MAIS UMA DO MESTRE ANTUNES
Antunes
Filho volta a surpreender a começar pela escolha de um homem para interpretar
uma das personagens femininas mais importantes e icônicas da dramaturgia
mundial. Ela surgiu em 1947 no teatro norte americano pelas mãos de Jessica
Tandy e foi imortalizada no cinema por Vivien Leigh(1951). No Brasil Blanche
Dubois já foi vivida por Henriette Morineau (1950), Maria Fernanda (1965), Eva
Wilma (1974), Tereza Rachel (1986), Leona Cavalli (2002) e Maria Luisa Mendonça
(2015); agora é a vez de Marcos de Andrade trazer à luz a frágil e sofrida
personagem.
Retomando
e radicalizando a estética de A Falecida
Vapt Vupt encenada em 2009 o encenador volta a apresentar um espetáculo no
Espaço CPT iluminado apenas com as lâmpadas do local, sem uso de refletores e
com reduzidos objetos de cena. O único recurso extra-interpretação usado é a
inserção de algumas músicas para ilustrar a ação (trilha sonora selecionada por
Raul Teixeira). A casa da irmã Stella não tem portas (as cortinas do espaço
servem como tal); a campainha é ouvida pelo som emitido por quem a toca; os atores
mimicam o comer, o beber e o lavar a louça. Tudo se passa como se fosse um ensaio...
mas não é um ensaio! Coisas do Mestre Antunes que como sempre resultam em algo
inovador e surpreendente.
Falado
em fonemol (qual seria a diferença com gromelô?)
a ação torna-se totalmente compreensível para quem conhece a peça de Tennessee
Williams uma vez que esta é seguida quase à risca. Para facilitar o
acompanhamento da trama é fornecido ao público um roteiro com a sinopse da
mesma cena por cena.
Há
a clara intenção de denunciar a violência física e moral com mulheres e
travestis e isso é evidenciado com a ênfase na cena do estupro muito bem
estilizada pelo diretor.
Com
tal radicalismo na encenação a peça exige muito dos atores que são praticamente
o único recurso cênico da mesma. Marcos de Andrade compõe uma Blanche perfeita;
sem afetações e maneirismos inúteis ele comunica ao público a graça e a
fragilidade da personagem emocionando na medida certa. Outro bom destaque é
Alexandre Ferreira com seu patético Mitch. Andressa Cabral se sai bem como
Stella, mas falta a Felipe Hofstatter a brutalidade exigida para interpretar
Stanley Kowalsky, coisa que fica mais patente com o figurino “arrumadinho”
usado por ele (fica difícil acreditar que Stanley use aquele robe de chambre). O restante do elenco
cumpre o seu papel.
Volto a repetir que a interpretação de Marcos de Andrade é tão perfeita que após o
estranhamento inicial, esquecemos que estamos diante de um homem travestido, mas
sim perante uma frágil senhorita perdida, à procura de um bonde chamado desejo.
BLANCHE está em cartaz no Espaço CPT do
Sesc Consolação de quarta a sexta às 20h e aos sábados às 17h até 30 de abril.
22/03/2016
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