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sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

AS CRIADAS E O TEATRO ALIANÇA FRANCESA


Foto de Fernando Moraes
 

        É com muita alegria que testemunhamos a volta do Teatro Aliança Francesa com casas lotadas e com programação digna do seu passado.

        Esse teatro inaugurado em 1964 já passou por três distintas fases:
 
 

        - 1964-1985: Inaugurado com a peça francesa O Ovo, o teatro teve intenso movimento nesses 22 anos, apresentando grandes nomes da dramaturgia dirigidos por importantes encenadores (Antunes Filho, Ivan Albuquerque, Antonio Abujamra). Atuaram nesse palco Rubens Corrêa, Cleyde Yáconis, Eva Wilma, Regina Duarte, Lilian Lemmertz, Juca de Oliveira, Paulo Goulart, Marília Pêra, Jô Soares, Glauce Rocha, Nathalia Timberg, Dercy Gonçalves, Myrian Muniz, Gianfrancesco Guarnieri, Antonio Fagundes, Rodrigo Santiago, citando apenas aqueles que me vêm à memória.
 
 

        - 1986-2001: Em 1986 o grupo TAPA dirigido por Eduardo Tolentino vindo do Rio de Janeiro apresenta o espetáculo O Tempo e os Conways e a partir daí se instala por 15 anos no teatro com repertório que beirou a excelência. O grupo, com elenco fixo de alto nível, apresentou cerca de 40 espetáculos nesse período com ênfase na dramaturgia brasileira e em textos menos conhecidos da dramaturgia mundial.

        - Em 2002 o teatro fica fechado para reforma.
 
 

        - 2003-2013: O teatro reabriu em 2003 com o espetáculo Aux Pieds de la Lettre do grupo franco brasileiro Dos à Deux, mas depois disso não encontrou um caminho apresentando uma programação irregular sem nenhum sinal de curadoria. Foram menos de 20 espetáculos em 11 anos.
 
 

        - 2014: Inicia-se uma nova fase do Teatro Aliança Francesa com a comemoração dos seus 50 anos. Como bom filho pródigo o grupo TAPA retorna ao Aliança Francesa em 2015 apresentando dois textos do dramaturgo francês Jean Genet (1910-1986): As Criadas e Splendids.
 
Foto de Ronaldo Gutierrez

        AS CRIADAS dirigida por Eduardo Tolentino estreou em janeiro de 2015 e já é um dos grandes espetáculos do ano. Cabe notar neste caso outros bem vindos retornos: Denise Weinberg e Emilia Rey voltam a se apresentar com o TAPA depois de um afastamento de muitos anos.

        O duplo, tão caro a Genet, impõe-se desde a primeira cena quando Clara, uma das criadas, se assume como Madame e a outra criada Solange, sua irmã , se assume como Clara. Uma vez instaurada a cerimônia, Madame e Clara fazem um jogo cruel onde a meta final é o assassinato da toda poderosa. Essa duplicidade é reforçada pelo cenário composto de vários espelhos que refletem as imagens das personagens. O embate entre as duas irmãs permite que testemunhemos um momento luminoso de duas atrizes: Clara Carvalho e Denise Weinberg aproveitam e degustam cada palavra do texto indo da violência à delicadeza e interagindo num processo de atração e repulsão até os instantes finais da peça quando se concretiza o ritual. A participação da pernóstica Madame na trama é menor, mas também permite uma bela composição de Emília Rey.

        A encenação de Eduardo Tolentino realça a perversidade que está presente na personalidade das três personagens: oprimidos ou opressores, pobres ou ricos, criadas ou madames, somos todos membros dessa raça dita humana. Genet, pobre, homossexual e marginalizado é o melhor exemplo disso.

        O cenário de Marcela Donato de fundo e chão vermelhos é composto de muitos espelhos, uma escada, muitos objetos de cena, entre os quais se destaca um enorme vestido que vai ser peça importante da última cena. Ao meu modo de ver esse cenário está subaproveitado pela encenação, uma vez que o fundo do espaço quase não é usado; além disso, o já citado enorme vestido fica restrito ao canto esquerdo do palco, diminuindo a suntuosidade que ele quer demonstrar.

        As Criadas é encenação do melhor quilate que faz jus ao espaço em que se apresenta e que já foi palco de grandes momentos do teatro paulistano.

        Longa vida ao Grupo TAPA!

        Longa vida ao Teatro Aliança Francesa!

 

        AS CRIADAS está em cartaz no Teatro Aliança Francesa (Rua General Jardim, 182) a apartir de 16 de janeiro, de quinta a sábado às 20h30 e aos domingos às 19h. Ingressos a R$20,00 e R$10,00 (meia).

 

16/01/2015

         

 

Um comentário:

  1. Muito bom seu texto. Sugiro adicionar alguma referencia a outras montagens de "As Criadas" , ou a versões do tema para o cinema. Lembro por exemplo de A Cerimonia de Chabrol, com Isabelle Huppert, que, sem utilizar o texto de Genet, contava a mesma história.

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