2015
não foi um ano pródigo para a dramaturgia brasileira nos palcos de São Paulo,
apesar da grande quantidade apresentada. Segundo os guias de teatro 495 títulos
nacionais estiveram em cartaz na cidade considerando as estreias e espetáculos
vindos de temporadas anteriores e não incluindo as comédias stand up (que, ao que parece, como toda
moda, estão perdendo o fôlego), os espetáculos infantis, apresentações de
apenas um final de semana e peças apresentadas na periferia que não aparecem
nos guias teatrais da cidade.
Alexandre
Dal Farra, Mário Bortolotto e Ronaldo Ciambroni foram os autores mais montados
com cinco peças cada um, seguidos de Lucas Papp, Nelson Rodrigues, Paula
Giannini e Plínio Marcos com quatro títulos. 13 autores tiveram três peças em
cartaz, são eles: Artur Azevedo, Carlos Canhameiro, Cássio Pires, Chico Buarque
de Holanda, Gilberto Amêndola, Hugo Possolo, Jô Bilac, Leonardo Moreira,
Marcelo Marcus Fonseca, Michelle Ferreira, Miguel Falabella, Pablo Diego e
Solange Dias. 44 dramaturgos apresentaram duas peças, 38 classificaram-se
como criação coletiva ou processo colaborativo e 295 autores tiveram uma peça
apresentada na temporada de 2015.
Mais
uma vez os dramas (300) foram quantitativamente superiores às comédias (141) e
os musicais (mais uma moda?) foram responsáveis por 41 títulos.
Dentro
desse vasto quadro o que, entre as estreias, a dramaturgia brasileira nos
ofereceu? Ao meu modo de ver e dentre o que pude ver, muito pouco.
Entre
os bons textos assinados por Alexandre
Dal Farra cumpre destacar Abnegação 2, uma lúcida, oportuna – e talvez a única da temporada - reflexão
sobre os desmandos da política brasileira.
Os
veteranos Oswaldo Mendes e José Eduardo Vendramini assinaram dois
belos textos, o primeiro com Insubmissas que reunia na atualidade
mulheres de épocas e lugares diferentes discutindo o papel da mulher na
sociedade e na vida científica e o segundo com o singelo Cartas Libanesas
mostrando a saga de um imigrante libanês no Brasil.
Vera
Lamy nos presenteou com Manuela, engenhoso texto mesclando
“falas” da máquina de escrever de Mário de Andrade (a tal Manuela) com trechos
de obras do escritor.
Advindo
do núcleo de Dramaturgia do Sesi Amarildo
Felix apresentou o saboroso e ao mesmo tempo amargo Solilóquios discutindo o
fim do relacionamento de um casal.
Finalmente
os dois textos revelados na Mostra de
Dramaturgia em Pequenos Formatos
Cênicos do Centro Cultural São Paulo: O
Taxidermista de René Piazentin, fábula tocante sobre
vida e morte, corpo e alma e mais que tudo sobre a trajetória dos seres humanos
(ou não!) no mundo conturbado em que vivemos e Mantenha Fora do Alcance
do Bebê de Silvia Gomez, reflexão
sobre a natureza humana e da crueldade latente das relações, a autora foi
justamente premiada pela APCA e está indicada ao prêmio Shell.
São
sete textos dentre os 495 já citados o que, repito, é muito pouco, mas a
esperança sempre se renova principalmente levando em conta que boa parte desses
dramaturgos está na faixa dos 30 anos e ainda tem muito a oferecer para o
teatro brasileiro.
Não
tenho dados quantitativos a respeito, mas pelas minhas anotações a temporada
teatral de 2015 mostrou um aumento nas produções com textos estrangeiros em
relação a anos anteriores e os autores que mais compareceram nos cartazes foram
Shakespeare e Matéi Visniec, mas como dizia Júlio Gouveia, isso é uma outra
história que fica para uma outra vez.
Que
venha 2016 e com ele grandes surpresas de nossos criativos dramaturgos. E VIVA
O TEATRO!
26/12/2015