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sábado, 26 de dezembro de 2015

O AUTOR BRASILEIRO NOS PALCOS PAULISTANOS EM 2015.

          


        2015 não foi um ano pródigo para a dramaturgia brasileira nos palcos de São Paulo, apesar da grande quantidade apresentada. Segundo os guias de teatro 495 títulos nacionais estiveram em cartaz na cidade considerando as estreias e espetáculos vindos de temporadas anteriores e não incluindo as comédias stand up (que, ao que parece, como toda moda, estão perdendo o fôlego), os espetáculos infantis, apresentações de apenas um final de semana e peças apresentadas na periferia que não aparecem nos guias teatrais da cidade.
        Alexandre Dal Farra, Mário Bortolotto e Ronaldo Ciambroni foram os autores mais montados com cinco peças cada um, seguidos de Lucas Papp, Nelson Rodrigues, Paula Giannini e Plínio Marcos com quatro títulos. 13 autores tiveram três peças em cartaz, são eles: Artur Azevedo, Carlos Canhameiro, Cássio Pires, Chico Buarque de Holanda, Gilberto Amêndola, Hugo Possolo, Jô Bilac, Leonardo Moreira, Marcelo Marcus Fonseca, Michelle Ferreira, Miguel Falabella, Pablo Diego e Solange Dias. 44 dramaturgos apresentaram duas peças, 38 classificaram-se como criação coletiva ou processo colaborativo e 295 autores tiveram uma peça apresentada na temporada de 2015.
        Mais uma vez os dramas (300) foram quantitativamente superiores às comédias (141) e os musicais (mais uma moda?) foram responsáveis por 41 títulos.
        Dentro desse vasto quadro o que, entre as estreias, a dramaturgia brasileira nos ofereceu? Ao meu modo de ver e dentre o que pude ver, muito pouco.
        Entre os bons textos assinados por Alexandre Dal Farra cumpre destacar Abnegação 2, uma lúcida, oportuna – e talvez a única da temporada - reflexão sobre os desmandos da política brasileira.
        Os veteranos Oswaldo Mendes e José Eduardo Vendramini assinaram dois belos textos, o primeiro com Insubmissas que reunia na atualidade mulheres de épocas e lugares diferentes discutindo o papel da mulher na sociedade e na vida científica e o segundo com o singelo Cartas Libanesas mostrando a saga de um imigrante libanês no Brasil.
         Vera Lamy nos presenteou com Manuela, engenhoso texto mesclando “falas” da máquina de escrever de Mário de Andrade (a tal Manuela) com trechos de obras do escritor.
        Advindo do núcleo de Dramaturgia do Sesi Amarildo Felix apresentou o saboroso e ao mesmo tempo amargo Solilóquios discutindo o fim do relacionamento de um casal.
        Finalmente os dois textos revelados na Mostra de Dramaturgia em Pequenos Formatos Cênicos do Centro Cultural São Paulo: O Taxidermista de René Piazentin, fábula tocante sobre vida e morte, corpo e alma e mais que tudo sobre a trajetória dos seres humanos (ou não!) no mundo conturbado em que vivemos e Mantenha Fora do Alcance do Bebê de Silvia Gomez, reflexão sobre a natureza humana e da crueldade latente das relações, a autora foi justamente premiada pela APCA e está indicada ao prêmio Shell.
        São sete textos dentre os 495 já citados o que, repito, é muito pouco, mas a esperança sempre se renova principalmente levando em conta que boa parte desses dramaturgos está na faixa dos 30 anos e ainda tem muito a oferecer para o teatro brasileiro.
        Não tenho dados quantitativos a respeito, mas pelas minhas anotações a temporada teatral de 2015 mostrou um aumento nas produções com textos estrangeiros em relação a anos anteriores e os autores que mais compareceram nos cartazes foram Shakespeare e Matéi Visniec, mas como dizia Júlio Gouveia, isso é uma outra história que fica para uma outra vez.
        Que venha 2016 e com ele grandes surpresas de nossos criativos dramaturgos. E VIVA O TEATRO!

26/12/2015
        

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

CIA. LUDENS E O TEATRO DOCUMENTÁRIO IRLANDÊS.


INTRODUÇÂO

        A Cia. Ludens foi fundada em 2003 por Domingos Nunez e Beatriz Kopschitz Bastos e se dedica ao estudo e difusão da dramaturgia irlandesa e suas conexões com a realidade brasileira. A difusão é feita por meio da encenação de peças de autores irlandeses e promoção de ciclos de leituras.
        Já foram encenadas cinco peças: Dançando em Lúnassa de Brian Friel (2004 e 2013), Pedras nos Bolsos de Marie Jones (2006), Idiota no País dos Absurdos de Bernard Shaw (2008), O Fantástico Reparador de Feridas de Brian Friel (2009), Balangangueri, o Lugar Onde Ninguém Ri de Tom Murphy (2011) e realizados quatro ciclos de leitura: Teatro Irlandês do Século XX: de Yeats a Friel (2004), Teatro Irlandês do Século XXI: A Geração Pós Beckett (2006), Bernard Shaw no Século XXI (2009) e o recente (2015) Teatro Documentário Irlandês, objeto desta matéria.

Dançando em Lúnassa - Montagem de 2013

TEATRO DOCUMENTÁRIO ou DOCUDRAMA

        Ao meu modo de ver é necessário fazer uma distinção entre esses dois termos:
        Docudrama é, segundo definição não creditada da Wikipédia, “um estilo de documentário que apresenta de forma dramática a reconstituição de fatos, utilizando-se atores para isso”. O teatro documentário é mais radical fixando-se nos documentos em que se baseia; ele, segundo Patrice Pavis, “só usa, para seu texto, documentos e fontes autênticas, selecionadas e montadas em função da tese sociopolítica do dramaturgo”, colocando em segundo plano a forma dramática, acrescentária eu.

O CICLO

        Apresentado durante seis terças feiras (de 20/10/2015 a 24/11/2015) no Teatro Eva Herz, o ciclo apresentou a leitura dramática de seis peças com a curadoria de Beatriz Kopschitz Bastos e coordenação da mesma e de Domingos Nunez. Após a leitura foram realizados debates com a presença do autor (com exceção de Sem Saída, cuja autora já faleceu), do diretor da leitura, do tradutor e de teóricos do assunto. Em todas as sessões foram realizadas pequenas palestras sobre Brian Friel, um dos mais importantes dramaturgos irlandeses, nascido em 1929 e falecido em 2015.


        Cinco dos exemplos trazidos para esse ciclo encaixam-se em teatro documentário e o interesse dramático dos mesmos está restrito ao tema que apresenta. O tema tem que ter carga dramática e atingir ampla gama de questões e interesse humanos.
        Mácula de Hugo Hamilton (sobre um menino que se vê em um confronto de identidades entre a mãe alemã e o pai irlandês na Irlanda dos anos 1950) e Sem Saída de Mary Raftery (sobre violência e abusos sexuais sofridos por crianças nos educandários irlandeses administrados por entidades católicas) são bons exemplos de peças que tratam de temas com alto teor dramático e de interesse geral e que dariam, caso fossem montadas, bons resultados cênicos. Já Descendo da Perna de Pau: Yeats e o Abbey Theatre de Aideen Howard e Garantido! de Colin Murphy podem interessar a quem estuda teatro ou economia, respectivamente, mas tornam-se bastante tediosos para o público em geral, assim como, Titanic: Cenas de Um Inquérito de Owen McCafferty que trata de tema espetacular e de interesse geral, mas que restrigindo-se a depoimentos torna-se também enfadonho. Dificilmente esses três textos poderiam resultar em bons espetáculos por maiores que fossem a imaginação e o talento de seus encenadores.
        Já Diários de Roger Casement, texto em processo de Domingos Nunez, é construída a partir de documentos históricos sobre o irlandês Roger Casement que teve vida com trajetória  espetacular constituida de atos heróicos e situações conflituosas como o descobrimento dos seus diários negros, que podem resultar em estimulantes momentos dramáticos. Além disso, Nunez utilizará recursos musicais para ilustrar a saga de Casement. É teatro baseado em documentos, mas com certeza fugirá de certa monotonia que ameaça o gênero. Aguardemos a sua montagem, programada pela Cia. Ludens para ser apresentada em 2016.

Elenco e autor/diretor (primeiro à esquerda, sentado) da leitura de Diários de Roger Casement




14/12/2015

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

HYSTERICA PASSIO


        Hipólito é filho de uma "enfermeira esquálida" e de um "dentista pálido", os três formam uma família no limite da disfuncionalidade. Eles compõem as personagens de Hysterica Passio um dos textos mais cruéis surgidos em nossos palcos nos últimos tempos, algo comparável apenas a Uma Canção Desnaturada (Curuminha) de Chico Buarque, esta sim a mais cruel letra do cancioneiro brasileiro.          
         O texto da dramaturga espanhola Angélica Liddell não deixa pedra sobre pedra contrariando o pensamento de Sartre (O inferno são os outros): o infante Hipólito tem do que se vingar, mas se utiliza dos meios mais torturantes e diabólicos para tal fim, conclui que ali todos são monstros, mas aí – pergunta ele ao público – quem não é?
        Dentro de todo esse horror, Reginaldo Nascimento realiza uma encenação cenograficamente bela, toda em branco e vermelho enriquecida pelos figurinos de Telumi Hellen e pelo desenho de luz de Vanderlei Conte.
        As interpretações são outro grande trunfo da montagem. Amália Pereira faz Thora, a mãe encarcerada pelo filho que tem um passado triste junto com sua mãe que a torturava, já teve muita dor de dente e casou-se com o tal dentista pálido. Todo esse passado traumático ela transferiu para o filho Hipólito. Indo da indignação ao sofrimento com muita propriedade, Amália realiza um excelente contraponto para o menino, que é o verdadeiro protagonista da história.
        Alessandro Hernandez domina a cena fazendo o menino aos três e aos 12 anos, o pai Senderovich, além de narrar e comentar toda a ação. Sua interpretação é um dos melhores trabalhos de ator da temporada de 2015. Ao meu modo de ver o entendimento da trama ficaria mais claro se o papel do pai fosse feito por um terceiro ator. Seria da autora ou do diretor a opção por um único ator?
        Hysterica Passio é visceral, muito cruel e pode não agradar, além de despertar reações inesperadas do público: nos dias de hoje não é mais necessário literalmente chacoalhar o público como fazia Zé Celso Martinez Corrêa em Roda Viva nos anos 1960. Texto e encenação de Hysterica Passio fazem isso sem encostar um dedo em ninguém.
        HYSTERICA PASSIO permanece em cartaz no Espaço Parlapatões apenas até o próximo fim de semana (13/12) no sábado e no domingo às 20h, devendo voltar ao cartaz em 2016. CORRA! NÃO DEIXE PARA O ANO QUE VEM.


09/12/2015

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

VIVA MARÍLIA PÊRA! VIVA O TEATRO BRASILEIRO!

(1943-2015)

        O teatro brasileiro com certeza seria mais pobre se por ele não tivesse passado Marília Pêra. Foi a atriz mais completa a que tive o privilégio de assistir nesses mais de 50 anos que frequento teatro. Em meu livro O Palco Paulistano de 1964 a 2014 – Memórias de Um Espectador faço uma seleção dos 230 espetáculos mais significativos a que assisti entre os mais de 3000 vistos. Nada menos do que sete foram estrelados por Marília e um deles (Apareceu a Margarida) está entre os cinco fundamentais da minha vida de espectador. Assim como os shows de Elis, eu nunca deixei de ir assistir a um espetáculo do qual a atriz fazia parte. Em 1987 deixei de ir à festa de bodas de ouro dos meus pais para ir ao Rio assistir à estreia de A Estrela Dalva, onde Marília brilhava interpretando a grande cantora Dalva de Oliveira. O mais bonito de tudo é que meus pais me deram a maior força para que eu assim o fizesse.

1969 - A primeira Marília

1969 - O primeiro impacto

        Foi em 1969 que a vi pela primeira vez na comédia musical A Moreninha dirigida por Osmar Rodrigues onde ela fazia par romântico com Perry Salles. No mesmo ano o impacto de Fala baixo, Senão Eu Grito, talvez o seu primeiro grande papel dramático como a solteirona Mariazinha (e ela tinha apenas 26 anos) que tem seus aposentos invadidos por um ladrão vivido pelo saudoso Paulo Villaça. A partir daí tornou-se obrigatório para mim acompanhar a carreira de Marília Pêra. Foram muitos trabalhos inesquecíveis como o já citado A Estrela Dalva, Elas por Ela, Brincando Encima Daquilo, Victor ou Victoria Master Class, Mademoiselle Chanel e o derradeiro Alô Dolly em 2013 onde ela como sempre brilhava ao lado de Miguel Falabella.

1985


1987

2013 - A última Marília

        Apareceu a Margarida é para mim seu trabalho mais importante e sobre ele escrevi longo texto em meu livro no qual falo sobre a importância de Marília no cenário teatral brasileiro. Reproduzo abaixo parte desse material:
         “ ... a voz, as inflexões, os gestos e as expressões de Marília Pêra me vêm à memória de maneira muito poderosa. Era impressionante a maneira como a atriz incorporava a detestável dona da nossa voz, potente metáfora do domínio que o regime militar queria ter sobre o cidadão brasileiro. A cena brasileira é pródiga em interpretações inesquecíveis de grandes atrizes. Enumero em ordem alfabética apenas aquelas a quem tive o privilégio de assistir no palco: Andréa Beltrão, Berta Zemel, Bibi Ferreira, Cacilda Becker, Célia Helena, Cleyde Yáconis, Fernanda Montenegro, Glauce Rocha, Ileana Kwasinski, Isabel Ribeiro, Juliana Carneiro da Cunha, Laura Cardoso, Lilian Lemmertz, Mariana Lima, Marília Pêra, Myrian Muniz, Nathalia Timberg e Yara Amaral. Mesmo com um grupo dessa envergadura, no meu ponto de vista, Marília Pêra é a mais completa atriz brasileira, circulando com muita desenvoltura do trágico ao dramático e deste para o cômico. Histriônica e debochada quando necessário, visceral no drama, cantora bastante razoável e dona de uma poderosa presença cênica. Quando da apresentação da segunda versão de Apareceu a Margarida, em 1978, Sábato Magaldi escreveu no Jornal da Tarde: ‘[...] julgo o seu desempenho (Marília Pêra) em Exercício de Lewis John Carlino, incompreensivelmente não trazido a São Paulo, a obra-prima absoluta da interpretação feminina no Brasil, ao menos nos 30 anos que frequento teatro.. Não assisti a Exercício com Marília Pêra, mas com Glauce Rocha que também tinha uma interpretação maravilhosa. Assisti a grandes trabalhos de Marília Pêra antes e depois de Apareceu a Margarida, mas para mim esta é a melhor interpretação da grande atriz. Assim, aproveitando as palavras do crítico afirmo: o desempenho de Marília Pêra em Apareceu a Margarida é, para mim, a obra-prima absoluta de interpretação feminina no Brasil, ao menos nos 50 anos que frequento teatro.

1974


        MARÍLIA PÊRA NÃO ERA... ELA É E SEMPRE SERÁ.

        VIVA MARÍLIA PÊRA!

        VIVA O TEATRO BRASILEIRO!

07/12/2015


quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

PRÊMIO APCA DE TEATRO 2015



        Em reunião realizada no dia 02 de dezembro de 2015 no Sindicato dos Jornalistas os críticos da área de teatro da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) elegeram aqueles que a maioria (votação) considerou os melhores do ano. São eles:


ATOR: GUSTAVO GASPARANI - RICARDO III


ATRIZ: MARIA LUÍSA MENDONÇA - UM BONDE CHAMADO DESEJO


AUTOR: SILVIA GOMEZ - MANTENHA FORA DO ALCANCE DO BEBÊ


DIRETOR: ZÉ HENRIQUE DE PAULA - URINAL


ESPETÁCULO: AQUI ESTAMOS COM MILHARES DE CÃES VINDOS DO MAR


PRÊMIO ESPECIAL: EXPOSIÇÃO "MÁQUINA KANTOR"


GRANDE PRÊMIO DA CRÍTICA: MARIÂNGELA ALVES DE LIMA


Votaram os críticos: Aguinaldo Cristofani Ribeiro da Cunha (*), Carmelinda Guimarães, Edgar Olímpio de Souza, Evaristo Martins de Azevedo (*), Gabriela Mellão, José Cetra Filho, Kyra Piscitelli, Marcio Aquiles Fiamengui, Maria Eugênia de Menezes, Michel Fernandes, Miguel Arcanjo Prado e Vinício Angelici.
(*) Votaram apenas nas categorias "Prêmio Especial" e "Grande Prêmio da Crítica"

         A festa de premiação será realizada entre fevereiro e março de 2016 em data e local a serem futuramente divulgados.

02/12/2015

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

O TAMBOR E O ANJO


         Este talvez seja um dos trabalhos menos conhecidos da dramaturga niteroiense Anamaria Nunes (1950-). Premiada em 1988 com o Prêmio Shell por Geração Trianon Anamaria tem seu nome mais ligado às telenovelas que escreveu. A peça é injustamente desconhecida, pois se trata de um engenhoso texto sobre uma época sombria da história do Brasil.
         A peça se passa na memória de Eliane, uma jovem que está internada em um sanatório ensimesmada em função do desaparecimento do irmão Pedro morto pelas mãos dos órgãos repressores da ditadura e da relação de paixão (incestuosa) e ódio que tem por seu pai que se revelou fazer parte da equipe de torturadores do governo. Num permanente estado de perplexidade a jovem revê sua infância, a adolescência, os bailinhos, a chegada da menstruação, a relação com seus pais extremamente conservadores e os traumas advindos do regime de terror instaurado no país a partir de abril de 1964.
         A encenação foi realizada a partir de trabalho de conclusão de curso de um grupo da Escola de Atores Wolf Maya e também de uma oficina realizada pelo diretor André Garolli no Viga Espaço Cênico com o mesmo grupo agora acrescido de alguns elementos e o resultado é surpreendente.
         Garolli optou por dividir a personagem de Eliane entre cinco atrizes sendo que uma delas é o eixo da ação e as outras, com máscaras no rosto, representam várias facetas de sua personalidade e também funcionam como coro do espetáculo. Outro bom achado da direção é o Cristo na cruz pendurado na sala de visitas da família que é representado por um ator e vai reagindo em função do que acontece à sua volta. Cenário e iluminação simples, mas eficientes e uma excelente trilha sonora com músicas da época (Secos e Molhados, Beatles, Mutantes), completam os elementos usados pelo encenador na montagem, sem falar na preparação do elenco, é claro! Garolli os preparou não só para a peça, mas para o mundo encorajando-os a pesquisar romances, filmes e documentos sobre essa época obscura do Brasil. Esses jovens, com idade média pouco superior a 20 anos têm consciência daquilo que estão falando e esse talvez seja um dos maiores méritos do espetáculo. É encorajador ver um grupo egresso de uma escola tida como elitista representar com tanta verdade um texto forte e claramente contra os desmandos que os militares imprimiram a este país por mais de 20 anos. Todos se saem muito bem desempenhando com muita espontaneidade personagens que têm idades próximas das suas e um destaque deve ser dado aos também jovens atores que fazem os pais conservadores com verossimilhança e sem gestos caricaturais.
         O TAMBOR E O ANJO é importante espetáculo que merece ser prestigiado. A peça ainda terá uma derradeira apresentação no Viga Espaço Cênico no dia 21 de dezembro às 20h, mas seria muito interessante que prosseguisse em cartaz com apresentações em escolas e mesmo em teatros. Fica a sugestão de fazerem apresentações nas escolas ocupadas pelos estudantes secundários que estão dando exemplo de cidadania que há muito não se via em nossas plagas. A posição autoritária e truculenta do governo do Estado não difere das ações realizadas pelos militares naquela época. A história pode se repetir e cabe a nós cidadãos tentar revertê-la. E por isso VIVA O TEATRO!

01/12/2015