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segunda-feira, 23 de setembro de 2019

EU DE VOCÊ



1.   Uma introdução

         Tenho um amigo, figura influente de nosso teatro, que abomina monólogo. Argumenta que monólogo não é teatro e que os pouquíssimos bons monólogos a que assistiu eram exceções que comprovavam a regra!
        Até a metade da década de 1960 eram raras as montagens com menos de três atores. Os espetáculos do TBC e mesmo do Arena e do Oficina tinham elencos numerosos. O único monólogo que marcou época nesse início de década foi Diário de Um Louco (1965) na interpretação do grande Rubens Corrêa.
        O sucesso em 1969 de O Cão Siamês de Antonio Bivar (posteriormente rebatizada como Alzira Power) - com uma interpretação antológica de Yolanda Cardoso - e as dificuldades de produção devido à eterna crise do teatro, agora intensificada pela ação da censura, levaram alguns autores a escreverem textos com duas personagens, entre eles algumas obras primas, como O Assalto de José Vicente e, principalmente, Fala Baixo Senão Eu Grito de Leilah Assumpção, com Marília Pêra e Paulo Villaça. Completavam a lista desse ano: As Moças de Isabel Câmara e À Flor da Pele de Consuelo de Castro, mas os monólogos continuavam raros. Só nos anos 1970 é que eles marcam presença com A Vinda do Messias (1970) com Berta Zemel e Apareceu a Margarida (1974), momento maior de Marília Pêra.
        Com pouca incidência até o final do milênio, o monólogo atinge força total na segunda metade da segunda década deste século atingindo a considerável número de uma centena de espetáculos por ano (cerca de 20% do total de peças apresentadas nos palcos paulistanos). Alguns excelentes, outros razoáveis e outros francamente ruins, como qualquer outro espetáculo quer seja monólogo ou não. 

2.   Eu de Você

        Denise Fraga aderiu ao monólogo e o faz com seu talento e sua graça habituais. Dirigida por Luiz Villaça, ela foi buscar em relatos de pessoas comuns, as histórias que compõem o novo espetáculo. Acompanhada por um trio de músicas, Denise interpreta, canta e dança em cena mostrando com muita humanidade os dramas e comédias de seres humanos iguais a ela, a mim e a você. Os relatos sofreram tratamento dramatúrgico e o texto final assinado a seis mãos por Rafael Gomes, Denise e Villaça apresenta-se coeso e harmonioso.
        O espaço cênico contém três telões onde são projetadas fotos das pessoas que enviaram suas narrativas e a iluminação de Wagner Antônio colore esses telões nos momentos adequados a cada emoção. Esses elementos mais a participação preciosa das três músicas (Fernanda Maia, piano; Clara Bastos, guitarra e Priscila Brigante, bateria) são os recursos disponíveis e o resto é com Denise Fraga que circula pela plateia, interage com o público fazendo-o até cantar.
        E já que escrevemos sobre monólogos é bom lembrar que na mesma semana estreou no Teatro Porto Seguro Alma Despejada com Irene Ravache. Mais uma exceção para comprovar a regra do meu amigo???


3.   O novo Teatro Vivo 

        E o Teatro Vivo está de cara nova! A sala de espera bem mais iluminada; a sala de espetáculos e o palco dão a impressão de terem ficado mais amplos, além de significativa melhoria na acústica. É uma felicidade ver uma empresa privada investindo em cultura. Viva a Vivo!!

        Na reabertura da casa, Eu de Você, que é apresentada às sextas (20h), aos sábados (21h) e aos domingos (19h) está em boa companhia: o excelente espetáculo Ordinários da Cia. LaMínima apresenta-se às quartas e às quintas (20h).


(*) Endereços das matérias sobre esses espetáculos.

        23/09/2019

       

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