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quarta-feira, 28 de abril de 2021

PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DOS VULCÕES

 

Foto de Lienio Medeiros

A Kiwi Companhia de Teatro mudou seu nome para outro que está mais de acordo com seu pensamento político-ideológico: agora denomina-se Coletivo Comum.

O grupo formado  por Fernanda Azevedo, Beatriz Calló, Daniela Embón e Fernando Kinas está de volta com Os Grandes Vulcões, espetáculo batizado por eles de vídeo teatro, pois mescla de maneira extremamente harmoniosa as linguagens teatral e audiovisual.

A peça tem a mesma estrutura de Material Bond que o grupo montou em 2017 a partir da obra de Edward Bond. Agora a referência é o discurso que o também dramaturgo inglês Harold Pinter (1930-2008) fez ao receber o Prêmio Nobel de Literatura em 2005; discurso virulento denunciando a política externa dos Estados Unidos com a colaboração, ou no mínimo, a aquiescência, da Grã Bretanha. Engenhosamente a peça fala também do discurso (de certa forma, também virulento) que a atriz Fernanda Azevedo proferiu ao receber o Prêmio Shell como melhor atriz de 2013. A sagaz dramaturgia coloca a atriz em cena como Harold Pinter e como ela mesma, desta vez uma personagem.

Por falar em engenhosidade da encenação de Fernando Kinas, louvem-se as inserções de imagens e a trilha sonora que comentam a ação e criam um benéfico efeito de distanciamento que faz com que o espectador reflita sobre o que está vendo durante o próprio ato da recepção.

O título da peça faz referência a um poema de Pablo Neruda que dialoga com aquele de Bertolt Brecht que diz “Que tempo é este em que uma conversa sobre árvores chega a ser uma falta, pois implica em silenciar sobre tantos crimes?”. Pois é, Fernanda e Fernando põem mais uma vez a mão na ferida denunciando e explicitando as mazelas em que este país se chafurdou, fazem isso, porém, com leveza e bom humor o que torna a denúncia ainda mais potente.

A interpretação de Fernanda Azevedo é impecável, transitando harmoniosamente entre as personagens, mas dificilmente será indicada como melhor atriz para determinado prêmio de teatro.

Colaboram para o sucesso da empreitada o belo cenário de Julio Dojscar onde um globo terrestre ilustra temas tratados na peça, a iluminação de Clébio Ferreira e a importantíssima direção de vídeo de Thiago B. Mendonça.

O final da peça com a atriz se desenvencilhando das personagens e abandonando o teatro é belíssimo e dão um significativo ponto final ao trabalho de estreia do Coletivo Comum, ao qual desejo longa vida. 

GRANDES VULCÕES faz sua última apresentação HOJE, DIA 28 às 20h. CORRA PARA ASSISTIR.

Transmissão pelos canais do Coletivo no Facebook e no YouTube:

www.facebook.com/coletivocomum

www.youtube.com.br/kiwicompanhiadeteatrocoletivocomum 

28/04/2021

 

Um comentário:

  1. Cetra querido, muito obrigada pelo texto. Além de ser um prazer dialogar contigo é muito importante para pensarmos sobre os trabalhos da Companhia ler o que críticos escrevem sobre nossas ações e processos artísticos. beijos e continuemos todes firmes e fortes (porque precisaremos).

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