No ano de 2002 uma elogiosa crítica do
saudoso Alberto Guzik no Jornal da Tarde
sobre o espetáculo Loucura ressaltava
“Miziara exibe um talento vigoroso.”. Fui conferir aquele trabalho encenado nas
escadas do Teatro Brasileiro de Comédia e na ocasião escrevi em meu diário: “Um
grande momento de puro teatro e o testemunho do surgimento de um grande ator”.
Aquele jovem de 21 anos pertencente à Cia. Elevador Panorâmico de Teatro
dirigido por Marcelo Lazzaratto impressionou, tanto o renomado crítico, como o
espectador apaixonado que eu era (e ainda sou!) na ocasião.
Nessa mesma época o jovem ator assistiu
ao filme As Horas de Stephen Daldry que
mostra o suicídio da escritora Virginia Woolf (interpretada por Nicole Kidman) nas
águas do rio Ouse na Inglaterra.
Quatorze anos se passaram e Gabriel
Miziara comprovou o talento revelado naquele espetáculo e nesse período tornou-se
um estudioso apaixonado da vida e da obra da escritora inglesa. Se houver
alguma dúvida sobre isso basta assistir a As
Ondas ou Uma Autópsia, ora em
cartaz no Espaço Beta do Sesc Consolação.
Miziara escolheu o romance As Ondas para tratar do universo de
Virginia Woolf focando dentro dele a questão da morte. O romance tem seis
personagens e o ator dá voz a quase todas elas sem deixar muito claro de quem
se trata, mas isso não é problema para a compreensão da ação visto que uma das
personagens do livro diz “não sou uma pessoa, sou muitas; não sei bem quem sou,
nem como distinguir minha vida das suas”, conforme revela o elucidativo programa
da peça.
Foto de João Caldas
Literalmente banhado em água
(referência também ao suicídio de Woolf) Miziara dá a luz a essas figuras que
filosofam sobre a vida e a morte. O desempenho do ator é não menos que
magnífico entrando para o rol das grandes interpretações masculinas do ano.
A cenografia do espetáculo também de
autoria do ator é composta de alguns objetos de cena e de chuveiros de água que
em conjunto com a iluminação de Aline Santini formam um todo de grande beleza
plástica.
Destaque para o vestido lindo e funcional
criado por Fause Haten que Miziara veste e desveste com elegante facilidade.
Cabe notar também os cuidados da
produção do espetáculo (André Canto) no material de divulgação, no programa e
nos detalhes do elaborado cenário e demais itens da encenação.
As
Ondas é verdadeiro biscoito fino nessa época de tanta bolacha Maria
embolorada. Acessível, mas sem abrir mão de elaborado conteúdo, é prova que o
bom teatro paulistano resiste.
AS
ONDAS está em cartaz no Espaço Beta do Sesc Consolação às segundas e terças
feiras às 20h até 26 de abril, devendo cumprir uma segunda temporada
posteriormente no Viga Espaço Cênico. IMPERDÍVEL.
13/04/2016
PS: Comprovando a eficiência e o
diferencial da Canto Produções acabo
de interromper a escrita desta matéria para receber, através de um portador, envelope
preto com convite nominal para assistir
à sua nova produção No Coração das Máquinas que estreia no próximo dia
14 de abril na Oficina Cultural Oswald de Andrade.
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