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segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

UM PASSEIO NO BOSQUE



        No melhor dos sentidos, ares beckettianos e, em especial, de Esperando Godot, rondam aqueles passeios nos bosques suíços de dois diplomatas, um russo e outro norte americano que discutem, ao longo de intermináveis estações do ano, caminhos para o desarmamento e para a almejada, mas nunca encontrada, paz mundial. Paz? Godot? Tudo a ver!
        O texto de Lee Blessing fortalece-se com os diálogos ágeis e fluentes, que permitem até certos momentos de leveza e humor, apesar de tratar de assunto árido e com alta carga dramática. O texto, aliás, vai muito além disso, onde os dois homens (antagônicos ou os dois lados de qualquer ser humano) discutem o sentido da vida e os destinos da humanidade.
        Emílio Di Biasi dirigiu e atuou como o russo numa bela montagem acontecida no ano 2000 no Teatro Alfa, onde Beto Bellini interpretava o norte americano. Desta vez Bellini encarrega-se da personagem do diplomata russo deixando para o jovem e talentoso Gustavo Merighi o papel do norte americano.
        Em seu livro Teatro, David Mamet comenta que “o teste de um bom cenário é: ele é melhor do que o palco nu?”. Para que encher o palco de penduricalhos quando o essencial é a imaginação do espectador? Marcelo Lazzaratto segue a risca esse conceito colocando apenas um banco no amplo espaço cênico do Elevador e com poucos recursos de luz (também de sua autoria), de figurino (Ricardo Pettine) e com apenas dois adereços (uma folha e uma flor) divide o espetáculo nas quatro estações do ano onde a ação acontece. A direção de Lazzaratto é precisa e totalmente concentrada no trabalho dos atores.
 
 
        Beto Bellini tem autoridade e excelente voz para interpretar Andrey, o diplomata russo já há muito tempo exercendo essa função e consciente da ineficácia dessas negociações. A juventude e o porte físico de Gustavo Merighi contribuem para a excelente composição de John, o norte americano a princípio tímido e inseguro, que ainda tem esperança que a paz possa ser negociada.
        O belo dispositivo colocado à frente da cena representaria o equilíbrio das forças e dos pensamentos? O martelo ali colocado poderia representar o elemento que romperia esse equilíbrio? Para este desavisado redator, não ficou clara a simbologia do dispositivo.

        Texto, direção e atores da melhor qualidade. Querer mais é ser guloso!

        UM PASSEIO NO BOSQUE ainda tem três sessões neste ano no Espaço Elevador: Sexta e sábado (21h) e domingo (19h). Até 22/12. NÃO DEIXE DE VER.

        16/12/2019

 

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