Com
seu talento e suas técnicas e experiências teatrais, Irene Ravache domina e
preenche com tranquilidade o imenso palco do Teatro Porto Seguro. Ela nos faz
ver a família, os móveis e a empregada que habitaram aquela casa hoje vazia e
prestes a ser transformada ou até demolida. Dona Teresa está morta e visita a
casa pela última vez e nesse aspecto a peça dialoga com Quando Tudo Estiver Pronto
do dramaturgo americano Donald Margulies que esteve em cartaz até a pouco em
São Paulo. Irene Ravache, com sua interpretação segura e contida, conduz as
emoções dos espectadores em suas mãos.
O
cenário de Fábio Namatame preenche o espaço com as caixas dos móveis e objetos
que, assim como a alma da antiga dona da casa, serão despejados. Um imenso
painel ao fundo da cena tem uma árvore pintada, bonita, mas quase brega, como a
fonte que Teresa diz ter na entrada da casa. Namatame também assina o sóbrio
modelo vestido pela atriz.
Solos
de violoncelo (autoria de George Freire e Daniel Grajew) e uma suave iluminação
de Hiram Ravache ilustram e complementam os humores e sentimentos pelos quais a
personagem passa durante a ação da peça.
Com
muita delicadeza Elias Andreato harmoniza todos esses elementos junto com a
soberba interpretação de Irene Ravache, presenteando o público com pouco mais
de uma hora de bom teatro.
Tudo
funciona no espetáculo, mas a maior atração é o texto de Andréa Bassit. Com
construção dramatúrgica enxuta e perfeita, Andréa dribla o que poderia haver de
melancólico no tema, tratando-o com humor delicado e certeiro, além de não
deixar de mencionar coisas importantes dos tempos atuais como a posição da
mulher na sociedade e a corrupção dos políticos, uma das maiores feridas do
nosso país.
ALMA
DESPEJADA está em cartaz no Teatro Porto Seguro às quartas e quintas feiras às
21h até 28/11.
21/09/2019
Muito bom Zé, bela crítica.
ResponderExcluir