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domingo, 22 de setembro de 2019

INHAÍ – COISA DE VIADO



       Os desavisados que não conhecem Sylvety Montilla podem pensar que se trata de uma peça de temática indígena; aqueles outros que se concentram apenas no título talvez pensem que se trata de uma brincadeirinha gay com trejeitos e dublagens da Donna Summer.
       Inhaí diverte sim, mas também faz pensar! Ao entrar no espaço cênico o público se encontra com os três alegres atores vestidos com macacões que têm a cor da pele do quase homônimo animal, a seguir, dançando e cantando no melhor estilo gay, eles se apresentam para depois dar algumas versões da origem de se chamar homossexual masculino de viado. O animal veado surge a seguir numa verdadeira aula de seus usos e costumes, sendo que a união na luta contra as adversidades presente na raça pode e deve ser um símbolo para a união entre os homossexuais e as minorias.
       No melhor estilo de teatro documentário, o espetáculo mostra por meio das pesquisas realizadas pelo grupo, o preconceito, a perseguição e o extermínio de viados, coisa que vem desde a época dos jesuítas portugueses que explodiram um índio homossexual na boca de um canhão, sendo que para os índios a homossexualidade era uma coisa normal. Triste mundo dito civilizado!
       Por meio de fatos reais e histórias fictícias, incluindo uma delicada e gostosa participação da plateia, os versáteis Fernando Pivotto, Alexia Twister e Cayke Scalloni entretém o receptivo público por hora e meia, divertindo e fazendo pensar não só sobre o mundo gay, mas sobre a intolerância cada vez mais presente na sociedade brasileira. Alguns assuntos bastante pertinentes como a AIDS e a tal de “cura gay”, não são tratados da peça; fato bem observado por Pivotto que em certo momento comenta que ali há apenas um recorte sobre o assunto e que outros recortes devem ser procurados e pesquisados. Inhaí, não é só coisa de viado, é coisa de gente de uma maneira geral. A peça precisa atingir um público além da bolha. ISSO É MUITO NECESSÁRIO!
       Não há como não citar a discreta, mas bastante segura direção do estreante Cezar Zabelli que consegue equilibrar o espetáculo entre seus momentos divertidos e aqueles sérios e documentais.

       INHAÍ-COISA DE VIADO está em cartaz no Teatro Pequeno Ato só até o próximo fim de semana. Sexta e sábado às 21h. NÃO DEIXE DE VER, ou você (viado ou não) tem algum preconceito??
 
      OBS: Um bom complemento para este espetáculo é o livro Devassos no Paraíso de João Silvério Trevisan, recém reeditado.
 

       22/09/2019

 

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