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sexta-feira, 24 de maio de 2019

O HOMEM-MEGA-FONE/A ARTE DO REENCONTRO




(Matéria teatral-afetiva)

        Entre o final de 2015 e o início de 2016 acompanhei o processo de ensaios e as apresentações de duas peças da Companhia Teatro da Investigação (CTI), minha função era escrever um relato sobre o processo do grupo desde o ensaio até as apresentações. Foram quase seis meses de convívio profícuo e amistoso. Essa convivência está registrada no já citado relato e na centena de fotos que fiz na ocasião.
        A vida nos leva e traz e durante os últimos três anos acabei perdendo o contato com grupo, apesar de ter notícias sobre ele e sobre a inauguração da sede própria na Vila Ré.
        Finalmente ontem tive a oportunidade de conhecer a sede, reencontrar amigos e assistir ao espetáculo O Homem-Mega-Fone.

        A sede é composta de uma casa que abriga biblioteca e camarins e de um generoso galpão onde são feitas as apresentações.


        A peça O Homem-Mega-Fone foi escrita por Edu Brisa em 2009 enquanto ele participava do Seminário de Dramaturgia realizado pelo saudoso Chico de Assis (1933-2015) e tem suas raízes no teatro popular do importante CPC (Centro Popular de Cultura) que foi esmagado pela funesta ditadura imposta ao Brasil em 1964.
        De caráter épico a peça mostra grupo de habitantes de um grande centro urbano que vive de catar e vender papelão usando para isso um megafone para “ofertar os seus produtos”. Um desses homens resolve se candidatar a vereador e numa troca de favores (sempre em seu benefício) entrega o megafone a um menino ingênuo e cheio de boas intenções. A disputa pelo objeto e a ascensão do candidato inescrupuloso que compra adesões e até sentimentos são os temas da peça. As entre cenas são recheadas com poderosa percussão produzida pelo próprio elenco com inusitados objetos (panelas, canecas e tambores) e por números de rap que comentam a ação. Mérito para a direção musical de Fernando Alabê e para as preparações corporal e vocal assinadas por Carlos Simioni.            
        A encenação de Carol Guimaris é dinâmica permeando cenas da trama em si com os já citados recursos sonoros A movimentação cênica dos atores junto com a carroça revela-se como atraente coreografia que aguça o olhar do espectador.
        O elenco homogêneo e cheio de energia mostra mais uma vez a militância do grupo e não há como não destacar o trabalho de Geovane Fermac que, apesar da idade, convence como o garoto que tem um fim trágico para a felicidade geral da nação.

        Foi com grande alegria que reencontrei os queridos Cris Camilo, Geovane Fermac, Carol Guimaris, Edu Brisa e Harry de Castro e também fiquei feliz ao saber que outro querido, o Guguigon (Gustavo Guimarães), agora faz parte do grupo. De lambuja, além dos abraços, o público é presenteado com um exemplar do livro A Dramaturgia do Teatro-Baile do Edu Brisa e com mais de um gole do delicioso cariri, “bebida oficial do grupo”.
       
        O HOMEM-MEGA-FONE está em cartaz na sede da CTI na Rua Oti, 212 na Vila Ré a cinco minutos da Estação Patriarca do metrô. Sessões de quinta a sábado às 20h até 29 de junho.

        O teatro realizado por vários grupos na periferia da cidade merece maior atenção tanto pelo serviço político, social e cultural prestado às comunidades como também pela qualidade de seus trabalhos. Vale a pena sair da acomodação na Broadway paulistana e estender o olhar para além dessa zona de conforto. Resta saber se uma maior divulgação nos guias de teatro levaria mais público a esses espetáculos.

O TEATRO NOS UNE
O TEATRO NOS TORNA FORTES
VIVA O TEATRO!

        24/05/2019


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