Páginas

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

PUSH UP




        O que acontece quando surge uma vaga que representa promoção e perspectivas de ascensão ao topo do organograma de uma grande empresa? Os ânimos se inflamam, a competividade fica à flor da pele e são usadas estratégias nem sempre éticas para se conseguir o posto almejado. É disso que trata a peça de Roland Schimmelpfennig (1967 -), dramaturgo alemão pela primeira vez montado no Brasil.
 
O autor Roland Schimmelpfennig

        É interessante e original a maneira como Schimmelpfennig conduz a narrativa, usando em seu drama realista recursos de distanciamento tão caros ao teatro épico como as quebras de diálogo.
        São apresentadas três situações todas elas envolvendo duplas de personagens. Essas situações são sempre testemunhadas por dois funcionários da segurança da empresa que funcionam como uma espécie de narradores e fios condutores da trama. Há uma espécie de coro sem palavras que comenta a ação, formado por aqueles que não estão na cena; esse coro sobe e desce uma escada para entrar e sair de cena em recurso a princípio interessante, mas que pelas inúmeras vezes que ocorre acaba se tornando repetitivo e previsível. 
        O elenco de oito atores é bastante homogêneo e cada ator tem seu momento de destaque tanto nos monólogos dos vigias (Karlla Braga e Fabio Acorsi) como nos saborosos duetos: da frustrada presidente da empresa (Antoniela Canto) com a funcionária (Sabine Vasconcellos) que pleiteia uma vaga em Nova Dehli e para tanto já transou com o chefão, marido da presidente; do chefe e funcionária que já tiveram o melhor sexo de suas vidas e agora se odeiam (Isabella Lemos e Daniel Faleiros Migliano) e do chefe e funcionário, ambos candidatos à vaga de Nova Dehli (Fulvio Filho e João Bourbonnais). Esses embates de tão cruéis chegam a ser cômicos e o elenco sabe tirar partido das nuances de seus personagens.
        A direção de César Baptista tem seus pilares no desempenho do elenco, de sua movimentação em cena, no eficiente desenho de luz de Wagner Pinto e, principalmente, no objetivo de passar com a maior clareza o bom texto de Schimmelpfennig, que extrapola o cenário empresarial para mostrar que o ser humano da contemporaneidade tornou-se ainda mais individualista e competitivo, esquecendo-se da humanidade que deveria reger os relacionamentos humanos. Utopia? Pode ser. Mas a arte tem que buscar o utópico possível, como já disse Ariane Mnouchkine.

        PUSH UP está em cartaz no Viga Espaço Cênico às terças e quartas às 21h até 18/12.

        07/11/2019

       

         

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário