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segunda-feira, 11 de abril de 2016

PLAYGROUND


       


        O texto do norte americano Rajiv Joseph (1974) tem o título de Gruesome Playground Injuries, algo como Danos (físicos ou morais) Terríveis no Playground e o tradutor (Mateus Monteiro) optou pelo título simplificado de Playground. Trata-se da primeira montagem do autor (bastante prestigiado nos Estados Unidos) em palcos brasileiros e é uma grata revelação. A peça mostra os encontros entre Daniel e Karina (Doug e Kayleen, no original) em fases diferentes de suas vidas entre os oito e os 38 anos de idade.
        Por que Playground? Considerando-se o título original e as observações feitas pela espectadora Nadya Milano pode-se interpretar que “playground” é metáfora para o corpo de cada um daqueles dois jovens, pois o que eles mais fazem durante toda a trama é brincarem perigosamente com seus corpos em processo autenticamente autodestrutivo: ele sempre colocando seu corpo em situações de perigo e ela literalmente se mutilando. A peça tem até algumas cenas engraçadas, mas no todo é bastante densa, dramática e triste.
        Marco Antônio Pâmio consolida cada vez mais sua carreira como encenador que já tem algumas características: a delicadeza no tratamento do assunto e o extremo cuidado com os pormenores da produção: movimentação cênica, iluminação, música, figurinos, projeção de imagens fluindo harmoniosamente em direção à interpretação dos atores.
        A trama exige que os atores mudem de figurino (Cassio Brasil) e de maquiagem (Beto França) várias vezes e o que poderia se tornar enfadonho transforma-se em um espetáculo à parte graças à direção do movimento dos atores criada por Marco Aurélio Nunes: o gestual com que os atores trocam de roupa assim como a ação de por e tirar um objeto de cena têm o brilho de passos de balé.

Foto de Leekyung Kim

        As mudanças de cena são costuradas de maneira perfeita pela bela trilha sonora de Gregory Silvar e pelas imagens projetadas ao fundo (edição de vídeo de Gian Marco Delle Sedie).
        Banhando todo esse conjunto temos a precisa iluminação de Aline Santini.
        E quanto aos atores? Lara Hassum encontra na personagem Karina uma oportunidade de mostrar sua versatilidade e seu talento e tem um comovente momento na cena final. O incansável Mateus Monteiro (já chegou a estar em três espetáculos em cartaz na atual temporada) foi quem descobriu o texto, traduziu e tem talvez o melhor desempenho de sua curta, mas já sólida carreira mostrando as nuances de um menino de oito anos, de um jovem que vai se destruindo entre os 18 e os 32 e do homem, antecipadamente velho e acabado, aos 38 anos. Atuando em plena sintonia a dupla renova as esperanças de que o futuro do teatro brasileiro está em boas mãos.

Foto de Leekyung Kim

        Marco Antônio Pâmio, assistido na direção por Gonzaga Pedrosa, orquestra todos esses instrumentos de maneira brilhante oferecendo ao espectador um excelente momento da temporada de 2016.

        PLAYGROUND está em cartaz no Viga Espaço Cênico às sextas (21h30), sábados (21h) e domingos (19h) até 29/05. NÃO DEIXE DE VER.

11/04/2016



3 comentários:

  1. É, de fato, um espetáculo para ser absorvido depois que as luzes se apagam.

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  2. É, de fato, um espetáculo para ser absorvido depois que as luzes se apagam.

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  3. Obrigado pela recomendação, vou ver.....

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