Foto de Fernando Moraes
É
com muita alegria que testemunhamos a volta do Teatro Aliança Francesa com
casas lotadas e com programação digna do seu passado.
Esse
teatro inaugurado em 1964 já passou por três distintas fases:
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1964-1985: Inaugurado com a peça francesa O
Ovo, o teatro teve intenso movimento nesses 22 anos, apresentando grandes
nomes da dramaturgia dirigidos por importantes encenadores (Antunes Filho, Ivan
Albuquerque, Antonio Abujamra). Atuaram nesse palco Rubens Corrêa, Cleyde
Yáconis, Eva Wilma, Regina Duarte, Lilian Lemmertz, Juca de Oliveira, Paulo
Goulart, Marília Pêra, Jô Soares, Glauce Rocha, Nathalia Timberg, Dercy
Gonçalves, Myrian Muniz, Gianfrancesco Guarnieri, Antonio Fagundes, Rodrigo
Santiago, citando apenas aqueles que me vêm à memória.
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1986-2001: Em 1986 o grupo TAPA dirigido por Eduardo Tolentino vindo do Rio de
Janeiro apresenta o espetáculo O Tempo e
os Conways e a partir daí se instala por 15 anos no teatro com repertório
que beirou a excelência. O grupo, com elenco fixo de alto nível, apresentou
cerca de 40 espetáculos nesse período com ênfase na dramaturgia brasileira e em
textos menos conhecidos da dramaturgia mundial.
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Em 2002 o teatro fica fechado para reforma.
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2003-2013: O teatro reabriu em 2003 com o espetáculo Aux Pieds de la Lettre do grupo franco brasileiro Dos à Deux, mas depois disso não
encontrou um caminho apresentando uma programação irregular sem nenhum sinal de
curadoria. Foram menos de 20 espetáculos em 11 anos.
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2014: Inicia-se uma nova fase do Teatro Aliança Francesa com a comemoração dos
seus 50 anos. Como bom filho pródigo o grupo TAPA retorna ao Aliança Francesa
em 2015 apresentando dois textos do dramaturgo francês Jean Genet (1910-1986): As Criadas e Splendids.
AS CRIADAS dirigida por Eduardo
Tolentino estreou em janeiro de 2015 e já é um dos grandes espetáculos do ano. Cabe
notar neste caso outros bem vindos retornos: Denise Weinberg e Emilia Rey
voltam a se apresentar com o TAPA depois de um afastamento de muitos anos.
O
duplo, tão caro a Genet, impõe-se desde a primeira cena quando Clara, uma das criadas,
se assume como Madame e a outra criada Solange, sua irmã , se assume como Clara.
Uma vez instaurada a cerimônia, Madame e Clara fazem um jogo cruel onde a meta
final é o assassinato da toda poderosa. Essa duplicidade é reforçada pelo
cenário composto de vários espelhos que refletem as imagens das personagens. O
embate entre as duas irmãs permite que testemunhemos um momento luminoso de
duas atrizes: Clara Carvalho e Denise Weinberg aproveitam e degustam cada
palavra do texto indo da violência à delicadeza e interagindo num processo de
atração e repulsão até os instantes finais da peça quando se concretiza o
ritual. A participação da pernóstica Madame na trama é menor, mas também
permite uma bela composição de Emília Rey.
A
encenação de Eduardo Tolentino realça a perversidade que está presente na
personalidade das três personagens: oprimidos ou opressores, pobres ou ricos,
criadas ou madames, somos todos membros dessa raça dita humana. Genet, pobre,
homossexual e marginalizado é o melhor exemplo disso.
O
cenário de Marcela Donato de fundo e chão vermelhos é composto de muitos
espelhos, uma escada, muitos objetos de cena, entre os quais se destaca um
enorme vestido que vai ser peça importante da última cena.
Ao meu modo de ver esse cenário está subaproveitado pela encenação, uma vez que
o fundo do espaço quase não é usado; além disso, o já citado enorme vestido
fica restrito ao canto esquerdo do palco, diminuindo a suntuosidade que ele
quer demonstrar.
As Criadas é encenação do melhor quilate
que faz jus ao espaço em que se apresenta e que já foi palco de grandes
momentos do teatro paulistano.
Longa
vida ao Grupo TAPA!
Longa
vida ao Teatro Aliança Francesa!
AS CRIADAS está em cartaz no Teatro
Aliança Francesa (Rua General Jardim, 182) a apartir de 16 de janeiro, de
quinta a sábado às 20h30 e aos domingos às 19h. Ingressos a R$20,00 e R$10,00
(meia).
16/01/2015
Muito bom seu texto. Sugiro adicionar alguma referencia a outras montagens de "As Criadas" , ou a versões do tema para o cinema. Lembro por exemplo de A Cerimonia de Chabrol, com Isabelle Huppert, que, sem utilizar o texto de Genet, contava a mesma história.
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