Foto de Eduardo Enomoto
Com
o bizarro título de Urinetown, the Musical este
musical de Mark Hollmann e Greg Kotis estreou num pequeno teatro de Nova York
em 2001 e devido ao sucesso alcançado passou a ocupar maiores teatros na
Broadway terminando por abocanhar três prêmios Tony, o maior laurel concedido
pelo teatro americano; fato bastante semelhante ocorreu anteriormente com Hair (1967) e Rent (1996) naquela mesma cidade. Aqui em São Paulo o ator Altair
Lima comprou os direitos de Hair e
estreou a peça no antigo Teatro Bela Vista (onde hoje se localiza o Teatro Sérgio
Cardoso), o sucesso foi tamanho que com a bilheteria arrecadada Altair Lima
comprou e reformou um amplo teatro que batizou de Aquarius em homenagem ao
espetáculo, tornando-se um mega empresário teatral.
O
encenador Zé Henrique de Paula tomou contato com o texto da peça há alguns anos
e mesmo sem conhecer as músicas viu ali o potencial para um bom espetáculo. A
grave crise hídrica paulista mostrou que este seria o melhor momento para
viabilizar o projeto. Já em posse da excelente trilha musical e com o auxílio
dos talentos de Fernanda Maia na direção musical, de Inês Aranha e de Gabriel
Malo na coreografia o diretor montou o espetáculo ora em cartaz no Teatro do
Núcleo Experimental.
Foto de Ronaldo Gutierrez
Tudo
funciona neste belo exemplo de que não são precisos recursos mirabolantes para
se montar um bom musical: o teatro é pequeno (apenas 56 lugares), os
intérpretes são antes atores do que cantores, o reduzido espaço cênico não
permite trocas de cenário e não há a menor condição de haver um palco
giratório, no entanto o resultado é um musical da melhor qualidade que diverte
e faz pensar.
Na
bem urdida trama, devido a uma seca que dura há vinte anos a Companhia da Boa
Urina (CBU) de propriedade do Patrãozinho (o sempre ótimo Roney Facchini) administra
e cobra caro pelo uso dos banheiros públicos. Tudo vai bem (para uns) e muito
mal (para a maioria) até que o jovem Bonitão (Caio Salay) lidera uma revolta
para mudar a situação. Num inteligente recurso dos autores, a ação da peça e as
regras dos musicais são comentadas pelo Policial e pela Garotinha
(interpretações memoráveis de Daniel Costa e Luciana Ramanzini) no mais
perfeito efeito de distanciamento brechtiano. Todo o elenco está ótimo, mas
cabe destacar a presença de Nábia Vilella com sua poderosa voz e de Fabio
Redkowicz, responsável por uma das coreografias mais criativas e engraçadas da
peça.
Policial e Garotinha - Foto de Eduardo Gutierrez
A
bela música é executada ao vivo por seis músicos sob a batuta vibrante de
Fernanda Maia.
Bastante
adequado ao espaço disponível o bonito cenário é assinado pelo encenador, assim
como os figurinos.
Ri-se
muito durante o espetáculo, mas ao término o gosto amargo de uma realidade
parecida nos faz refletir sobre o atual estado das coisas.
Desejo
um sucesso enorme a Urinal, porém não
veria com bons olhos a sua transferência para o Teatro Renault! Também espero
que se reconheça cada vez mais o talento de Zé Henrique de Paula e que ele
continue a ser o criativo encenador que já realizou tantos excelentes
espetáculos sempre atento ao binômio: conteúdo sociopolítico e entretenimento.
Tenho certeza que não faz parte dos seus planos tornar-se um mega empresário
teatral!
URINAL, O MUSICAL está em cartaz até 06 de julho no
Teatro do Núcleo Experimental- Rua Barra Funda, 637. Tel: 3259-0898. Sextas,
sábados e segundas às 21h e domingos às 19h. R$40,00 (inteira), R$20,00 (meia).
ENTRADA GRATUITA ÀS SEXTAS FEIRAS. SÓ NÃO VAI QUEM NÃO QUER!
Ah!
Chegue um pouco antes para curtir o aconchegante café-bar do saguão de espera
do teatro!
07-04-2015
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