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quarta-feira, 13 de abril de 2016

AS ONDAS ou UMA AUTÓPSIA




         No ano de 2002 uma elogiosa crítica do saudoso Alberto Guzik no Jornal da Tarde sobre o espetáculo Loucura ressaltava “Miziara exibe um talento vigoroso.”. Fui conferir aquele trabalho encenado nas escadas do Teatro Brasileiro de Comédia e na ocasião escrevi em meu diário: “Um grande momento de puro teatro e o testemunho do surgimento de um grande ator”. Aquele jovem de 21 anos pertencente à Cia. Elevador Panorâmico de Teatro dirigido por Marcelo Lazzaratto impressionou, tanto o renomado crítico, como o espectador apaixonado que eu era (e ainda sou!) na ocasião.
         Nessa mesma época o jovem ator assistiu ao filme As Horas de Stephen Daldry que mostra o suicídio da escritora Virginia Woolf (interpretada por Nicole Kidman) nas águas do rio Ouse na Inglaterra.
        Quatorze anos se passaram e Gabriel Miziara comprovou o talento revelado naquele espetáculo e nesse período tornou-se um estudioso apaixonado da vida e da obra da escritora inglesa. Se houver alguma dúvida sobre isso basta assistir a As Ondas ou Uma Autópsia, ora em cartaz no Espaço Beta do Sesc Consolação.
         Miziara escolheu o romance As Ondas para tratar do universo de Virginia Woolf focando dentro dele a questão da morte. O romance tem seis personagens e o ator dá voz a quase todas elas sem deixar muito claro de quem se trata, mas isso não é problema para a compreensão da ação visto que uma das personagens do livro diz “não sou uma pessoa, sou muitas; não sei bem quem sou, nem como distinguir minha vida das suas”, conforme revela o elucidativo programa da peça.

Foto de João Caldas

         Literalmente banhado em água (referência também ao suicídio de Woolf) Miziara dá a luz a essas figuras que filosofam sobre a vida e a morte. O desempenho do ator é não menos que magnífico entrando para o rol das grandes interpretações masculinas do ano.
         A cenografia do espetáculo também de autoria do ator é composta de alguns objetos de cena e de chuveiros de água que em conjunto com a iluminação de Aline Santini formam um todo de grande beleza plástica.
         Destaque para o vestido lindo e funcional criado por Fause Haten que Miziara veste e desveste com elegante facilidade.
         Cabe notar também os cuidados da produção do espetáculo (André Canto) no material de divulgação, no programa e nos detalhes do elaborado cenário e demais itens da encenação.
         As Ondas é verdadeiro biscoito fino nessa época de tanta bolacha Maria embolorada. Acessível, mas sem abrir mão de elaborado conteúdo, é prova que o bom teatro paulistano resiste.
         AS ONDAS está em cartaz no Espaço Beta do Sesc Consolação às segundas e terças feiras às 20h até 26 de abril, devendo cumprir uma segunda temporada posteriormente no Viga Espaço Cênico. IMPERDÍVEL.

13/04/2016


         PS: Comprovando a eficiência e o diferencial da Canto Produções acabo de interromper a escrita desta matéria para receber, através de um portador, envelope preto  com convite nominal para assistir à sua nova produção No Coração das Máquinas que estreia no próximo dia 14 de abril na Oficina Cultural Oswald de Andrade.

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