Páginas

sábado, 21 de setembro de 2019

ALMA DESPEJADA





       Com seu talento e suas técnicas e experiências teatrais, Irene Ravache domina e preenche com tranquilidade o imenso palco do Teatro Porto Seguro. Ela nos faz ver a família, os móveis e a empregada que habitaram aquela casa hoje vazia e prestes a ser transformada ou até demolida. Dona Teresa está morta e visita a casa pela última vez e nesse aspecto a peça dialoga com Quando Tudo Estiver Pronto do dramaturgo americano Donald Margulies que esteve em cartaz até a pouco em São Paulo. Irene Ravache, com sua interpretação segura e contida, conduz as emoções dos espectadores em suas mãos.
       O cenário de Fábio Namatame preenche o espaço com as caixas dos móveis e objetos que, assim como a alma da antiga dona da casa, serão despejados. Um imenso painel ao fundo da cena tem uma árvore pintada, bonita, mas quase brega, como a fonte que Teresa diz ter na entrada da casa. Namatame também assina o sóbrio modelo vestido pela atriz.
       Solos de violoncelo (autoria de George Freire e Daniel Grajew) e uma suave iluminação de Hiram Ravache ilustram e complementam os humores e sentimentos pelos quais a personagem passa durante a ação da peça.
      Com muita delicadeza Elias Andreato harmoniza todos esses elementos junto com a soberba interpretação de Irene Ravache, presenteando o público com pouco mais de uma hora de bom teatro.
       Tudo funciona no espetáculo, mas a maior atração é o texto de Andréa Bassit. Com construção dramatúrgica enxuta e perfeita, Andréa dribla o que poderia haver de melancólico no tema, tratando-o com humor delicado e certeiro, além de não deixar de mencionar coisas importantes dos tempos atuais como a posição da mulher na sociedade e a corrupção dos políticos, uma das maiores feridas do nosso país.

       ALMA DESPEJADA está em cartaz no Teatro Porto Seguro às quartas e quintas feiras às 21h até 28/11.

       21/09/2019

      

Um comentário: