Intolerância
étnica, religiosa ou sexual; violência e mais de perto falta de luz e de água.
Somos bombardeados no dia a dia com notícias negativas nos jornais e nas
torneiras. Há um antídoto para tanta coisa ruim e está ao alcance de todo mundo
(é gratuito), ali no mais que simpático e acolhedor espaço da Fernanda, o
Instituto Capobianco: SALAMALEQUE.
Salamaleque é um encontro (acho esse
termo mais apropriado do que espetáculo) concebido por Valéria Arbex a partir
de cartas trocadas entre seus avós Nadime e Nicolau, de entrevistas que ela fez
e também de sua memória do convívio com familiares de origem árabe. Esse
material foi costurado dramaturgicamente com muita sensibilidade por Alejandra
Sampaio e Kiko Marques e dirigido por Denise Weinberg e Kiko Marques. O
resultado é delicioso até para o paladar, pois a personagem Elizete, enquanto
conta as histórias dos imigrantes árabes (que poderiam ser aquelas de qualquer
imigrante que um dia por circunstâncias diversas e com “uma mão na frente e
outra atrás” deixaram seus países de origem para vir “fazer a América”) vai
preparando oferendas para os convidados (nós, o público) degustarem ao final do
encontro.
Valéria
está bastante à vontade em cena (muito mais solta do que a primeira vez em que
assisti ao espetáculo em julho de 2013) dançando as músicas árabes com
desenvoltura e sensualidade, interagindo com os convidados e permitindo-se uma
cena deliciosamente erótica quando se comunica com Marcos, a pessoa que ela
contrata para traduzir termos das cartas escritos em árabe que se revelam
íntimos e muito sensuais. Aliás, é ótimo o recurso dramatúrgico de haver essa
figura de Marcos com quem a protagonista a princípio troca e-mails, depois se
apaixona e acaba casando. Encontro tão cheio de boas energias só podia ter um
final feliz.
Elizete
pega o vestido de noiva, pede licença para ir se vestir para o casamento e
deixa os convidados à vontade para se deliciar com as iguarias árabes e nós
transformamos aquele espaço numa fraternal celebração. Na verdade a celebração acontece
durante todo o encontro, pois uma emoção muito bonita envolve a todos que ali
estão presenciando as histórias de Elizete. Na casa lotada do último sábado
havia muitas senhoras (em especial a esfuziante Dona Alice) de descendência
árabe que deram um colorido especial à sessão participando e batendo palmas
durante as danças.
O
belo cenário de Chris Aizner reproduz com muitos detalhes uma casa de origem
árabe utilizando muitos objetos pertencentes a Valéria.
Por
último, mas não menos importante, louve-se o acolhimento do público realizado
com muita competência e simpatia pelas sorridentes Carol Vidotti, Rosana Maris
e Patrícia Gordo, está última com uma função que devia fazer escola nos grupos
que fazem teatro: Produção de formação de público.
O
programa da peça, simples, bonito e preciso contém até um glossário dos termos
árabes usados no espetáculo e nos dias hoje mais que nunca é preciso dizer: sallamu alaicum (a paz esteja convosco).
Viva
Valéria! Seu espetáculo é lindo!
Salamaleque está em cartaz no Instituto
Cultural Capobianco (Rua Álvaro de Carvalho, 97) aos sábados e domingos às 16h
até 26 de abril. Os ingressos (apenas 40 lugares) devem ser retirados uma hora
antes, mas é bom ligar para 3237-1187 ou 97499-4243 porque os mesmos estão muito disputados.
26/01/2015
fiquei com vontade de ver. beijos, pedrita
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