É
quase inacreditável a quantidade de grupos e espaços sérios que se escondem
nesta nossa imensa metrópole! Sem me considerar a pessoa melhor informada sobre
as atividades teatrais que acontecem em São Paulo, posso afirmar que procuro
estar a par e assistir ao maior número de trabalhos que acontecem na cidade,
tanto na zona central, como na periferia.
Na
última quinta-feira dose dupla de boas surpresas: o espaço da Oficina
MetaCultural e o grupo do Estúdio Fita Crepe SP – Ateliê de Som e Movimento.
A
Oficina MetaCultural é um aconchegante espaço localizado na Rua 13 de Maio, 120
que oferece oficinas e dispõe de flexível espaço teatral. O café é simpático e
os preços bastante justos.
Foi
ali que assisti a Fílon – O Teatro do
Mundo, criação dos mentores do Fita Crepe: Kenia Dias e Ricardo Garcia.
Como indica o nome do Estúdio, o grupo trabalha com a influência dos sons
criados por Ricardo nos movimentos do corpo trabalhados por Kenia ou
vice-versa.
O
mote do espetáculo é a história em quadrinhos homônima dos portugueses José
Carlos Fernandes e Luis Henriques que por sua vez é inspirada no poema Vida na Expectativa da poetisa polonesa
Wislawa Szymborska, ganhadora do Prêmio Nobel. Trata-se de trabalho
experimental bastante radical, mais para ser sentido do que para ser
compreendido.
Em
cena dois performers/dançarinos/atores ilustram a trama. A princípio em espaço
ilimitado eles se movimentam à vontade. O chamado “ponto” (seria referência aos
antigos pontos que sopravam o texto quando os atores esqueciam as suas falas?)
inicia a delimitação do espaço com fita crepe (seria referência ao nome do
grupo?) e a dupla não transpõe os novos espaços oferecidos. O ponto/manipulador
discorre sobre tudo, oferece elementos e a dupla obedece cegamente em aparente
bem estar. Ao perder seus manipuladores as marionetes ficam perdidas e
despencam. O espaço lhes é devolvido com a retirada da fita crepe, mas eles já
não conseguem mais sair do lugar.
Esses
seres/marionetes habitantes de Filon são interpretados de maneira visceral por
Allyson Amaral e Ana Paula Lopez, presenças impressionantes na coreografia e
nas expressões corporal, facial e vocal.
Ricardo
Garcia opera a luz e o som criado por ele e Kenia Dias manipula as personagens
limitando os espaços, distribuindo objetos e falando com voz propositalmente
fria e metálica que é emitida através das fontes de luz.
O
radicalismo da concepção de Fílon
impressiona e surpreende e deve ser experimentado por quem acredita na
necessária renovação da linguagem desse senhor chamado teatro.
27/11/2016
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