(Matéria teatral-afetiva)
Entre
o final de 2015 e o início de 2016 acompanhei o processo de ensaios e as
apresentações de duas peças da Companhia
Teatro da Investigação (CTI),
minha função era escrever um relato sobre o processo do grupo desde o ensaio
até as apresentações. Foram quase seis meses de convívio profícuo e amistoso.
Essa convivência está registrada no já citado relato e na centena de fotos que
fiz na ocasião.
A
vida nos leva e traz e durante os últimos três anos acabei perdendo o contato
com grupo, apesar de ter notícias sobre ele e sobre a inauguração da sede
própria na Vila Ré.
Finalmente
ontem tive a oportunidade de conhecer a sede, reencontrar amigos e assistir ao
espetáculo O Homem-Mega-Fone.
A
sede é composta de uma casa que abriga biblioteca e camarins e de um generoso
galpão onde são feitas as apresentações.
A
peça O Homem-Mega-Fone foi escrita
por Edu Brisa em 2009 enquanto ele participava do Seminário de Dramaturgia realizado pelo saudoso Chico de Assis
(1933-2015) e tem suas raízes no teatro popular do importante CPC (Centro Popular
de Cultura) que foi esmagado pela funesta ditadura imposta ao Brasil em 1964.
De
caráter épico a peça mostra grupo de habitantes de um grande centro urbano que
vive de catar e vender papelão usando para isso um megafone para “ofertar os
seus produtos”. Um desses homens resolve se candidatar a vereador e numa troca
de favores (sempre em seu benefício) entrega o megafone a um menino ingênuo e
cheio de boas intenções. A disputa pelo objeto e a ascensão do candidato
inescrupuloso que compra adesões e até sentimentos são os temas da peça. As entre
cenas são recheadas com poderosa percussão produzida pelo próprio elenco com
inusitados objetos (panelas, canecas e tambores) e por números de rap que
comentam a ação. Mérito para a direção musical de Fernando Alabê e para as
preparações corporal e vocal assinadas por Carlos Simioni.
A encenação de Carol Guimaris é
dinâmica permeando cenas da trama em si com os já citados recursos sonoros A
movimentação cênica dos atores junto com a carroça revela-se como atraente
coreografia que aguça o olhar do espectador.
O
elenco homogêneo e cheio de energia mostra mais uma vez a militância do grupo e
não há como não destacar o trabalho de Geovane Fermac que, apesar da idade,
convence como o garoto que tem um fim trágico para a felicidade geral da nação.
Foi
com grande alegria que reencontrei os queridos Cris Camilo, Geovane Fermac,
Carol Guimaris, Edu Brisa e Harry de Castro e também fiquei feliz ao saber que
outro querido, o Guguigon (Gustavo Guimarães), agora faz parte do grupo. De
lambuja, além dos abraços, o público é presenteado com um exemplar do livro A Dramaturgia do Teatro-Baile do Edu
Brisa e com mais de um gole do delicioso cariri, “bebida oficial do grupo”.
O
HOMEM-MEGA-FONE está em cartaz na sede da CTI na Rua Oti, 212 na Vila Ré a
cinco minutos da Estação Patriarca do metrô. Sessões de quinta a sábado às 20h
até 29 de junho.
O
teatro realizado por vários grupos na periferia da cidade merece maior atenção
tanto pelo serviço político, social e cultural prestado às comunidades como
também pela qualidade de seus trabalhos. Vale a pena sair da acomodação na
Broadway paulistana e estender o olhar para além dessa zona de conforto. Resta
saber se uma maior divulgação nos guias de teatro levaria mais público a esses
espetáculos.
O TEATRO NOS UNE
O TEATRO NOS TORNA FORTES
VIVA O TEATRO!
24/05/2019
Nenhum comentário:
Postar um comentário