A direção é da adaptadora. Aqui a personagem desloca-se por um cenário árido que envolve as ruas por onde o anti-herói perambula e a casa de sua mãe. A bela iluminação de Tomás Ribas ajuda a criar o clima para as desventuras de Molloy, um maltrapilho perdido em sua solidão e nas tristes lembranças de sua mãe cega e surda.
- Nesta cena de Moi Lui (foto de Lenise Pinheiro), Ana Kfouri até se parece com Beckett -
 
     Duas encenações muito bem realizadas retratando com muita propriedade o universo sombrio, mas com muitos toques de humor de Beckett e que têm em comum a forte presença de Ana Kfouri em duas interpretações antológicas. Tive o privilégio de assistir aos dois espetáculos no mesmo dia e assim poder comparar os dois trabalhos, tão distintos, mas ambos tão profundamente beckettianos: as palavras têm um significado fundamental na obra de Beckett e a perfeita dicção da atriz, aliada à sua presença cênica, revela-se a portadora ideal para a transmissão do universo do autor.
     Primeiro Amor e Moi Lui estão em cartaz no CIT Ecum somente até o próximo domingo, dia 1º de junho. Da minha parte foi uma descoberta tardia já que os espetáculos haviam cumprido temporada no Sesc e estão em cartaz no Ecum desde 26 de abril. Se você fez como eu, corra para assisti-los no próximo fim de semana. Grande oportunidade de ver os excepcionais desempenhos de uma atriz paulista que pouco circula por São Paulo (ela está sediada no Rio de Janeiro) e de desfrutar de duas importantes obras de Samuel Beckett.
     Primeiro Amor – Sábado às 19h e domingo às 18h
     Moi Lui – Sábado às 21h e domingo às 20h

domingo, 18 de maio de 2014

PEQUENAS HISTÓRIAS pelo ENGENHO TEATRAL



     O Engenho Teatral é um grupo dirigido por Luiz Carlos Moreira, criado em 1979 e que em 1993 decidiu retirar-se do circuito comercial para se dedicar a apresentações gratuitas para um público que não tinha acesso ao teatro. Construiu um teatro na forma de pavilhão de circo e com ele rodou por vários pontos da periferia da cidade até fixar-se em 2004 num belo parque dentro do Clube Escola Tatuapé ao lado da estação Carrão do metrô. O repertório do grupo tem uma forte preocupação social e contestatória em relação à voracidade do mundo capitalista, apresentando espetáculos de caráter político, mas de fácil compreensão e de forma bastante lúdica e divertida, no melhor estilo do teatro épico brechtiano. Abaixo, uma foto do teatro criado por Luiz Carlos Moreira.
 
     Curiosamente, ou melhor, compreensivelmente, a imprensa ignora local e trabalho tão importantes para o desenvolvimento de público não publicando uma linha sobre o grupo e dedicando páginas inteiras sobre a estreia de uma peça com atores globais ou sobre mais um musical da Broadway. Coisas do mundo capitalista que é justamente aquilo que o Engenho repudia e denuncia. Pois é...
     Desde outubro de 2013 o grupo vem fazendo uma retrospectiva de alguns de seus trabalhos. Já foram apresentados Cabaré do Avesso, o excelente Opereta de Botequim e agora Pequenas histórias que à História não contam. Até o final do ano ainda serão apresentados Em Pedaços e Outro$ 500. Vale a pena colocar em sua agenda uma visita ao aconchegante espaço do Engenho. Os espetáculos acontecem aos sábados e domingos às 19h e são gratuitos.
 
 
     Mas vamos ao espetáculo a que assisti ontem: Pequenas histórias... Em meio a um programa de televisão liderado por um clone de Chacrinha e às divagações de um dramaturgo/intelectual que é questionado por um coro que critica o teor de sua obra surgem os protagonistas das pequenas histórias: a velha mijona que é despejada de seu barraco (momento forte do espetáculo com uma bela composição de Irací Tomiatto), a menina que sonha em ser modelo, a fã dos ídolos televisivos, a fã do ator Dado Rolabella, o operário padrão da fábrica de sapatos, o maltrapilho alienado e drogado que cometeu um crime e tantos outros para os quais é colocada sempre a mesma questão: que sistema é esse que produz esses seres marginalizados?  Quatro dos atores desdobram-se na interpretação das várias pequenas histórias, restando para Juh Vieira representar o apresentador e o intelectual, o que não é mera coincidência. Moreira faz um espetáculo épico com muitas perguntas, deixando a reflexão sobre elas por conta do público. A saída, onde fica a saída? Pelo menos aquela do teatro é indicada por uma das atrizes ao final do espetáculo! Fica evidente que  o elenco homogêneo e vibrante tem  clara a função social do teatro e o texto e direção de Luiz Carlos Moreira garantem a reflexão sobre os desmandos da sociedade de consumo do mundo capitalista.
 
     NÂO DEIXE DE CONHECER O ESPAÇO DO ENGENHO TEATRAL. Fica muito próximo à estação do metrô Carrão e desenvolve um trabalho não só teatral, mas social e político na zona leste da cidade.
 

segunda-feira, 12 de maio de 2014

VIDAS PRIVADAS ou QUEM TEM MEDO DOS PATRULHEIROS?


 
     Nos anos 1960/1970 de triste memória, se por um lado a ditadura proibia o acesso a qualquer obra que contivesse a menor menção contrária a ela, por outro lado as chamadas patrulhas ideológicas ligadas aos opositores do governo também procuravam cercear o acesso àquelas obras rotuladas de alienadas e pequeno burguesas. Assim, para qualquer militante que se prezasse era “proibido” gostar de A Noviça Rebelde ou de uma música que só falasse de amor e flor. Estamos em 2014, e os ares hoje são outros, mas mesmo assim nos deparamos com reações preconceituosas quanto externamos que gostamos de um musical ou de uma comédia inteligente. Pois bem, patrulheiros de plantão, informo-lhes que adorei Vidas Privadas, em cartaz desde sábado (10/05) no Teatro Jaraguá!
     Vidas Privadas é uma comédia, dita de boulevard, escrita em 1930 pelo dramaturgo inglês Noël Coward (1899-1973) e que tem sua origem nos vaudevilles franceses. A novidade está no modo como o autor trabalha o tema central que trata das dificuldades e das hipocrisias inerentes às relações conjugais. De certo modo, o segundo ato da peça é um precursor das lavagens de roupa de suja de casais que se tornaram constantes no teatro após o advento de Quem Tem Medo de Virginia Woolf de Edward Albee.
Noël Coward
 
     A elegante e divertida peça de Coward encontra sua correspondência na deliciosa montagem de José Possi Neto com tons fortemente cinematográficos dos anos 1930 desde a abertura com os letreiros apresentando a ficha técnica do espetáculo, passando pela trilha sonora de Tunica (que já havia feito a trilha da montagem de 1986, dirigida por Emílio Di Biasi) e Aline Meyer, pelas entradas e saídas precisas do elenco no primeiro ato, pela divertida troca de cenário do primeiro para o segundo ato feita em ritmo de cinema mudo por dois divertidos contra regras e, finalmente,pelo estilo art déco tanto no mobiliário como nos figurinos.
     Para realizar um espetáculo desse tipo é necessário um elenco bonito, carismático e, é claro, talentoso e o diretor foi muito feliz na escolha do mesmo. Lavínia Pannunzio (sempre poderosa em cena e com ótimo tempo de comédia) e José Roberto Jardim (caindo de charme em seu novo look sem barba e com os cabelos mais curtos e “abrilhantinados”) formam o belo par central. Chiques, sofisticados e muito irônicos ambos esbanjam talento e dão um show em cena. Os momentos mais divertidos são divididos com Daniel Alvim e Maria Helena Chira que se saem muito bem principalmente na última parte da peça.
     A encenação de Possi Neto conta com uma ótima equipe de apoio graças à eficiente produção de João Federici: nos cenários (Marco Lima), nos figurinos (Fábio Namatane), na iluminação (Wagner Freire), nas já citadas responsáveis pela trilha sonora e na maquiagem dos atores (caracterização por Westerley Dornellas). Esses elementos conjugados e harmonizados pelo encenador resultam num todo competente e profissional.
     Vidas Privadas é um espetáculo comercial que difere bastante das comédias grosseiras que grassam pela cidade e que merece ser prestigiado por um público que busca entretenimento inteligente e divertido. Em cartaz no Teatro Jaraguá às sextas às 21h30, aos sábados às 21h e aos domingos às 19h.

sábado, 3 de maio de 2014

BILLDOG ou O QUE O KID MORENGUERA TEM A VER COM ISSO?


     Há algo surpreendente a ser descoberto às quartas e quintas feiras no CIT Ecum: BILLDOG .
 
     Munido apenas com sua roupa e uma capa de gangster, Gustavo Rodrigues nos conta a saga de Billdog, perseguido por um misterioso inimigo chamado Shelfy Carpenter que pretende matá-lo por meio de balas de revolver que contém um veneno letal (daí o nome original em inglês Bane). Trilha sonora de Ben Roe tocada ao vivo pelo guitarrista Márcio Tinoco ilustra a história desse mercenário (que para nós é o mocinho da história) num enredo do inglês Joe Bone digno dos melhores filmes de mocinho e bandido, contendo todos os clichês dos mesmos e dos chamados filmes noir americanos como perseguições, encurralamentos, armadilhas e o resultado  surpreendente e muito engraçado. Parece simples. Parece, mas não é.
     No programa da peça, o músico Márcio Tinoco define muito bem o espetáculo: “eletrizante sátira para um ator em 38 personagens e um músico”. É aí que a simplicidade acaba: Gustavo Rodrigues nos conta a história a partir de Billdog, mas vai interpretando todas as 37 personagens que interferem em sua eletrizante aventura. O ator demonstra total domínio das técnicas de mímica e sem nenhum adereço material acende e fuma cigarros, saca revólveres, sobe e desce escadas, dirige motos e carros, chegando ao máximo de interpretar uma cena digna de antologia onde há uma perseguição entre um carro e uma moto (Gustavo quase simultaneamente faz o condutor do carro, sua acompanhante, Billdog na moto e os sons do auto e da moto! Só vendo para crer.). As mudanças de personagem são feitas de maneira sutil com pequenas, mas significativas alterações no gestual e no tom de voz, sem usar certos recursos banais tão comuns entre nossos atores como trocar um chapéu ou quase se jogar no chão para demonstrar que se trata de nova personagem.
     Durante a apresentação não pude deixar de me lembrar da personagem Kid Morenguera, criação de Miguel Gustavo, eternizada por Moreira da Silva na célebre música O Rei do Gatilho.De alguma maneira, Gustavo Rodrigues faz no palco, o que Moreira da Silva fazia no disco e faço essa comparação como um grande elogio ao seu trabalho.
     A dinâmica da peça exige muito fisicamente do ator que transpira bastante e deve perder alguns quilos a cada apresentação. Para dificultar ainda mais ele só tira a pesada capa nos agradecimentos. É muito prazeroso descobrir o trabalho de um talentoso ator praticamente desconhecido em São Paulo.
     A direção do espetáculo feita em conjunto pelo autor e Guilherme Leme limita-se a orquestrar a interpretação do ator e sua movimentação numa bem cuidada iluminação de Willemberg Peçanha com a interpretação das músicas ao vivo pelo guitarrista Márcio Tinoco.
     Ótimo espetáculo, verdadeira aula de interpretação por um nome a ser guardado: Gustavo Rodrigues.
     No melhor estilo “toda fita em série que se preza; dizem, reza; acaba sempre no melhor pedaço” (*) ao final Billdog anuncia para breve novas aventuras. Venham que serão muito bem vindas.
     Billdog está em cartaz no Centro Internacional de Teatro Ecum (Rua da Consolação 1623) às quartas e quintas feiras às 21h somente até 29/05. CORRA PARA VER.
(*) Trecho da música Bala Com Bala de Aldir Blanc e João Bosco.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

TRÁGICA.3 – Momento solene de teatro


 
 
     O espetáculo é formado por três cenas com cerca de 20 minutos cada, a partir das tragédias gregas Antígona (Sófocles), Electra (Eurípedes) e Medeia (Eurípedes). Não são propriamente monólogos, pois há participação masculina em cada uma das cenas, quer presencial (caso de Hemus em Antígona), quer por meio de voz gravada (Orestes em Electra e Jasão em Medeia).
     Os três textos são muito bem escritos e fazem uma boa condensação da trajetória das três heroínas gregas, concentrando-se no desfecho de cada tragédia. Heiner Müller é o autor de Medeia, Caio de Andrade de Antígona e Francisco Carlos de Electra.
     O palco quase vazio abriga os instrumentos dos dois músicos e a cenografia de Aurora de Campos inclui um retângulo que ocupa o fundo do palco. A excelente iluminação de Tomás Ribas encarrega-se de dar o clima para cada uma das cenas. No caso de Medeia, projeta-se um vídeo no retângulo, mostrando seus filhos tomando banho de mar, momentos antes de serem sacrificados pela mãe.
     Miwa Yanagizawa está soberba como Electra, dando um toque oriental em sua cena. Ela atua ajoelhada, com os braços estendidos formando uma cruz com o resto do corpo e clamando a adesão de Orestes para o assassinato de sua mãe Clitemnestra. No meu ponto de vista é a cena melhor sucedida do espetáculo.
 
 
     Denise Del Vecchio aproveita sua poderosa voz e presença cênica para destilar todo o veneno de Medeia sobre Jasão.
     Letícia Sabatella interpreta Antígona de maneira mais emocionada, tocando teclado e cantando, além de atuar. É a cena menos forte da montagem, apesar da boa atuação de Fernando Alves Pinto como Hemus.
     As silhuetas das atrizes entrando e saindo de cena revelam momentos de rara beleza dentro do espetáculo.
     Trilha sonora discreta que ilustra as situações sem encobri-las, assinada por Fernando Alves Pinto, Letícia Sabatella e Marcelo H (quinto elemento em cena).
     Trágica.3 representa um momento solene e sério do nosso teatro ressaltando o lado guerreiro de três grandes figuras femininas da mitologia grega. Espetáculo curto (60 minutos), muito bem orquestrado por Guilherme Leme.
     Trágica.3 está em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil aos sábados e segundas às 20h e aos domingos às 19h, até 07 de julho de 2014. NÃO PERCA!
 
     Fotos de Victor Hugo Cecatto.
 

quinta-feira, 1 de maio de 2014

UM LUGAR AO SOL


 

 

     Em primeiro lugar é importante salientar o simpático acolhimento feito pelo pessoal da Companhia de Teatro Heliópolis na chegada em sua sede na Casa Maria José de Carvalho no Ipiranga, local que foi residência da intelectual que foi entre outras coisas, poetisa e mestra de teatro na área de dicção e que teve grande presença na cultura paulistana entre os anos 1940 e 1970.
     O espetáculo Um Lugar ao Sol (título homônimo do famoso filme de 1951 de George Stevens, mas sem nenhuma relação com o mesmo)é formado por três solos apresentados de forma fracionada, entremeados por cena coral sobre as dificuldades de um estudante da periferia da cidade. Cada episódio foi criado em processo colaborativo a partir de pesquisas realizadas pelo grupo na comunidade de Heliópolis e a dramaturgia é assinada por William Costa Lima. O texto que apresenta melhor resultado é aquele sobre a mãe que teve a filha assassinada e dá oportunidade para uma pungente interpretação de Dalma Régia. Os três atores desempenham com muita verdade e essa verdade talvez seja o maior mérito da montagem.
 
Davi Guimarães, Dalma Régia e Klaviany Costa em cena da peça. Foto de Leo Papel.
 
     Todo o espetáculo é acompanhado musicalmente ao vivo pelo compositor e pianista William Paiva e pelo cellista Tainan Gabriel. A música é muito bonita e ilustra muito bem as situações apresentadas, porém em certos momentos parece competir com a voz dos atores chegando até a dificultar a compreensão dos textos por parte dos espectadores, correndo-se o risco destes prestarem mais atenção à música do que naquilo que está se falando.
     O espaço cênico é uma arena circular tipo picadeiro rodeada de velas e a iluminação é muito bem resolvida cênica e esteticamente.
     A direção de Miguel Rocha harmoniza com mestria todos os elementos à sua disposição: cenário, iluminação e atores.
     Sabe-se das dificuldades que grupos como a Companhia de Teatro de Heliópolis têm para levantar e manter um espetáculo em cartaz e louve-se um esforço desse tipo, principalmente quando o resultado é tão profissional e bem acabado.
     A peça saiu de cartaz no último domingo, dia 27 de abril, mas é bom ficar atento às atividades de Companhia de Teatro Heliópolis.

OPERILDA – teatro infantil feito com responsabilidade.


TEMPORADA ATÉ 01 DE JUNHO NO TEATRO EVA HERZ

     Operilda, em cartaz no Teatro Eva Herz, é um musical infantil que trata as crianças e seus acompanhantes com muito respeito e isso é um dado muito positivo num gênero onde até a pouco tempo imperavam as produções mal acabadas que tratavam as crianças à base de bumbo, sanfona e um ou dois atores com a cara pintada fazendo gracinhas.
     Andréa Bassit criou um texto bastante ágil e abrangente para contar a história da música erudita brasileira e a encenação de Regina Galdino enriquece a dinâmica do espetáculo com soluções cênicas que mantém a atenção do público infantil a que se destina e encanta os pais, tios e avós que acompanham os pequenos.
     Andréa Bassit é muito versátil em cena: canta e dança com coreografias simples, mas não repetidas interpretando a graciosa Operilda que está incumbida por sua tia Opereta de contar a história da música no tempo de duração do espetáculo (uma hora).
     Uma pequena orquestra formada por cinco excelentes músicos interpreta as canções e os mesmos também fazem as vezes de atores em muitos momentos. Andréa vai de canções indígenas e africanas, passando por canções folclóricas infantis e chegando aos nossos maiores compositores eruditos: Alberto Nepomuceno, Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth, Villa- Lobos e Tom Jobim, entre outros. Os pais mais atentos podem fazer um complemento ao espetáculo mostrando às suas crianças outras obras desses mestres da música, todos eles citados no programa da peça. A direção musical é de Miguel Briamonte.
     A produção do espetáculo é impecável com belos cenários e adereços de Mário Lima, além da presença ao vivo do já citado conjunto musical.
     Espetáculo infantil que trata a criança com respeito e que educa de maneira lúdica. Os adultos divertem-se tanto quanto as crianças, com a vantagem de conhecer boa parte das músicas e cantarolá-las fazendo coro com Operilda.
     Delicioso! Na saída as crianças podem tirar uma foto ao lado da nossa querida heroína.
     Em cartaz no Teatro Eva Herz aos sábados e domingos às 15h, o musical infantil Operilda fez muito sucesso e foi bastante premiado em 2013 e devido ao sucesso tem tido sua  temporada constantemente prorrogada. A atual vai até o dia 01 de junho.
     Não deixe de levar os seus pequenos para conhecer a Operilda e se você não tem pequenos, vá assim mesmo! Tenho certeza que vai se divertir bastante.